No deserto do Namibe, em Angola, e em parte na Namíbia, vive uma
tribo fascinante africana. Constituída por excepcionais criadores de gado à
semelhança dos Massai (Quénia) e dos Dinkas (Sudão), a sua principal fonte de
alimentação é a carne e o leite. São os Himbas, descendentes dos Hereros que,
segundo Douglas Wheeler e René Pélissier (História de Angola, Tinta da China,
2009), “conta com mais de 20 mil indivíduos e vive nas planícies áridas. Os
hereros dão grande valor ao gado, fundamental mas não apenas para a economia,
mas também para o seu sistema cultural de valores, pois repudiam quaisquer
actividades sedentárias”. Acrescentam estes historiadores que esse povo
migratório, do sudoeste angolano, ao “contrário de muitos dos seus vizinhos
angolanos, os hereros não têm chefes. Pertencem às culturas da Namíbia, tanto
quanto do sudoeste de Angola”. E sobre os costumes deste povo nómada africano,
quase totalmente aniquilado pelas tropas coloniais alemãs em 1904-1906, numa
operação levada a cabo pelo general Von Trotha (Bernard Bruneteau, “O Século
dos Genocídios”, 2008), pode consultar-se um belo livro de Ruy Duarte de
Carvalho – “Como se o Mundo não tivesse Leste” (B.I., 2008) - , ou o do
fotógrafo brasileiro Rui Guerra (Hereros- Angola, Ed. Maianga, 2010).
Socialmente, os Himbas funcionam em matriarcado. São ,
pois, as mulheres o topo da hierarquia. As mais ricas deslocam-se de burro. São
as donas dos filhos, das casas (construídas com a bosta de boi), do gado e de
todos os apetrechos que existem nas aldeias. Comandam uma sociedade poligâmica,
em que cada mulher pode ter relações sexuais com vários homens.
Vestem-se com peles rusticamente curtidas. Apresentam-se nuas da
cintura para cima, com longas tranças enfeitadas, diversos adornos, cobrindo o
corpo com um óleo avermelhado, mistura de banha de boi com uma espécie de
argila que as protege do vento e do sol, e lhes concede uma pele lisa,
aveludada, e sem defeitos.
Impressionam pelo seu porte altivo, mantêm a economia das suas
casas, criam os filhos com um carinho desvelado e são a alma da tribo. Peritas
na arte, deslocam-se diversas vezes aos grandes centros urbanos namibianos como
a capital Veendoek, com o objectivo de venderem a sua arte para, no final,
regressarem ao seu mundo rústico. Vivem junto do rio Cunene. Não são as
amazonas guerreiras que Homero nos descreve na Ilíada, nem as descritas por Heródoto nas suas Histórias, mas também caçam. São as últimas amazonas vermelhas
Armando Palavras
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