sábado, 12 de outubro de 2019

Us & Them – O Filme



António  Magalhães
em Sheffield 
And Who’ll deny it’s what the fighting’s all about?

(E quem negará que é o motivo da luta?)

A minha ansiedade começou a ganhar forma a partir do momento em que foi anunciado o filme Us & Them de Roger Waters.
Eu tinha visto o fenomenal concerto em Hyde Park Londres em Junho de 2018, inserido na tour Us & Them que agora dá o mesmo nome ao filme realizado e produzido por Sean Evans e o próprio Roger Waters.
A ansiedade justificava-se por duas razões. Primeiro porque sendo algo realizado por Roger Waters não se pode esperar nada menos do que um estrondoso e apoteótico evento seja ele de que caracter for, e segundo porque o filme só estaria em exibição por apenas dois dias, a 2 e a 6 de Outubro de 2019 e em cinemas selecionados.
E se, por motivos de implausível explicação, me não fosse possível assistir ao filme num desses dias de oportunidade única?
Recorri ao melhor amigo do homem dos tempos modernos, a Google, e muni-me das informações necessárias para que no passado domingo dia 6 estivesse na sala 2 do Cineworld em Milton Keynes a assistir deslumbrado ao filme.
Este filme reúne imagens da tour em 2018, especialmente das quatro noites em que Roger Waters e a sua banda atuaram em Amesterdão Ziggo Dome arena.
E que imagens… Uma produção visual daquelas de nos tirar o fôlego quase por completo.
Roger Waters é lendário por ultrapassar os limites do som surround complementando as mais avançadas técnicas com o entretenimento visual, fazendo dos seus espetáculos uma das mais estonteantes, vertiginosas e marcantes experiências do concerto musical e teatral que jamais se pode ver.
O filme começa com uma jovem e solitária mãe, sentada numa espécie de dunas na praia, filmada apenas por trás sem se lhe ver a cara, a olhar o mar envolvida por um coro nostálgico de vozes femininas a entoar um som sem palavras, numa espécie de melancolia solitária que se vai fundir com uma viagem pelo meio de um labirinto de meteoritos que a determinada altura vão ganhando forma mais espessa até que começam a palpitar à medida que vão aumentando de volume, e em sintonia com as icónicas vozes e frases da música Breathe, à medida que a imagem se vai colocando em outra dimensão, deixa transparecer uma grande esfera que representa uma espécie de planeta, planeta esse que vai deslizando pelo universo carregado de pontos luminosos a representar um sem fim de estrelas e planetas, numa viagem cósmica absolutamente transcendente, mágica, com as imagens a serem projetadas por trás da banda à medida que esta vai tocando a música que ecoa pelos quatro cantos da sala de cinema, embrulhando o espectador num manto de emoções que são o ponto de partida para cerca de 135 minutos de uma experiência única de emoção e prazer absoluto.
O filme contém imagens das músicas tocadas nesse concerto em Amesterdão e inclui os álbuns The Dark Side of The Moon, The Wall, Animals, Wish You Were Here e claro, músicas do último álbum de Roger Waters Is This The Life We Really Want?
Um filme extremamente criativo e emotivo com uma forte e penetrante mensagem dos mais elementares direitos humanos, de liberdade, empatia e acima de tudo amor e igualdade.
É incrível a reação do público às músicas e à mensagem que delas se pode colher, e este público se é certo que reúne os velhos e fieis veteranos de Pink Floyd, como eu, também não é menos certo que consegue de maneira surpreendente e agradavelmente espetacular de se ver, uma audiência muito mais jovem que também ela se deixa cativar emocionalmente pela magia do grande génio e pela sua mensagem de humanidade.
A reação estampada no rosto dos fãs às músicas e ao significado das suas letras, traduz de maneira bem explicita não só o porquê das músicas dos Pink Floyd (uma grande parte delas com letras de Roger Waters) continuarem a perdurar ao longo de décadas, mas também o significado e a influência que provoca nos dias de hoje quando as lágrimas em momentos de difícil contenção de emoções se manifesta em músicas como “The Last Refugie” ou “Dejá vu”, lágrimas essas que brotam de muitas caras jovens.
Quando Roger Waters viu as imagens dos seus fãs no filme disse, “Eu devo ter feito algo de muito bom para tocar nos corações destes jovens...”
Us and Them filme é uma avalanche apoteótica de emoções a que ninguém fica indiferente.
As imagens filmadas por um drone e que desfilam no ecrã à medida que a banda vai tocando a música “Dejá Vu”, provocam uma sensação que a certo momento dá a impressão de que toda a sala de cinema se move juntamente com essas imagens. Um momento impressionante e ao mesmo tempo de certa maneira um pouco assustador. Pela parte que me toca segurei-me firme aos braços da cadeira tendo a certeza de que na eventualidade da ilusão ótica ser de facto uma realidade, eu não cairia por motivo algum.
RESIST- era a palavra que as t-shirts dos miúdos que participaram no coro do clássico “Another Brick in The Wall” deixava visivelmente em destaque ao de maneira sincronizada tirarem os fatos macaco que usavam durante a interpretação da música, e a mesma palavra a ficar exposta no ecrã já depois de ter dado destaque aos miúdos e à sua atuação.
O filme não termina com as imagens do fim do concerto, mas sim com excertos de imagens de ensaios, alguma interação com fãs e as imagens finais são as de um grupo de jovens, (os que participaram no coro do icónico “Another Brick in The Wall num dos concertos no Brasil) nos bastidores do palco, em tempo de relaxamento a interpretarem uma cancão cantada em Português do Brasil, acompanhados à viola por uma jovem Brasileira com uma voz muito promissora.
Por fim, só para lembrar que a tour Us and Them passou por Lisboa com dois concertos em dois dias seguidos, completamente esgotados e os quais Roger Waters considerou absolutamente espantosos.
Para quem não teve a oportunidade de ver o filme…bem…não desesperem, um dia destes estará por aí em Blu-Ray.

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