Logo na noite eleitoral,
António Costa disse que iria ter contactos com vários partidos, mas quando lhe
perguntaram se entre estes estava o Chega disse qualquer coisa como: «Não temos
nada a ver com o Chega».
No dia seguinte, Rui Rio
fez uma afirmação semelhante, não incluindo o Chega no radar dos futuros
interlocutores. E recentemente Luís Montenegro, opositor de Rio, falou do CDS
mas excluiu o Chega dos partidos com quem iria falar. Com os comentadores passa-se
um fenómeno idêntico.
Todos malham no Chega e
referem-se a ele com desdém, como se tivesse peçonha. Mesmo os comentadores
mais próximos da direita (que são poucos) não querem confusões com o Chega. E
os partidos da extrema-esquerda chamam-lhe ‘fascista’ ou mesmo ‘nazi’.
Ora, onde já vimos isto?
Exatamente: em França, quando surgiu Jean-Marie Le Pen. No país da Revolução
Francesa, Le Pen entrou na política a ser marginalizado por todos, a ser
atacado a torto e a direito, mas foi crescendo, esteve à beira de ser eleito
Presidente da República – e hoje a filha perfila-se como uma fortíssima
candidata ao Eliseu.
Os políticos e os
comentadores não percebem que, ao marginalizarem alguém, ao atacarem alguém
sistematicamente, estão a contribuir para a sua notoriedade. André Ventura, que
fundou o partido há um ano, tem já uma enorme visibilidade porquê? Em boa
parte, pelos ataques e desfeitas de que tem sido alvo.
Devo dizer que, ao
contrário de muitas opiniões, não considero Ventura um homem de extrema-direita
e muito menos um fascista. Se ele fosse fascista, então Portugal estaria cheio
de fascistas – pois Ventura limita-se muitas vezes a dizer alto aquilo que
muitos pensam mas têm medo de dizer. Basta ver as redes sociais para perceber
isso.
Há muita gente
descontente, que acha os políticos ‘todos iguais’, que está indignada com a
corrupção, que não percebe o pagamento de rendimento mínimo a pessoas que não
querem trabalhar, que discorda do fim dos chumbos no ensino básico, que se
choca com o casamento gay, as mudanças de sexo ou as salas de chuto, que
contesta a vaga de imigração descontrolada para a Europa – e não havia até hoje
quem corporizasse este descontentamento. André Ventura percebeu esse vazio e
preencheu-o.
Constatando que havia um
nicho de eleitorado que ninguém representava, compôs uma personagem para o
seduzir. Mas nunca o vi elogiar Mussolini, nem Hitler, nem sequer Salazar. E,
no entanto, já vi muitos comunistas elogiarem Estaline, Lenine, Trotsky ou Mao.
E aí está uma coisa
difícil de entender: a extrema-esquerda é recebida em toda a parte com boas
maneiras, dispõe sempre de grande espaço nas TVs, mas quando a extrema-direita
quer falar ‘aqui d’el rei que vem aí o fascismo!’ Ora, pergunto: Ventura
representa maior perigo para a democracia do que Catarina Martins? Não creio.
Por todas estas razões, julgo que o Chega vai crescer muito em próximas
eleições.
Até agora, havia em
Portugal uma direita medrosa. O PSD nem sequer se diz de direita mas de
centro-esquerda, o CDS também é ‘ centrista’ e Santana Lopes idem aspas. Este
exemplo é paradigmático. Santana não percebeu que, depois de sair do PSD em
rutura com Rui Rio, o único caminho que tinha para se afirmar era assumir-se
‘de direita’ sem meias palavras – ou seja, falando sem complexos da imigração,
da corrupção, dos privilégios dos políticos, dos temas fraturantes, do
patriotismo, do politicamente correto, da União Europeia numa perspetiva
eurocética.
Mas não fez nada disto.
Logo nas europeias ‘matou-se’, ao apresentar um candidato perfeitamente
integrado no sistema. O que vinha ele acrescentar ao que existia? A política
não se faz com medo – e é isto que muita gente ainda não percebeu. Fazem
política para ‘não perder votos’ – quando o caminho é exatamente o oposto: é
usar a política para ‘ganhar votos’. Ventura está a fazer aquilo de que o CDS e
Santana Lopes tiveram medo: assumir-se como de direita, num país onde parecia
só haver esquerda.
E há outra razão para o
Chega crescer. Nas últimas eleições, achava-se que o voto nele era um voto
perdido, que não servia para nada. Mas agora sabe-se que um voto no Chega pode
multiplicar o número de deputados. Pode dar-se um fenómeno parecido com o que
sucedeu com o PAN. Para já não falar do crescimento do Vox em Espanha. É que as
histórias políticas de Portugal e Espanha sempre andaram a par...
Sem comentários:
Enviar um comentário