terça-feira, 12 de agosto de 2025

ISALTINO MORAIS - SERRAR A VELHA


Por Maria da Graça

 

ISALTINO MORAIS - SERRAR A VELHA

 

Natural de Mirandela

e até gostava de alheiras,

mas começava a achar chato

ver as mesmas iguarias

todos os dias no prato.

 

Mirandela tem um rio

onde aprendeu a nadar,

mas isso não lhe bastava,

ele queria ser surfista,

águas que tivessem ondas

pra surfar na sua crista

 

O rio Tua a correr

e Isaltino sem poder

realizar os seus sonhos,

os dias em Mirandela

eram frustes e tristonhos.

 

E eis que na festividade

da Senhora do Amparo,

 padroeira da cidade,

aconteceu que Isaltino

se cruzou com uma cigana

que lá andava a ler o sino.

 

A cigana era vidente

e de horóscopo seguro;

pediu-lhe a palma da mão,

fez-lhe logo a predição

do seu próximo futuro:

 

pelas conjunções astrais,

o Isaltino Morais

em breve iria mudar

da cidade à beira-rio

para outra à beira-mar,

 

para a cidade de Oeiras,

sua terra prometida

como assim estava prescrito;

lá esqueceria as alheiras

como Israel esqueceu

as cebolas do Egipto.

 

Lá havia muitas maneiras

para encher as algibeiras,

seus cabedais engrossar;

que um mirandelense guitcho

não ia desperdiçar.

 

E foi assim que este narro,

este transmontano astuto,

elevou o seu estatuto,

mudou de marca de carro

deixou de fumar cigarro,

passou a fumar charuto.

 

Tal como a lendária Inês,

depois de morta rainha,

também depois da prisão

ele venceu a eleição,

continuando a ser sultão

da cidade ribeirinha.

 

Aqui fica uma aguarela

de Isaltino tal como é:

um narro de Mirandela,

um autarca sempre em pé.

 

Flávio Vara


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