domingo, 15 de dezembro de 2019

Hino do Desportivo, Ágata e o autor da Letra

                                                                                                                                                                                                                                                                                                    Letra de BARROSO da FONTE
                                                                                                       Música de CARLOS  EMÍDIO PEREIRA
                                                                                                                            (1970)

Por BARROSO da FONTE

Soube pela imprensa local e nacional que Francisco Carvalho, pai do “Chiquinho da Ágata!”, Presidente da SAD e presidente honorário do Grupo Desportivo de Chaves, tem alimentado muitas tribunas do jet set mediático, pelo facto de haver muita concorrência nessa indústria da fama fácil, graças ao século da extravagância, da libertinagem e da futilidade.
Diz o povo que cada um come do que gosta. E se o amor é tão forte que supera a loucura das paixões assolapadas, viva cada qual aquilo que entende, por bem, desde que não prejudique terceiros. Essa crise de relacionamento conjugal é hoje o pão nosso de cada dia. E quem sou eu para dar lições de moralidade num tempo e num lugar onde se entra no Parlamento como se fosse num clube de swinger's, como sucedeu no primeiro dia da instalação parlamentar, com um assessor de saia?
Em 1970 a direção do Grupo Desportivo de Chaves convidou-me para escrever a letra para o Hino do Clube que, em 27/9/1974, comemorava as bodas de prata. A mesma direção solicitou ao Amigo de saudosa memória Carlos Emídio Pereira que fizesse a música para essa letra. Já éramos, mas ainda ficámos mais amigos. Entretanto ele faleceu. E como não registou essa música na Sociedade Portuguesa de Autores, nem declarou essa autoria em documento, como propriedade sua, mais tarde não pôde, nem conseguiram os herdeiros, reclamar os direitos autorais em tribunal. Como música e letra resultaram num bem cultural que foi confiado ao GD Chaves, a Espacial editou-a em CD e, desde aí, comercializou-a como se fosse criação popular. Os direitos de autor foram para quem se apropriou de trabalhos intelectuais alheios. Da minha parte prescindi desses direitos a favor do GDC. Já não recordo quem presidia nessa altura à Direção. A verdade é que nem me responderam.
Consultei, agora que soube das divergência de fundo do casal, que Ágata, a cantora desse “meu” Hino, afirmou aos mass media que o ex-companheiro Francisco Carvalho não lhe dá os direitos por cantar o hino do Desportivo de Chaves. Diz ainda mais: que está barrada pelo «ex» no Estádio municipal de Chaves e que proibiu que o hino oficial do clube fosse ouvido nos jogos realizados em Chaves. «O Francisco retirou a minha voz dos jogos porque não queria ouvir o eco da minha entoação».
Devo confessar que não conheço pessoalmente o Sr. Francisco Carvalho, nem algum dos seus filhos. Penso que era ele o presidente da Direção quando o Desportivo ainda não era SAD.
***
Música de CARLOS  EMÍDIO PEREIRA
(1970)
O Desportivo de Chaves nasceu em 1949 e só na época de 1972/3 subiu da III à II divisão nacional. Em 1974 completou 25 anos e a direcção dessa época convidou-me para escrever a letra e ao Carlos Emídio Pereira para escrever a música. Desde aí, é sempre cantada quando há jogos no seu Estádio. No início deste século, a Ágata, mãe do actual Presidente, Bruno de Carvalho, gravou-a em CD, através da Espacial. Mas em vez de pedir autorização aos autores e de escrever os nomes da letra e da música, omitiram os seus nomes e chamaram-lhe «populares» Na sua edição de 02-11-2007, o Jornal Notícias do Douro deu essa notícia nos seguintes termos: «Discográfica que editou CD do Desportivo de Chaves «matou» os autores da letra e da música». Mas já que a APEL não deu andamento ao processo, fica aqui desmistificado o «roubo».
Há muitas formas de matar pessoas vivas. E a Espacial cometeu essa proeza, ao editar um CD, registado na SPA com o n° 3200637, em 2003, plagiando a letra e a música e registando-as com a palavra “popular”, quando o autor da letra está vivo, como se vê por estas palavras que assina, e o autor da música, Carlos Emídio Pereira, que faleceu há 14 anos, mas tem o filho, António Maria Pereira, a viver em Vila Real, pertencendo-lhe os direitos artísticos do Pai.
Como se sabe, as obras literárias e artísticas têm dono, tal como uma propriedade que se herda ou um automóvel que se compra. E, do mesmo modo, também os direitos desses bens se transmitem aos herdeiros, até 75 anos para além de morte dos seus criadores. Quem tiver dúvidas sobre a legitimidade que aqui se reclama poderá consultar a imprensa da época, nomeadamente o Notícias de Chaves de 28/9/1974. Aí se pode ler, sob o distintivo do Clube: «letra da marcha do Grupo Desportivo de Chaves - Comemorativa das suas Bodas de Prata que ocorreram ontem, dia 27-9-1974. Música de Carlos Emídio Pereira, Letra de Barroso da Fonte, interpretação de Avelino Aurélio (Bio)». Na altura, o Álvaro Coutinho e o António Saldanha publicaram um livro sobre o glorioso Desportivo de todos nós. Aquele já faleceu. Mas este ainda está vivo.
Tal como na época de 1972/73 fui eu que, na qualidade de vice-presidente e a convite da Câmara, formei o elenco com: o Engº Luís Gonzaga, o Prof. Viegas, o Rafael, o Cardoso e outros cujos nomes já não me ocorrem, formámos a direção que levou, pela primeira vez, o GDC da III à 2ª divisão. Com alguns desses liderámos a Comissão Administrativa e, nesse escaldante defeso, lutámos, de noite e de dia, para recuperarmos o 1º lugar da subida. Nunca mais deixei de ser um fervoroso simpatizante do Chaves, mesmo quando fui vereador na Câmara de Guimarães (1986-1990), com o pelouro do Desporto. Fui o único dirigente do Chaves que, nesse ano da subida, teve um processo disciplinar, movido pela F. P. de Futebol (com o nº 219/1973), e do qual só fui amnistiado em 15 de Maio de 1974, graças ao 25 de Abril desse ano.
Espero que este desaguisado folhetim que deveria ser, apenas, de carácter familiar não venha, agora, toldar a carreira do Glorioso Desportivo de Chaves.
Em nome dele estou disponível para não agravar a união de que o Glorioso precisa para voltar à I Liga. Se me aperceber de que o esforço dos Flavienses e simpatizantes em geral serve de trampolim para alguém cavalgar em noites de lua cheia, não permitirei que algo daquilo que fiz pelo clube, nomeadamente o Hino cuja letra ofertei, com imenso gosto e sem contrapartidas, ao Clube de todos, certamente teremos de usar outra linguagem.
Barroso da Fonte

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