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BARROSO da FONTE |
Combatentes
e o Monumento da discórdia
O
jornal a Voz de Trás-os-Montes, na sua edição de 2 do corrente, publicou
uma notícia que acaba com as dúvidas acerca da paternidade da ideia da
construção do Monumento aos Combatentes do Ultramar, junto ao Forte do Bom
Sucesso, em Belém, Lisboa. Esse Monumento nacional foi inaugurado em 15 de
Janeiro de 1994, debaixo de fortes apupos ao Presidente da República que era
contra.
A sua
construção foi muito polémica desde que a ideia foi lançada pela ANCU
(Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar), com sede em Guimarães. Em
2002, foi transferida para Tondela, onde permanece, servindo, ao mesmo tempo,
de sede à Federação das Associações de Combatentes, presidida pelo ex-capitão
miliciano, António Ferraz.
O
facto da ANCU, fundada em 1982, ter, desde 6 de Junho de 1984, como associado e
Conselheiro Nacional o General Altino de Magalhães, além de outros distintos
militares como Tomé Pinto e Pires Veloso, foi fator relevante para a evolução
do processo. Até 1986 amadureceu a ideia do projeto do Monumento que lhe tinha
sido proposto pelo Presidente da ANCU e
que ele aceitou.
Entretanto,
em 1986, Altino de Magalhães foi eleito Presidente da Liga dos Combatentes e
juntou o útil ao agradável.
Dada a
coincidência de ter sido designado Presidente da Liga, aquele que dois anos
antes se fizera sócio e aceitara ser Conselheiro Nacional da ANCU, representava
uma mais valia, na medida em que passavam a ser três coletividades, irmanadas
no mesmo projecto. Ficou assente que Altino de Magalhães passava a dar corpo ao
projeto que o Presidente da ANCU lhe propôs, a Associação dos Comandos que já tinha
aderido, mais a Liga que lhe estava umbilicalmente ligada.
Como a
ANCU tinha sede em Guimarães, onde os seus dirigentes residiam, entendeu-se
delegar no associado Manuel dos Santos Conceição, que era empresário em Lisboa.
Era ele que representava a ANCU, fazendo de intermediário. Altino de Magalhães,
certamente por concordância dos três representantes, estendeu o convite às
cinco restantes associações, duas civis e três militares. Foram elas: a Associação dos Deficientes das Forças Armadas, a
Associação de Especialistas da Força Aérea, da Associação da Força Aérea
Portuguesa, da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Sociedade Histórica da
Independência de Portugal. As oito ficaram com o nome gravado em chapa vulgar,
à entrada. Mas com a ordem invertida e dizeres nada igualitários, na
representatividade em relação ao mérito da iniciativa. Sempre Lisboa viveu à
sombra do trabalho da província. E este exemplo é prova insofismável, mais
semelhando os deputados que ganham as eleições na Província, contra as promessas
de que vão bater o pé, em Lisboa. Mal lá chegam são os primeiros a pisar o
risco. O fundador e presidente da ANCU que, ao longo de 66 anos de
jornalista lutou contra esta maldição, acabou por cair na esparrela e fez pior.
Já que em vida não perdeu o respeito pelo autor dessa rasteira, pela amizade de
muitos anos, vou esquecer esta maldadezinha.
Mas
foi por esta via que começaram os oportunismos, em função do prestígio dos seus
líderes e não daquelas que tiveram a ideia, pela ordem do mérito, à resistência,
aos impropérios de rua e aos piropos jornalísticos da esquerda revolucionária.
Tal
ostracismo manchou o trabalho louvável que congregou vontades, meios e
intenções, quando a inauguração se fez, em 15 de Janeiro de 1994.
