sábado, 14 de abril de 2012

Estevais, Roteiro de Memórias


Aline Costa é natural da terra que trata despretensiosamente em Estevais, Roteiro de Memórias, um pequeno volume de 113 páginas profusamente ilustrado (115 fotografias). São memórias da sua infância e adolescência. Inicia com um belo poema de António Gedeão (Rómulo de Carvalho), dando-nos a matiz do que aí vem. E vêm coisas bonitas. Uma nota geral da aldeia que a viu nascer, de cujas raízes brotou: “ É a elas – às minhas raízes – que ainda hoje me prendo e seguro, sempre que um vendaval me abana” (p.14). Pois foi aí que a sua alma de criança tudo gravou, como no poema de Junqueiro incrustado num conjunto de palavras simples.
Lembra a encruzilhada e elo de ligação a outras terras (Carviçais, Moncorvo, Mogadouro, Freixo ou Felgar onde guarda a memória do Padre Joaquim M. Rebelo), os jogos de criança, a Igreja Matriz, os cânticos de D. Julien, Fr. Miguel Negreiros e do Pe. Arrondo; passa, de leve, pelas festividades, a capela da Senhora dos Remédios e o tombo que a avó Laura lá deu. Viaja pelo vale da capela da Senhora da Alegria e pelo cântico da Irmã Sorriso, pelo cemitério velho onde está sepultada uma grande amiga e o “Ti Coragem” (que era natural de Argozelo); segue para a escola primária e vislumbra as rosas de D. Luísa, a professora. Passa, suave, pela pequena ponte (de lajes), pelas fontes, pelas colheitas, pelos pombais, pelos palheiros, pelas tabernas, pelos lagares de azeite (local onde normalmente se realizavam os teatros), pelas pessoas da sua família, e segue rumo à festa da Senhora das Graças de Lagoaça, onde foi “muito feliz” (p.101) e onde havia aprendido certas danças que depois ensaiou para o teatro que era costume fazer-se nos Estevais (p. 49). E não esqueceu os livros que leu na biblioteca itinerante da Gulbenkian, ou os amores proibidos da adolescência.
É um livro muito pessoal, sem ser monográfico, cuja pretensão documental não passa das belas fotografias que apresenta, e cuja execução gráfica da Chiado Editora (2011) revela bom gosto pela simplicidade.

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