sábado, 17 de outubro de 2020

Que cheirinho a dinheiro fresco

 

ANTÓNIO MAGALHÃES

 https://bomdia.lu/
Técnico Aeroespacial
Sheffield


Que cheirinho a dinheiro fresco

“A todos aqueles que fazem do nosso, o dinheiro deles”

 

Cabelo em brilhantina empastado,

Fortes traços, como riscos na cabeça,

Faz tudo parte do seu moderno penteado,

Ar de pedante, e de cara amorenado,

Que o compre quem não o conheça.

Faz longos passeios, ao domingo, de carro,

Vento que lhe bate nos cabelos,

Mas até já lhe fizeram esse reparo,

Nem um fio se move e isso não é raro,

Graças à brilhantina espalhada naqueles pelos.

O sapato fino, do melhor cabedal,

O fato, da mais cara e alta costura,

Honesto e de uma transparência cristalina e pura,

Político de grande convicção e ideal.

O perfume só de marca, já se sabe,

E o trabalho…quem o começou que o acabe.

 

País lindo e pitoresco.

À beira mar plantado,

Por aí, no ar, um cheirinho a dinheiro fresco,

Vem a caminho dos cofres do estado.

Não levem as coisas tão a peito,

A sua paixão pelo povo é genuína e nunca falha,

Este dinheirinho todo junto, a ele dá-lhe jeito,

Distribuído pelo povo, é uma misera migalha.

 

Cabelo empastado em brilhantina,

Fato novo, sapato bem engraxado,

O perfume disfarça o cheiro a naftalina,

Para ser engenheiro ou doutor,

Não precisa ser formado.

Este homem é um senhor…

Nariz no ar, bem levantado.

Segue o cheiro que o atiça,

Quando o levarem a tribunal por ter roubado,

Sairá ilibado, porque no país é cega a justiça.

 

Todos os domingos vai à missa,

É fino, educado e até cavalheiresco,

Mas não digam por aí que não há justiça,

Só porque ao infeliz lhe cheirou a dinheiro fresco.

 

(Possivelmente Poemas)

António Magalhães

 

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