Há muito tempo já que eu me vinha sentindo moralmente
obrigado a divulgar publicamente algo que tem sido sistematicamente ignorado
por todas as Entidades nacionais, designadamente pelo Exército e pelos diversos
órgãos de Informação nacional.
Foram muitos os autores, os livros e os artigos
publicados sobre a GUERRA DO ULTRAMAR, foram entrevistadas muitas
pessoas, militares e civis, umas que nela tiveram intervenção direta, outras
que só dela sabiam por “ 31 de boca “, foram rodados filmes e documentários,
sobre ela também falaram ministros, primeiros ou não, e até presidentes da
República, mas...até hoje, ninguém ainda se lembrou - ou para isso teve a
coragem necessária - de nomear e prestar a devida homenagem aos HOMENS que na
madrugada de 15 de Março de 1961 foram os primeiros MILITARES a enfrentar os
bandos terroristas que assolaram o Norte de Angola!..
É esse, agora, o meu propósito:
Recordar o nome desses valentes Militares, homenagear
a Memória daqueles que já não se encontram entre nós e fazer sentir aos seus
descendentes o quanto deles se podem orgulhar!
Para além disso, passados tantos anos sobre a data da
eclosão do terrorismo que precedeu a Independência de Angola, continua a
verificar-se uma enorme disparidade de informações sobre o momento e o local em
que ocorreram os primeiros atentados e sobre a forma como as nossas
Autoridades, Civis e Militares, tomaram conhecimento de tudo que estava
acontecendo.
Foi noticiado
nos mais diversos órgãos de Informação, falada e escrita – e continua a
sê-lo – que os acontecimentos só foram conhecidos durante a manhã do dia
15, segundo uns, cerca das 8 horas, segundo outros, por volta das 10, ou ainda
mais tarde, segundo mais uns tantos... o que demonstra uma vergonhosa falta de
capacidade de pesquisa da verdade por parte de muitos dos profissionais da
Informação!
Eu não sei como foi que as Autoridades Civis e
Militares, em Carmona, em Luanda ou em Lisboa, tomaram conhecimento da
ocorrência dos primeiros massacres, mas sei que as decisões que a situação
reclamava, essas foram tomadas com a rapidez e a firmeza necessárias, contrastando
de forma gritante com o que se verifica nos dias de hoje relativamente à
governação do nosso País, agora geograficamente tão mais pequenino... Também
não sei exatamente a hora a que isso possa ter ocorrido, como não sei a que
hora foram transmitidas ao comando do BATALHÃO DE CAÇADORES 3 as devidas ordens
operacionais, mas sei e tenho a certeza absoluta de que tal teria acontecido
muitíssimo antes das 4 horas da manhã daquele terrível dia 15 de Março!... Não
é uma afirmação gratuita, é uma afirmação que pode ser muito facilmente
comprovada com a documentação oficial, para o que bastará consultar as ORDENS
DE SERVIÇO N.º 68 e N.º 69, de 22 e 23 de Março de 1961, do BC 3, onde, sem
qualquer margem para dúvidas, ficou devidamente registado para a História que
foi logo às 4 horas da manhã do próprio dia 15 de Março de 1961 que os
Militares começaram a enfrentar o terrorismo, mobilizando imediatamente uma
Força de Intervenção para acorrer às populações da zona do Quitexe,
designadamente da Fazenda Zalala, pertencente a Ricardo Matos Gaspar.
Eis a
relação desses valentes Militares:
Aspirante Miliciano Henrique Carlos Mesquita Abreu 2.º
Sargento José Maria Soares Furriel Domingos Fernandes Trindade 1.º Cabo
Miliciano João Maria Lemuel Stevson 1º Cabo Manuel Barroca Estanque 1º Cabo
José Dias da Cruz 1º Cabo Armindo Firmino Vicente 1º Cabo Ernesto Sousa de
Oliveira 1º Cabo Manuel António dos Santos Trindade 1º Cabo Francisco Ferreira
Soldado Augusto Chandala Soldado Mua Meia Sózinho Soldado Chiriquelele Soldado Pedro
Soma Soldado Luciano Hombo Soldado José Augusto Soldado Fernando Samarinha
Soldado Isaac Soldado Siquito Soldado Geremias Cangombe Soldado Lozes Domingos
Soldado Francisco Chicaete Soldado Calenga Soldado Paulino Soldado João Luís
Soldado Condutor Paulo Lucamba.
Em 1961, era eu então um dos Oficiais da 1.ª Companhia
do BC 3, cuja sede tinha sido estabelecida em Carmona. No dia 10 de Março
marchei para aquela que viria a ser a última missão de patrulhamento militar no
Norte de Angola efectuada em tempo de paz levando sob o meu comando os
seguintes Militares: Furriel Miliciano António Jorge Gaspar 1º Cabo Mecânico
Leonardo Rita Machado 1.º Cabo António Campos dos Santos Soldado Condutor José
Muchamba Soldado Martins Macange Soldado João Samoconja Soldado Daniel Muchila
(ADITAMENTO N.º 2 À O.S. N.º 59 – 12.03.1961 - BC 3 )
Na noite de 14/15 pernoitamos em Santa Cruz de
Macocola e foi só na manhã do dia 16, já em Sanza Pombo, que tivemos
conhecimento de que algo de muito grave teria acontecido na região do Quitexe,
o que nos levou a exercer uma maior vigilância e a adoptar medidas de segurança
acrescida na última parte do percurso até Carmona, onde chegámos cerca das 10
horas de noite do dia 19. Entretanto, e só por eu me encontrar impedido naquela
missão de patrulhamento, o Tenente Pedro Simões Dias assumiu o comando da Força
Militar que, pelas 8 horas da manhã desse mesmo dia 15 de Março, partiu de
Carmona em reforço da defesa da região do Quitexe, onde ficaram destacados.
