(E quem negará que é o
motivo da luta?)
A minha ansiedade começou
a ganhar forma a partir do momento em que foi anunciado o filme Us & Them
de Roger Waters.
Eu tinha visto o
fenomenal concerto em Hyde Park Londres em Junho de 2018, inserido na tour Us
& Them que agora dá o mesmo nome ao filme realizado e produzido por Sean
Evans e o próprio Roger Waters.
A ansiedade
justificava-se por duas razões. Primeiro porque sendo algo realizado por Roger
Waters não se pode esperar nada menos do que um estrondoso e apoteótico evento
seja ele de que caracter for, e segundo porque o filme só estaria em exibição
por apenas dois dias, a 2 e a 6 de Outubro de 2019 e em cinemas selecionados.
E se, por motivos de
implausível explicação, me não fosse possível assistir ao filme num desses dias
de oportunidade única?
Recorri ao melhor amigo
do homem dos tempos modernos, a Google, e muni-me das informações necessárias
para que no passado domingo dia 6 estivesse na sala 2 do Cineworld em Milton
Keynes a assistir deslumbrado ao filme.
Este filme reúne imagens
da tour em 2018, especialmente das quatro noites em que Roger Waters e a sua
banda atuaram em Amesterdão Ziggo Dome arena.
E que imagens… Uma
produção visual daquelas de nos tirar o fôlego quase por completo.
Roger Waters é lendário
por ultrapassar os limites do som surround complementando as mais avançadas
técnicas com o entretenimento visual, fazendo dos seus espetáculos uma das mais
estonteantes, vertiginosas e marcantes experiências do concerto musical e
teatral que jamais se pode ver.
O filme começa com uma
jovem e solitária mãe, sentada numa espécie de dunas na praia, filmada apenas
por trás sem se lhe ver a cara, a olhar o mar envolvida por um coro nostálgico
de vozes femininas a entoar um som sem palavras, numa espécie de melancolia
solitária que se vai fundir com uma viagem pelo meio de um labirinto de
meteoritos que a determinada altura vão ganhando forma mais espessa até que
começam a palpitar à medida que vão aumentando de volume, e em sintonia com as
icónicas vozes e frases da música Breathe, à medida que a imagem se vai
colocando em outra dimensão, deixa transparecer uma grande esfera que
representa uma espécie de planeta, planeta esse que vai deslizando pelo
universo carregado de pontos luminosos a representar um sem fim de estrelas e
planetas, numa viagem cósmica absolutamente transcendente, mágica, com as
imagens a serem projetadas por trás da banda à medida que esta vai tocando a
música que ecoa pelos quatro cantos da sala de cinema, embrulhando o espectador
num manto de emoções que são o ponto de partida para cerca de 135 minutos de
uma experiência única de emoção e prazer absoluto.
O filme contém imagens
das músicas tocadas nesse concerto em Amesterdão e inclui os álbuns The Dark
Side of The Moon, The Wall, Animals, Wish You Were Here e claro, músicas do
último álbum de Roger Waters Is This The Life We Really Want?
Um filme extremamente
criativo e emotivo com uma forte e penetrante mensagem dos mais elementares
direitos humanos, de liberdade, empatia e acima de tudo amor e igualdade.
É incrível a reação do
público às músicas e à mensagem que delas se pode colher, e este público se é
certo que reúne os velhos e fieis veteranos de Pink Floyd, como eu, também não
é menos certo que consegue de maneira surpreendente e agradavelmente
espetacular de se ver, uma audiência muito mais jovem que também ela se deixa
cativar emocionalmente pela magia do grande génio e pela sua mensagem de
humanidade.
A reação estampada no
rosto dos fãs às músicas e ao significado das suas letras, traduz de maneira
bem explicita não só o porquê das músicas dos Pink Floyd (uma grande parte
delas com letras de Roger Waters) continuarem a perdurar ao longo de décadas,
mas também o significado e a influência que provoca nos dias de hoje quando as
lágrimas em momentos de difícil contenção de emoções se manifesta em músicas
como “The Last Refugie” ou “Dejá vu”, lágrimas essas que brotam de muitas caras
jovens.
Quando Roger Waters viu
as imagens dos seus fãs no filme disse, “Eu devo ter feito algo de muito bom
para tocar nos corações destes jovens...”
Us and Them filme é uma
avalanche apoteótica de emoções a que ninguém fica indiferente.
As imagens filmadas por
um drone e que desfilam no ecrã à medida que a banda vai tocando a música “Dejá
Vu”, provocam uma sensação que a certo momento dá a impressão de que toda a
sala de cinema se move juntamente com essas imagens. Um momento impressionante
e ao mesmo tempo de certa maneira um pouco assustador. Pela parte que me toca
segurei-me firme aos braços da cadeira tendo a certeza de que na eventualidade
da ilusão ótica ser de facto uma realidade, eu não cairia por motivo algum.
RESIST- era a palavra que
as t-shirts dos miúdos que participaram no coro do clássico “Another Brick in
The Wall” deixava visivelmente em destaque ao de maneira sincronizada tirarem
os fatos macaco que usavam durante a interpretação da música, e a mesma palavra
a ficar exposta no ecrã já depois de ter dado destaque aos miúdos e à sua
atuação.
O filme não termina com
as imagens do fim do concerto, mas sim com excertos de imagens de ensaios,
alguma interação com fãs e as imagens finais são as de um grupo de jovens, (os
que participaram no coro do icónico “Another Brick in The Wall num dos
concertos no Brasil) nos bastidores do palco, em tempo de relaxamento a
interpretarem uma cancão cantada em Português do Brasil, acompanhados à viola
por uma jovem Brasileira com uma voz muito promissora.
Por fim, só para lembrar
que a tour Us and Them passou por Lisboa com dois concertos em dois dias
seguidos, completamente esgotados e os quais Roger Waters considerou
absolutamente espantosos.
Para quem não teve a
oportunidade de ver o filme…bem…não desesperem, um dia destes estará por aí em
Blu-Ray.
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