terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Abraço de Adriana


Essa imagem está a correr nas redes sociais e alguns até consideram que se tornou um símbolo. Publicada em vários sites internacionais, mostra a jovem (tem 18 anos, é de Lagos), de cabelos longos, abraçada a um agente (Sérgio) do corpo de intervenção de capacete e viseira fechada na manifestação em Lisboa no dia 15 de Setembro.
 
José Manuel Ribeiro, fotojornalista da Reuters, estava no local. “Saí da Praça José Fontana [onde começou a manifestação] e tinha decidido que ficaria junto aos escritórios do FMI porque achava que seria ali que podia acontecer alguma coisa mais grave. A certa altura vi um vulto a dirigir-se a um polícia e pensei: ‘É agora!’ Rodeei outro agente e fotografei. Não estava à espera que fosse um abraço”, conta. Enviou a imagem. Continuou a trabalhar. E só mais tarde percebeu que tinha sido destacada pela Reuters. “Quando cheguei a casa de madrugada percebi que tinha sido publicada na Nova Zelândia” e no dia seguinte viu-a nas páginas do jornal brasileiro O Globo.
“Decidi à última juntar-me à manifestação” contra as medidas de austeridade. “Estava a gostar de ver o povo unido, apesar de eu não ser de gritar. Mas é bonito ver o povo unido por uma causa.”
Quando percorria com centenas de milhares de outras pessoas a Avenida da República percebeu “que havia confusão” num certo ponto. “Soube então que estava ao pé do FMI. Aproximei-me porque tinha curiosidade. Estava só ali, a observar a reacção dos polícias porque sei que por detrás deles há muito poder e que eles são marionetas. Estão ali porque recebem dinheiro para alimentar os filhos. Às vezes vemos os polícias partir para a violência e aproximei-me porque queria perceber o que é que eles eram capazes de fazer. Porque eles também são o povo, também estão a ser prejudicados com as medidas [do Governo].”
A certa altura, fixou-se num agente em particular. “Já tinha sido lançada uma bomba de fumo”, diz. “Já tinha olhado para ele, quando ele ainda não tinha a viseira. Tinha um olhar triste. Mas tinha um olhar aberto também. Sou muito sensível nestas coisas”, conta a aluna de Artes Visuais. “Fui ter com ele e perguntei-lhe: ‘Por que é que vocês estão aqui? Para provocar alguma reacção má?’ Ele disse: ‘É o meu trabalho.’ Depois perguntei: ‘Não gostava de estar deste lado?’ E ele não respondeu. Olhou em frente.”
Adriana voltou a afastar-se, os gritos à sua volta continuavam, depois pensou: “Pensei uma, duas, três vezes. E aproximei-me dele. Acredito que se der amor, recebo amor. E foi por isso. Queria ter um gesto de amor. Queria ter uma reacção boa naquele momento, não quero ter sentimentos maus. Aproximei-me dele, abracei-o. Ele ficou estático. Depois afastou-se suavemente. Não me afastou, afastou-se.”
Retirado de vários orgãos de comunicação social

 

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