BARROSO da FONTE |
Não sou
especialista em coisa nenhuma. E talvez por isso achei piada ao que se passou
com um meu amigo dos tempos da tropa.
Tal como eu, está
mais perto dos 81 do que dos 80 anos de vida, e precisou de tratar um dente
quando tinha 79 de idade. Como beneficiário da ADSE, recorreu a uma clínica
urbana que tem acordo com esse sistema público para o qual descontou durante
mais de 40 anos de vida ativa.
Acontece que ele
foi dos tais burros de carga que não fugiu à tropa durante a guerra do
Ultramar, nem era filho de gente ilustre que o isentasse; e outro remédio não
teve que ser mobilizado para a zona de Nuambuangongo (na pior zona do norte de
Angola) entre 1965/67.
Ele, como outros
milhares, muitas vezes bebeu água em charcos ou pequenos fios de água, onde
bebiam animais selvagens, répteis, aves e todo o bicho careto. Os dentes de
qualquer ser vivo perdem qualidade, quando a água é imprópria para ser bebida,
principalmente por humanos.
Os políticos dessa
altura, mesmo quando já existia a ADSE, não legislaram para tratamentos
especiais a favor desses grupos de jovens obrigados a ir à guerra e que, um
dia, seriam velhos. Terminada a guerra, os mandões da democracia, que se fartam
de apregoar que temos o melhor serviço nacional de saúde, como a maior parte
deles não foi à guerra e - para eles - os votos dos marginais e quejandos têm
mais valor do que a decência e o respeito por essa geração martirizada,
estão-se marimbando.
Um antigo
combatente que, aos 80 anos de idade, ainda só perdeu dois dentes, num calvário
do que fica descrito, deveria ter um prémio. Mas não. Nem é o caso. Ele
recorreu a essa clínica e pagou a parte que pertence ao beneficiário da ADSE.
Foi para casa e, passados dois anos, voltou à mesma clínica para rever o mesmo
dente e também outros, como é próprio da sua idade. Passado um mês, o meu Amigo
foi notificado para voltar à clínica a fim de regularizar a situação: pagar
mais 27,92 €, porque já tinha passado a garantia prevista na lei. O remédio foi
pagar e não bufar.
Depois de uma
campanha eleitoral, onde o elogio da saúde pública feriu os tímpanos, mesmo dos
surdos e de tantas promessas a favor dos mais débeis, esse Amigo disse-me que a
democracia pratica a lei do pneu. Do pneu, da panela, do cilindro ou do penico.
Os dentes têm a garantia dos bens domésticos, das ferramentas dos trolhas ou
das pílulas do dia seguinte.
E se isto estava
assim no tempo da geringonça, como será nestes próximos quatro anos, com a
esquerda afrontada com o poder e com os machos disfarçados com saias de uso
permanente a subir e a descer as escadas do Parlamento?
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