ISALTINO MORAIS -
SERRAR A VELHA
Natural de Mirandela
e até gostava de alheiras,
mas começava a achar chato
ver as mesmas iguarias
todos os dias no prato.
Mirandela tem um rio
onde aprendeu a nadar,
mas isso não lhe bastava,
ele queria ser surfista,
águas que tivessem ondas
pra surfar na sua crista
O rio Tua a correr
e Isaltino sem poder
realizar os seus sonhos,
os dias em Mirandela
eram frustes e tristonhos.
E eis que na festividade
da Senhora do Amparo,
padroeira da cidade,
aconteceu que Isaltino
se cruzou com uma cigana
que lá andava a ler o sino.
A cigana era vidente
e de horóscopo seguro;
pediu-lhe a palma da mão,
fez-lhe logo a predição
do seu próximo futuro:
pelas conjunções astrais,
o Isaltino Morais
em breve iria mudar
da cidade à beira-rio
para outra à beira-mar,
para a cidade de Oeiras,
sua terra prometida
como assim estava prescrito;
lá esqueceria as alheiras
como Israel esqueceu
as cebolas do Egipto.
Lá havia muitas maneiras
para encher as algibeiras,
seus cabedais engrossar;
que um mirandelense guitcho
não ia desperdiçar.
E foi assim que este narro,
este transmontano astuto,
elevou o seu estatuto,
mudou de marca de carro
deixou de fumar cigarro,
passou a fumar charuto.
Tal como a lendária Inês,
depois de morta rainha,
também depois da prisão
ele venceu a eleição,
continuando a ser sultão
da cidade ribeirinha.
Aqui fica uma aguarela
de Isaltino tal como é:
um narro de Mirandela,
um autarca sempre em pé.

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