Nick
Mason, baterista e cofundador dos Pink Floyd, é o único membro da banda a
participar em todos os álbuns e concertos que esta veio a desenvolver ao longo
dos anos.
Os
Pink Floyd são uma das mais influentes bandas culturais de todos os tempos, no
chamado rock progressivo, ou de intervenção.
Quando
a banda lançou “Endless River” um álbum de estúdio que é um tributo ao falecido
teclista Richard Wright, David Gilmore afirmou ter a certeza de ser este o
último álbum dos Pink Floyd, muito embora tanto ele, Gilmore, como Roger
Waters, continuem a fazer digressões com bandas próprias.
Por
isso pensou-se que a última grande participação de Nick Mason poderia ter sido
o solo de bateria com cerca de dois minutos e meio que executou nas músicas Sum
and Skins do último álbum “Endless River”.
Foi,
portanto, com uma enorme surpresa, agradável apesar de tudo, que se recebeu a
notícia pela boca do próprio Nick Mason quando anunciou uma tournée a que viria
a dar o nome, “Saucerful of Secrets”, que para quem é fã dos Pink Floyd pôde
perceber desde logo que Nick Mason se propunha a levar a palco uma tournée que
cobriria com toda a certeza material inicial da banda, especialmente músicas da
era Syd Barret.
E
de facto quem assim pensou não se enganou nada.
Pode-se
gostar de Pink Floyd, mas não se é fã da banda porque se ouve, e se gosta, de
“Comfortably Numb”, “Wish You Were Here”, ou “Money”.
Sabe-se
que se é um verdadeiro fã dos Pink Floyd quando se ouvem estas músicas com a
mesma emoção com que se ouve, “Interstellar Overdrive”, ou “Astronomy Domine”,
“Lucifer Sam”, “The Vegetable Man”, ou “Bike”, entre outras da era mais
psicadélica dos Floyd.
Depois
de ter iniciado esta tournée no Reino Unido em 2018, Nick Mason levou
“Saucerful of Secrets a várias partes da Europa, e em 2019, já depois de ter
passado com a sua nova banda pelos Estados Unidos, regressou muito recentemente
ao Reino Unido, onde atuou primeiro em Cardiff, depois em Aylesbury e a seguir
em Cambridge.
Fui
vê-lo a Aylesbury, no Waterside Theatre.
É
sempre com uma enorme emoção que ouço ou assisto a espetáculos de Pink Floyd,
ou os chamados espetáculos solo dos membros da banda. No ano passado estive em
Hyde Park, Londres, para o megaconcerto de Roger Waters, e habituado que estou
aos espetáculos de megaprodução a que Pink Floyd sempre nos habituou, fiquei
curiosíssimo acerca do que poderia acontecer neste show que Nick Mason decidiu
levar a cabo.
Nada
de grandes megaproduções. Nada de porcos insufláveis a voar por cima do palco,
nem Power Station a surgir das entranhas da terra, lasers, luzes e projeções
megalómanas.
Foi
simplesmente um espetáculo incrível onde a música dos primeiros anos de Floyd
foi soberbamente tocada por um bando de músicos simplesmente excecionais, diria
mesmo, fora de série.
A
noite aqueceu com a banda McNally Waters, uma banda que viajou diretamente de
Los Angels para o Reino Unido, sendo nesta digressão a banda de apoio aos
concertos realizados na tournée de “Saucerful Of Secrets”, com a
particularidade de o teclista ser filho de Roger Waters e afilhado de Nick
Mason.
O
espetáculo pelo qual as pessoas que se deslocaram ao Waterside Theatre mais
esperavam, abriu com a música “Interstellar Overdrive”, seguida de “Astronomy
Domine” e “Lucifer Sam”
Ao
longo do espetáculo ouviu-se o clássico de Syd Barret, “Arnold Layne”. Mas
também “Remember a day”, bem como “Fearless” ou a fantástica música “The Nile
Song”. E como se isto não bastasse, Nick Mason presenteia todos os verdadeiros
fãs de Pink Floyd com músicas nunca tocadas ao vivo, como “The Vegetable Man”,
ou músicas como “Point me at the sky” nunca editada em nenhum álbum dos Pink
Floyd, mas que foi editada apenas em single em 1968.
Foi
uma das experiências mais marcantes que tive ao testemunhar um concerto da
minha banda de eleição. Já o afirmei antes… este formigueiro na barriga, que
sinto ao ouvir Pink Floyd assemelha-se e muito ao mesmo formigueiro que sinto
ao ler José Saramago. Vá-se lá saber porquê.
O
incrível Nick Mason, agora com 75 anos de idade, continua a ter aquele toque mágico
e inigualável, continua a ser um mestre da bateria, e trouxe a palco consigo um
punhado de músicos de excelentes capacidades. Guy Pratt, um colaborador de Pink
Floyd em concertos há mais de trinta anos, baixista e vocalista. Neste
espetáculo a que assisti em Aylesbury arredores de Londres, cheio de energia e
boa disposição, como sempre a desempenhar um papel importantíssimo durante toda
a sua performance. Gary Kemp, ex. Spandau Ballet, guitarrista e vocalista, a
desempenhar uma excelente performance ao cantar músicas de Syd, Lee Harris,
guitarra, e Dom Beken nos teclados.
Não
foram precisos mais do que estes cinco homens para presentearem os fãs de Pink
Floyd com uma noite simplesmente mágica, inesquecível.
Só
para terminar, gostaria de salientar as diferentes gerações que assistiram ao
espetáculo com a mesma satisfação estampada nas caras de felicidade e prazer,
bem como o agradecimento à música que estes profissionais levaram a cabo, nos
aplausos infindáveis no fim do espetáculo.
Não
eram só “cotas” como eu que se deslocaram ao Waterside Theatre in Aylesbury,
muito embora esses estivessem em maioria. Também se viam muitos jovens a
deixarem-se deliciar com a música que tem arrastado e encantado multidões.
Tal
como dizia Nick Mason no final do espetáculo…” Thanks To Syd Barret, the man who started all this.
Obrigado
Nick Mason, obrigado Syd Barret e obrigado Pink Floyd.
Nick
Mason recentemente foi agraciado com a medalha “Commander of the order of the
British Empire” (CBE) pelo Duque de Cambridge (Prince William) numa cerimónia
decorrida no palácio de Buckingham.
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