Parâmio |
Hirondino Fernandes é um dos mais
profícuos investigadores que as serras transmontanas algum dia viram.
Hoje (oito de
Junho), às 15h00 é lançado o seu segundo volume (seguido de debate) da
“Bibliografia do Distrito de Bragança” -
obra monumental com 30 anos (ou mais) de
estudo profundo, muitas vezes em condições muito dificeis -, que ainda não
conseguimos consultar (assim como o primeiro)[1] . Talvez lá para Agosto o
possamos fazer na Biblioteca Nacional.
O evento vai ter
lugar no Auditório Professor Adriano Moreira, no programa Artes / Livros,
organizado pela Câmara Municipal de Bragança e pela Academia de Letras.
Da sua pena saiu
este admirável texto[2], dedicado a Amigo de ambos, já na Eternidade. Que lá
descanse como nunca junto dos homens o fez.
O exórdio do
falecido Dr. Fernando Subtil, que Hirondino Fernandes transcreve no seu texto,
sublinhado por nós a azul, é de uma
actualidade assombrosa. Há acções que adquirem o foro de “patifaria”. [Tempo Caminhado: BRAGANÇA - Bernardino Henriques e Carlos ...]. “Adiante
… que atrás vem gente!”.
Há muito que
seguimos a escrita de H.F. Aqui mesmo ao lado, na nossa secretária de trabalho
(se é que isto se pode considerar uma secretária) temos uma vellha Brigantia de 1985 (Vol V, nº 1, pp.
181-188) onde estão incrustados alguns Apontamentos Para Um Visitante, sobre o
Parâmio, que inicia com a problemática etimologica, para logo no sexto
parágrafo acrescentar: “ Se gostaram do local e não mais o largaram ou se,
terminado o repasto … foram bater à porta de melhor estalagem …”. E segue por
aí fora numa linguagem muito própria e encantadora.
Armando Palavras
Vá lá um saber quando foi!… foi há um ror de anos,
sobretudo se medidos/contados pelo “gosto amargo” que Garrett cantou!…
Hirondino Fernandes |
Tínhamos dado um pulo até Vila Arçã, para espairecer …
respirar o ar ainda mais ou menos puro dos nossos montes, beber a água ainda
mais ou menos cristalina das nossas (algumas) fontes e, é claro, cumprimentar
meia dúzia de amigos — e, forçosamente, tratar da BdB, que há mais de “vinte” e de “trinta” anos, como diria
Junqueiro, até mais de quarenta, um bô catcho!, que nos não larga, “nem de
noite / nem de dia / nem à hora do mei
dia”.
Estugando o passo, caderno de notas debaixo do braço —
para a poesia e para o jornal —, nos
lábios a alegria de sempre e na alma sempre o sonho de mais-além, pouco passava
da hora combinada quando entrou no velho Café Central (Bragança), onde também
não havia muito que nos havíamos sentado à sua espera.
Um xi-coração, do tamanho das saudades que tínhamos em o
(/nos) ver(/mos), que eram muito mais que muitas, e estava aberta a sessão:
apresentação das grandes ocorrências do longo interlúnio que nos havia
separado, generalidades sobre a BdB,
análise da sua ficha, uma ficha “de alto lá c’o charuto”, diga-se desde já, em bom
abono da boa verdade — não sei nem importa se mais algum assunto e pronto, encerrada a sessão com o “modus
faciendi” de solucionar dúvidas que sempre haverá, às mãos cheias, a par com
meia solução para uma delas, a de quem era um tal Armando Palavras que, a cada
passo, nos saltava no meio dos seus jornais.
Solucionou-se, ou p’r’ò quajo que sim, esta dúvida,
acertámos umas duas ou três vírgulas e por aqui nos quedámos, para sempre.
Desgraçadamente para sempre, — porque o velho Colega, querido Amigo Fernando
Subtil, de quem as Letras tanto esperavam ainda, e de cuja amizade os amigos
tantíssimo precisávamos, pouco tempo depois resolveu deixar-nos … para sempre!