Era a seguinte a constituição desse Destacamento
Militar: Tenente Miliciano Pedro
Simões Dias (*) 2º Sargento José Pereira Furriel Miliciano José Ribeiro dos
Santos 1.º Cabo Miliciano António Bettencourt Walpele Henriques 1.º Cabo Rui
Sebastião Lourenço da Luz 1.º Cabo Jeremias Leal Goulart (*) 1.º Cabo Aurélio
Ferreira Viegas 1.º Cabo Amândio dos Anjos André 1.º Cabo Manuel Fernandes de
Sousa (*) Soldado Condutor José Teya Soldado Condutor Paulo António Soldado
Inocêncio Caritangue Soldado José Cinco Reis Soldado Manuel Paulino Soldado Samacala
Soldado Pacheco Basílio Soldado Felisberto Cassoma Soldado Cambande Soldado
João Dias Soldado Dala Chuema Soldado Augusto Saniqui Soldado Lumbo Sicougiu
Soldado José Saloa Soldado Graça Soldado Kissaague Vissanga Soldado António
Manuel Soldado Jonasse Soldado Miguel Candimba Soldado Angelino Gaito Soldado
Luís Banda (*) Soldado José Francisco Soldado Manuel Gaspar Soldado Luperé Joni
Soldado Francisco Morais Soldado Sousa Cambi Soldado Francisco João Luís
Soldado Gonçalves Francisco Soldado Domingos António Soldado Candumbo Fonseca
Soldado Angelino Domingos Cordeiro (*) – FERIDOS NO ATAQUE DE 11.04.1961 (O. S.
N.º 75 – 29.03 E N.º 89 – 14.04.1961 – BC 3)
Na tarde de 9 de Abril apresentei-me no Destacamento
do Quitexe para substituir o Tenente Pedro Simões Dias, que logo me transmitiu
o respetivo comando, ficando ele a aguardar transporte para regressar a
Carmona. Veio a ser ferido durante o segundo ataque à Povoação, desencadeado na
madrugada do dia 11, tendo sido evacuado para o Hospital Militar de Luanda, via
Carmona, na tarde desse mesmo dia.
Na tarde de 14.04.1961, todos os efetivos do
Destacamento regressaram à sede do BC 3 por terem sido rendidos nessa
mesma data por um Pelotão de Infantaria da 6.ª Companhia de Caçadores
Especiais, do Capitão Leandro dos Santos.
(O. S. N.º 85 –10.04.1961 – BC 3 )
15 de Março de 2020
Serafim Sousa e Silva
Post Scriptum
O Autor do relato histórico que Tempo Caminhado publica no preciso dia em que deflagrou a guerra em
Angola, há 59 anos, fez-me chegar este testemunho. Pelo desprezo que todos os
órgãos de informação mantiveram, por estes heróis da Portugalidade Angolana, em
tempos e espaço tão delicados, fica bem viva a certeza da injustiça desta
guerra, da ingratidão dos profissionais da que congeminaram o golpe de Estado
que lhes reservou o quadro dos «Coronéis» de honra e, da maior censura que se
seguiu ao 25 de Abril.
O silenciamento destas dezenas de militares, que de
nada beneficiaram, nem sequer do direito de antena para reivindicarem um
enquadramento no mesmo quadro de honra, é prova absoluta da censura mais feroz.
Na qualidade de autor da ideia do Monumento aos Combatentes do Ultramar, de
sócio nº 1 da ANCU e de sócio nº 15 da AOE (Lamego), deixo aqui a esse grupo um
forte aplauso.
Barroso da
Fonte, Tenente Miliciano desde 31/12/1967.
Nota de fim de página:
Um aplauso redobrado de Tempo caminhado pelo testemunho lúcido e até agora desconhecido.
De quem dirige o blogue, um abraço fraterno a esses companheiros/camaradas que cumpriram o dever para com a Pátria, esquecidos pela "História" rascunhada por certos grupelhos ideológicos. Como diria Guerra Junqueiro: O tempo é o grande juiz.
Escrevam as vossas memórias para que a História não seja o produto destas seitas.
Nota de fim de página:
Um aplauso redobrado de Tempo caminhado pelo testemunho lúcido e até agora desconhecido.
De quem dirige o blogue, um abraço fraterno a esses companheiros/camaradas que cumpriram o dever para com a Pátria, esquecidos pela "História" rascunhada por certos grupelhos ideológicos. Como diria Guerra Junqueiro: O tempo é o grande juiz.
Escrevam as vossas memórias para que a História não seja o produto destas seitas.
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