" Estático como as coisas mortas, indeciso como as horas sem destino, inconstante como as tardes tropicais, aqui estou, entre a ânsia de ver passar a vida e a certeza de não poder vivê-la".
Barroso da Fonte, in: Crónicas do Tempo da Guerra, Ed. Cidade Berço, Guimarães, 2019, p. 73.
Mucondo, 26-9-65
ResponderEliminar8 (18-11-1965 )
À hora em que me assento à mesa para escrever o diário de hoje, nos grandes estádios da Metrópole os clubes nacionais lutam com tenacidade pela vitória que os prestigiará ao longo de mais um campeonato que hoje principia.
O entusiasmo nesta primeira hora é emocionante. É a hora das ilusões e dos projectos. Para a assistência que da bancada ou do peão, espera assistir a um bom futebol, o indiferentismo começa nos pés do defesa, nos remates do avançado, nas fintas do médio. Muitos dirigentes, a esta hora, estão já arrependidos dos elementos que negociaram , muitos sócios das massas com que contribuíram, muitos adeptos das esperanças que teceram. E enquanto este ambiente de nervosismo , de esperança e emoção se vive ao longo desse Portugal de lés-a´-lés, cá por Angola, os aparelhos de rádio são todos mobilizados para relatar aos renegados, o panorama vivo e concreto que aí se vive.
Em todos os recantos do aquartelamento se descobrem grupetos acompanhando, com o mesmo nervosismo, o desenrolar do jogo dos seus clubes predilectos. ...
(...)
In Crónicas do Tempo da Guerra ... BARROSO DA FONTE
O LUAR NASCEU
ResponderEliminarO luar nasceu
e tu não vens
porquê
se te espero
sempre a esta hora
quando as sombras de todas as coisas
me parecem tu??
Levo os bolsos vazios
da tua presença
e os meus pés macabros
inscrevem-se nesta terra tropical
ritmados com esta amálgama
de pequenas coisas
da noite imensa.
Leio nas estrelas
o destino dos búzios
que se embrulham nas algas
como se a lua tivesse enxovais
para vestir o
MAR
Quero ver os peixes
dançar merengues e batuques
ao toque do quissange
batendo as palmas
quando tu chegares.
Até as silhuetas das palmeiras
se vão curvar
diante das tuas formas inconfundíveis!
Por isso vem
que eu peço às estrelas
pedras preciosas
para os teus cabelos.
Barroso da Fonte -In Trinta Anos de Poeta