Sem apelo nem agravo, para sempre!
… mas nós havemos de ir bater-lhe à porta, “qualquera”
dia, ai não se não vamos! E ele vai receber-nos, que ‘romédio’ tem!…
Ficara sabido quem era o dito Armando Palavras, mas
chegar à fala com este Senhor Professor Doutor (a partir de há dias),
incumbência relegada para mais tarde, é que se tornou num bico-d’-obra, que
‘não sei se te diga ou se te conte’: colaborava num jornal lá não sei onde, nos
confins de Vila Real — e ‘òsdespois’ era sempre o mesmo (sem ofensa) pita choca
que ouvíamos do lado de lá da linha, uma resposta que mais parecia de
grafonola: que não tinha autorização para nos dar o paradeiro, fosse qual
fosse, físico, virtual, sei lá… do Armando Palavras, ou de outrem, e o Senhor
Director … num dia não estava e no outro não tinha ainda chegado ou não tinha
vagar para ouvir o pobre comprovinciano que lhe dissemos ser … Vá lá que
apareceu um dia ‘de boas ervas’ e mandou encaminhar a chamada para a Esposa
que, menos ocupada e mais gentil, nos disse onde o encontrar: por sinal, nem
andava por muito longe, lá para os lados da capital, em Oeiras.
Amável, generoso (nos termos bibliográficos que lhe
pedimos), ficámos amigos desde então e é por vias desta amizade, que outra
razão não vislumbramos, que nos convida para deixar gravado o nosso nome nesta
preciosa (pelo que já soubemos) colectânea que está a organizar.
Que não, que o nosso pobre nome, nome de um simples
bibliógrafo amador, iria destoar por demais no meio de tão distinta plêiade …
Que não, que a BdB,
mesmo sem as asas que os azares da fortuna lhe cortaram, não nos deixava tempo
‘sequer ò menos’ para respirar…
Que sim e que sopas … Que esperava… disse.
E logo a seguir, peremptório, que queria… disse.
Pois está bem. Que seja.
Como deseja — dissemos nós, para não usar de uma
linguagem mais chã, definitiva, nunca menos genuína, que pudesse ferir
espíritos (falsamente) puritanos cá do burgo (português), tipo:
— “Maria, lá t’o bôto”.
Estamos em crer, no entanto, que o ‘botarmos’ coisa com
um mínimo de mérito, como se impõe, vai ser empreitada bem mais complexa do que
chegar à burra e tirar um pêlo. Mas vamos ver, vamos pensar, que a cabeça é
para isso mesmo: para pensar. As dificuldades aguçam o engenho, é voz corrente.
Tentemos …
Fiat lux.
…………………………………………………………………………
E não é que a luz se fez!… Fulgurante, resplendorosa:
arregalem-me esses olhos e vejam, Senhores Leitores: em vez do nosso texto, só
chochices, como acabam de confirmar (se é que tiveram paciência de nos ler,
desde lá do alto), então não é que podemos oferecer um texto bom, capaz de lançar luz sobre … querem ver sobre o quê?!…
Nós que temos, “a dar c’ uma moca”, aqui, no nosso
gabinete de trabalho, e lá fora então!, nesses arquivos e bibliotecas …, textos
e mais textos de tão fino quilate a pedirem, pelas almas, que alguém os tire do
suplício das traças em que têm vivido!…
(Compreende-se, a esta luz, tanta publicação inútil, que
se faz?!…).
Lançámo-nos no encalço de um — do Dr. Alexandre de Matos,
fotocópia que devemos ao saudoso Amigo Raúl de Sá Correia. Sobre Vila Flor,
para a história da sua Biblioteca-Museu (de Vila Flor). Onde é que parará ele,
esse texto/documento?!… Já o trouxemos para Bragança ou tê-lo-íamos deixado em
Coimbra?!…
Já no seu encalce.
Descortinámo-lo
breve, afinal já estava cá, e imediatamente lido parágrafo aqui, duas linhas
mais além … pudemos proclamar, alto e bom som: Melhor que isto nem de candeia
na mão: nós estamos servido e o senhor Leitor vai ficar contente que nem ‘melro
cheio de miocas’.