Sejamos
claros: o representante da Liga, a partir de 1986, ano em que tomou posse,
exorbitou das competências que o responsável pela ideia lhe acometeu. Entre
1984 e 1986 convidou as entidades que entendeu, sem dar conhecimento a quem o
convidara. Escalonou as oito entidades conforme a ligação profissional e
pessoal que, ainda hoje, não
compreendemos. Como é que a ANCU, que teve a ideia, aparece mencionada no sopé
do Monumento e no livro que ele próprio editou, em penúltimo lugar. Os Comandos
foram a primeira convidada, pela ANCU. Deveria estar em 2º lugar mas foi
colocada em 5º lugar. E se tudo foi liderado pelo então presidente da Liga sem
dar qualquer explicação ao Presidente da ANCU, ou ao seu representante Manuel
dos Santos Conceição, fácil é concluir que usou e abusou da confiança nele
depositada. Poderia ele próprio, no discurso da inauguração explicar a
metodologia que seguiu e clarificar quem lhe confiara tal missão. Era essa a
altura certa. Não o tendo feito deu azo a que, desde aí, tenha vindo a ser
falseada a verdade histórica desse Monumento Nacional.
Foi
verdade que, em 9 de Abril de 1989, na comemoração da batalha de La Lys, na
vila do mesmo nome, Altino de Magalhães, sabia bem do que falava, pois leu o
texto que levava escrito. Nesse discurso afirmou: «como é do conhecimento
público, a Associação dos Combatentes do Ultramar, com sede em Guimarães,
lançou, há cerca de quatro anos a ideia da construção de um Monumento. A essa
ideia aderiram: os Comandos, a Liga dos Combatentes e a ADFA …».
Em
1996 cessou funções de Presidente da Liga. E, em 2007 reuniu num pequeno livro
de 120 páginas os elementos contabilísticos que se haviam gasto no montante de
8.839.540$00. Mas nem aí corrigiu as falhas que só hoje torno públicas.
Em
2019 a Liga dos Combatentes programou - e bem - a invocação dos 25 anos da
inauguração do Monumento. As principais associações e aqueles que estiveram na
origem desse acontecimento histórico não foram convidados, o que não aconteceu
com outras que se viram, depois nos canais televisivos dos dias seguintes. Mais
uma farsa!
Como o
leitor que tem a paciência de me ler já se apercebeu, o autor desta carrapata é
o signatário que assina o que escreve com o nome de batismo: Barroso da Fonte.
Quando, em 18 de Março de 1982, ouvi o então capitão Vasco Lourenço, afirmar
numa rádio nacional que ia fundar a Associação 25 de Abril para travar alguns
milicianos que andavam a levantar a voz, nesse mesmo dia fundei a ANCU. Tudo o
que nestes 38 anos se passou com a ANCU e com o Monumento aos Combatentes,
passou por mim. Melhor: assumo no bom e no mau as consequências deste projeto.
Levei muita «porrada» de gente de todos os lados. Nunca qualquer palco da fama
fácil me viu por lá. Falei, atrás, de três generais: Pires Veloso, Altino de
Magalhães e Tomé Pinto. Fui amigo privilegiado de todos. E todos constam num
dicionário de três volumes que editei. Olhando para trás verifico que, com o
gesto de gratidão para com os meus companheiros de guerra que tombaram ao
serviço da Pátria, perdi muito tempo, gastei muito daquilo que não dei aos
filhos. E até arranjei palco para alguns que o usam quando são mordiscados,
para me censurarem
Fica
aqui a explicação para as palavras do General Chito Rodrigues, desde 2003,
Presidente da Liga dos Combatentes que não tem gostado das verdades que tenho
vindo a escrever acerca da História do Monumento. Essas palavras foram por ele
escritas num documento de seis páginas em que reconhece a «minha paternidade
do Monumento». Monumento que foi pensado e gerido por dois Transmontanos:
Eu fui o pai. Ele foi o Padrinho. Mas o simbolismo é dos Combatentes do
Ultramar e não da Liga.
Barroso da Fonte.
A ser assim, cujos pormenores não conhecia, e vergado perante a grandeza do Monumento, respeito no dizer de Eça, "a nudez forte da Verdade"...
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