Cuba retira
acreditações aos jornalistas da agência EFE na véspera de protesto da oposição
Numa declaração onde expressa preocupação com o “clima
de tensão e confronto” no país, a Conferência de Bispos Católicos de Cuba pediu
“mudanças necessárias” para melhorar a vida dos cubanos.
O Governo de Cuba retirou as acreditações aos cinco
jornalistas que a agência de notícias espanhola EFE tem no país, sem explicar
se a medida é temporária ou definitiva. A decisão surge quando a ilha se
prepara para o que se prevê vir a ser mais um dia de contestação ao regime,
depois da repressão aos protestos de 11 Julho, os maiores em décadas. Como fez
no Verão, o Presidente, Miguel Díaz-Canel, disse que os seus apoiantes estão
“prontos para defender a revolução”: desde sábado há alguns jovens apoiantes do
Governo acampados no centro de Havana.
“Chamaram-nos urgentemente e pediram-nos que
entregássemos as acreditações. Quando perguntámos o motivo invocaram a
normativa sobre a imprensa estrangeira”, explicou à AFP Atahualpa Amerise,
coordenador da redacção da EFE em Cuba. Questionados sobre o motivo exacto, os
responsáveis do Centro de Imprensa Internacional não souberam responder. Os
três redactores, um fotógrafo e um operador de câmara sabem apenas que estão
impedidos de trabalhar. Amerise diz que é a primeira vez que uma equipa de
imprensa estrangeira é sancionada assim na ilha.
Os sinais de aumento da tensão têm-se sucedido nos
últimos dias, à medida que se aproxima a data da chamada Marcha Cívica pela
Mudança, convocada pela plataforma Archipiélago para esta segunda-feira, e
declarada ilegal pelo Governo. Numa declaração onde expressa preocupação com o
“clima de tensão e confronto” no país, a Conferência de Bispos Católicos de
Cuba pediu “mudanças necessárias” para melhorar a vida dos cubanos e
“clemência” para os presos dos protestos de 11 de Julho – 1175 pessoas foram detidas e, segundo o
grupo de direitos humanos Cubalex, 658 ainda estão na cadeia.
Os opositores têm denunciado pressões e ameaças, ao
mesmo tempo que o jornalista e activista dos direitos humanos Guillermo
Fariñas foi detido, diz a sua família. O histórico dissidente, que
em 2010 recebeu o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, fez ao longo
dos últimos 20 anos 23 greves de fome em protesto contra o Governo.
O principal líder do movimento Archipiélago, o
dramaturgo Yunior García, descreve as pressões nos últimos dias como brutais.
Temendo a reacção do regime, anunciou que se manifestará sozinho este domingo –
sem desconvocar a manifestação, apela a que se “procurem soluções engenhosas
para evitar pôr os manifestantes em risco”, explicou numa entrevista por telefone à BBC Mundo.
Os cerca de 30 membros coordenadores
do Archipiélago começaram por pedir autorização para realizar a marcha,
inicialmente prevista para dia 20 de Novembro em várias províncias, um passo
inédito. O Governo anunciou então um “Dia Nacional da Defesa” e exercícios
militares para a mesma data, altura em que os promotores decidiram adiantar a
convocatória para dia 15.
Desde então, os media oficiais têm descrito a
convocatória para o protesto como “provocação” e “tentativa de desestabilização”,
acusando o próprio García de receber financiamento dos “amos do norte” e de
procurar “um confronto do Exército com o povo”. Díaz-Canel foi à televisão assegurar que os
cubanos “estão alerta” e “preparados” para “defender a revolução” face “à
estratégia dos imperialistas” que a querem destruir.
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