Voltadas que foram, porém, umas quatro ou cinco novas
folhas, no mero intuito de relembrarmos o real conteúdo do maço … oh! maravilha
dos mil e um dias!… E nós que já nem por sombras nos lembrávamos disto!!!…
— É do Abade de Baçal?, perguntou um amigo que nos fazia
companhia.
Vendo a nossa reacção, corrigiu:
— Ah!, é do Trindade Coelho?
E logo a seguir, olhando-nos, de novo, e vendo que ainda
não tinha acertado:
— Não, já sei, é do Junqueiro, como três e dois …
Mas, cautelosamente, não declarou, agora, quantos seriam
3+2, em nenhuma das bases possíveis.
Zás-traz, nó cego, a troca foi uma questão de segundos.
Por uma razão mais que evidente: este é o documento certo… para aqui.
Mas de quem é ele, afinal?!…
— Agora sei: é do Dr. Fernando Subtil, ao que vejo pela
letra, avançou o referido amigo.
E é mesmo do Dr. Fernando Subtil, com quem entrámos
conversando e de quem, mais que não fosse por uma simples razão de cortesia,
nos devíamos despedir.
Vem multiplamente a calhar.
É que o Dr. Fernando Subtil, podia ter sido um segundo
Abade, ou um segundo Trindade Coelho, ou um segundo Junqueiro, ou sei lá quem —
podia ter sido ele-mesmo, e ele-mesmo é que gostaríamos que tivesse sido, na
plenitude das suas infinitas potencialidades.
Mesmo assim subiu altíssimo, foi … o que foi, só não
ocupando o lugar cimeiro do mais alto posto das letras porque sempre lhe faltou
a serenidade de espírito necessária às obras de grande vulto: “engenho e arte”
teve bem mais que muitos dos presenteados a toda a hora e momento com
parangonas nos jornais … porque os compadres … para alguma coisa hão-de servir.
Conhecemo-lo razoavelmente bem… moradores da mesma casa —
a casa dos seus avós —, alunos que fomos do mesmo liceu, colaboradores do mesmo
jornal (escolar), que criámos.
Depois, veio a Universidade — cursos diferentes; a
seguir, foi o Ultramar, para ele; após o regresso, nós continuámos pelo
Técnico, ele retomou o Liceu; encontros poucos, desencontros nenhum; mas
leitura assídua dos seus jornais, como o comprova à saciedade a ficha que na BdB merecidamente lhe dedicamos.
A carta que temos o gosto de trazer ao conhecimento de
muitos Leitores (outros a terão recebido e portanto já a conhecem) é uma mera
carta-circular, escrita numa vulgar folha de papel recortado de um vulgar bloco
19,5 X 29,5, com linhas (37), sem indicação de destinatário (seria/era o do
envelope, e neste caso éramos nós, signatário desta), e tinha por fim saber da
disponibilidade de viabilização de uma “segunda tentativa” de criação de um
novo jornal.
Não vamos deter-nos na sua análise, já que no final desta
nota a reproduzimos facsimilarmente, com conhecimento e total consentimento da
Irene, que foi sua Mulher, e é nossa boa Amiga, desde os nossos tempos de
meninos e moços. Não podemos, no entanto,
deixar de chamar a atenção para o seu exórdio.
É que o seu A. se nos mostra, em tão poucas linhas, como
o exemplo acabado do sonhador irrequieto, combativo, frontal — quem, na altura,
chamava os bois pelo seu nome?!… —; no aspecto formal, não podemos esperar
requintes de estilo, mas é bom atentar na lógica que preside à apresentação dos
diferentes itens, na sua concisão, na sua clareza.
Um exemplo para … quem gosta de saber escrever (que
implica saber pensar).
Reza assim o exórdio: Convicto da importância que um VERDADEIRO JORNAL assume
na vida de uma região, e conivente na lamentável situação que acontece na nossa
onde apenas se publicam umas folhas diocesanas em louvor dos seus donos e
senhores, atrevi-me às bases de O CARDO
que, porque não podia agradar a reizinhos e tiranetes, logo foi amordaçado.
Sou
agora proprietário de um novo título:
NORDESTE — Semanário regional de intervenção. De INTERVENÇÃO, sim, como tem
de ser qualquer órgão de comunicação social que se preze!
Está o
AMIGO disponível a contribuir para a viabilização desta segunda tentativa? para
a criação de um periódico apostado na
defesa intransigente da DEMOCRACIA e dos INTERESSES DO NORDESTE? acerrimamente adverso da mediocridade
arrogante e oportunista, do nepotismo, da hipocrisia e da corrupção mais ou
menos encoberta, mais ou menos descarada?
Se está
— como julgo que sim, caso contrário não o seleccionaria! — poderá fazê-lo nas
seguintes modalidades
(seguem-se as modalidades, a 1ª “Essencial”, a 2ª “Indispensável”, a 3ª
“Obrigatória” e a 4ª “Louvável”, e a carta termina com o pedido, na margem
esquerda, em altura, letras maiúsculas: “PASSE PALAVRA A AMIGOS E
CONTERRÂNEOS”.
Hirondino Fernandes
Nótula ao texto
A quantos eventualmente estranharem a introdução, no
texto, de simples palavras ou expressões regionalistas, apenas lembramos que
todas elas são usadas diríamos quase que por cão e gato (sem ofensa para os
excelentíssimos senhores de lacinho ao peito), em Vila Arçã e localidades
circunvizinhas, pelo menos, tendo por isso toda a legitimidade para as
deixarmos plantadas aqui. Vila Arçã é Trás-os-Montes e Trás-os-Montes é
PORTUGAL — e isto é do que muita gente se esquece ou faz esquecida.
“Boas tardes bos dia Deus” e até mais ver.
Nótula biográfica
Um pobre ‘bicho-careto’ que teve a
pouca sorte de o terem mandado vir a este mundo, quando estava tão bem lá no
Outro. Aprendeu o abc, que lhe foi servindo para as sopas e farapela, em troca
de umas aulas (de Português e de Francês) que gostava que tivessem sido mais
atractivas/produtivas, mas na altura não sabia mais do que aquilo que sabia
(lhe tinham ensinado / tinha aprendido). Nas horas vagas deu umas voltas, pelo
País abaixo e acima, andou pela Europa (Espanha, França, Inglaterra, Alemanha,
Itália, Rússia, etc.) e foi até ao Oriente (Turquia, Índia, Macau, China, etc.)
e também ao Ocidente (Brasil, Venezuela, também etc.). E ainda apanhou umas rosas nos desertos da Tunísia. “Cá como
lá más fadas há”, e ponto final, acabou-se. Borratou uns milhares de folhas de
papel, ou talvez não, e se, involuntariamente, alguma vez foi antipático para
quem, eventualmente, não foi simpático com ele — mesmo assim, que o desculpem
os que quiserem ser responsáveis. Até porque ele desculpa Pedro e Paulo. Ao
longo da vida (quase 80 anos, para já!) juntou uns milhares de livros, que
gostosamente (com sua mulher, a Olga) pôs a cantar na Obra Social Padre Miguel,
onde se alojou/alojaram. Presentemente trabalha, afincadamente, na conclusão de
uma (algo) imodestamente chamada Bibliografia
do Distrito de Bragança (BdB), que, certo dia, certos senhores
classificaram de inútil — ou coisa que o valha —, na medida em que não quiseram
saber da sua publicação, mas que felizmente um HOMEM que vale mais que todos
eles juntos quer trazer à luz do dia, o mais breve possível. Já passa muito das
6 000 (seis mil) páginas. Como hão-de ver.
… e se mais alguma coisa digna de
nota, amanhã, vier a acontecer, se possível dela daremos nota. Se não … até à
próxima, se não for antes, como o outro que dizia.
(escrito pelo próprio autor)
Sem comentários:
Enviar um comentário