sexta-feira, 1 de março de 2019

Primeira dama de Angola revisita Montalegre, dia 28



Nota: Este texto não foi publicado há dois dias, por motivos profissionais que nos impediram de o fazer. Por essa razão, ao autor do mesmo, Doutor Barroso da Fonte, as nossas sinceras desculpas.


Por BARROSO da FONTE


Se tudo decorrer como está previsto, dia 28 do corrente, serão recebidas no salão nobre da Câmara aquela menina e moça que ali nasceu, em 8 de Março de 1934, e sua filha mais velha, Irene Alexandra. Quem é esta grande Senhora Maria Eugénia da Silva já em vários tribunas o escrevi. Mas pela sua simpatia, pelo seu saber, pela sua dedicação familiar, pelos seus méritos literários e, sobretudo, por aquilo que foi, ainda é e sempre será, enquanto Primeira Dama desse enorme país que é Angola. Este regresso às origens constitui um acontecimento que muito enobrecerá os Barrosões, os Transmontanos e os Portugueses em geral.

Quando, em 1998, publiquei o I volume do Dicionário dos mais ilustres Transmontanos redigi o verbete desta ilustre Barrosã que consta nas pp 432/433. Sempre em consonância com o economista António Chaves, torcemos por convidá-la a revisitar Montalegre. Vivendo ela em Angola seria difícil. Mas quando a vontade é muita não há impossíveis. O António Chaves e eu, desde que em janeiro de 1964, nos conhecemos na estação de S. Bento, no Porto, rumo a Mafra onde frequentámos o curso de oficiais milicianos, selámos uma amizade que perdura há 55 anos. Ele vive em Chaves e eu em Guimarães. Mas não há distâncias quando existem projetos de interesse público relacionados com Barroso ou com os Barrosões. Foi assim com o III Congresso Transmontano, foi assim quando, quase sozinho, em 25 de Julho de 2011, promovi a celebração dos 900 anos de Afonso Henriques, contra a teimosia das autarquias de Guimarães e de Viseu, em terem celebrado a efeméride, em 2009, uma na cidade berço, em 24 de Junho, outra em Viseu, em 20 de Setembro. Esse grupo que me acompanhou em 2011 não se dispersou, antes engrossou e adquiriu personalidade Jurídica, em 13 deste mês na Conservatória do Registo Comercial de Braga, com o nome de «Grã Ordem Afonsina». Foi em 2015 quando ambos fomos eleitos para os órgãos sociais da Academia de Letras de Trás-os-Montes, com sede em Bragança. Foi quando, já nessa altura, propusemos o nome da Escritora Eugénia Neto para sócia honorária dessa Academia. Aí cimentámos o propósito de convidar tão notável conterrânea e comprovinciana a irmanar-se com a Terra e os Concidadãos, em nome das artes e das letras, dando força à Lusofonia que não tem fronteiras, nem racismos nem subalternidades linguísticas.
É óbvio que dois amigos apenas, tal como só duas andorinhas, não fazem a primavera. E por isso colocámos a proposta à Câmara Municipal e à Academia de Letras para serem essas duas entidades democráticas a assumirem a liderança desta receção. Louva-se a boa aceitação e o consenso cerimonioso. E, dia 28 deste mês esperamos que S. Pedro mande bom tempo e nos permita receber com a dignidade que merecem as nossas convidadas.

A volumosa obra de Eugénia Neto. A vida desta nobre Senhora, tal como o trajeto existencial de seu marido, Agostinho Neto, seriam pretexto asado para inspirar autores a escrever a vida de uma e de outro, ou até dos dois. De resto, de Agostinho Neto há diversos volumes, escritos por investigadores profissionais e editados por empresas de renome quer dentro, quer fora de Angola. A Casa dos Estudantes do Império - Lisboa, em Lisboa e em Coimbra, cedo começou a editar pequemos cadernos, em prosa e em poesia, de nomes sonantes do processo autonómico. Essa Casa foi viveiro para formar, editar e distribuir, ora em prosa ora em verso, todos quantos vinham dos diversos territórios ultramarinos, formar-se e tomar contactos com os diversos agentes das várias correntes do pensamento. O exemplo já exposto de dois angolanos médicos: Agostinho, Américo Boavida e Amílcar Cabral (de Cabo Verde e Guiné) que casaram com outras três Transmontanas, revelavam que tinha chegado a hora de entregar a África aos africanos e devolver ao Continente os europeus. Essas mulheres Transmontanas, a exemplos dos maridos que tiveram, cumpriram um destino histórico porque entraram na História dos países que defenderam corajosamente. Eles foram heróis nas linhas da frente. Elas na retaguarda, sofrendo com as famílias que hoje são protagonistas ativos nos jovens países africanos de expressão portuguesa.
Se esse trio de líderes produziu obras narrativas para explicarem os passos que deram no sentido de justificar as causas das suas lutas libertárias e expansionistas, também as mulheres o fizeram, exercendo a sua ação filantrópica, cultural e social, em convivência com as populações que sempre gostam de pacificar as guerras que os cônjuges travam nas linhas da frente.
Este papel coube, por exemplo, à Escritora Maria Eugénia Neto que ajudou a fundar a União dos Escritores Angolanos, pertencendo à Direção e sendo destacada para conferências e debates e outras manifestações de caráter representativo mais cerimonioso. Mas é vasta, densa e representativa das artes e das letras a arte criativa desta Barrosã que por cá nasceu há 85 anos e que se foi, para os areópagos da Lusofonia, deixando por lá, testemunhos vivos e regressando agora para júbilo dos seus conterrâneos e admiradores.
A Academia de Letras de Trás-os-Montes associa-se a este acontecimento. Dado o pouco tempo de que as duas ilustres visitantes dispõem e da incerteza do clima para quem chega de Angola, entendeu-se não programar a visita à cidade de Bragança, de onde era natural a Professora Maria da Conceição Deolinda Dias Jerónimo, mulher do médico Américo Boavida. Já ambos faleceram. E por isso também esta ausência não terá  contribuído para a aceitação do convite. Contudo a Presidente da Direção, Maria da Assunção Anes Morais, estará presente e irá registar esses momentos memoráveis.

Os filhos de Eugénia Neto. São três os filhos desta ilustre Barrosã: o Mário Jorge que nasceu em 9 de Novembro de 1959; a Irene Alexandra que nasceu em Lisboa, tal como o irmão, mas em 23 de Julho de 1961; e a mais nova de nome Leda. A Irene casou com o economista, escritor e empresário Carlos de São Vicente de quem tem três filhos e uma neta. Licenciou-se em medicina entre 1979 e 1985 e fez o mestrado entre 1993 e 1997. Entre 2005 e 2008 foi vice-ministra para a Cooperação no Ministério das Relações Exteriores de Angola, sendo a primeira mulher a exercer tal cargo no pós-guerra. Entre 2008 e 2017 foi deputada à Assembleia Nacional, chegando a presidente à 7ª Comissão. Recentemente foi eleita em Cabo Verde, no seio da CPLP, representante desse organismo Lusófono para a Língua Luso-Galaica.

Só em 1998 começou a falar-se desta Barrosã nos jornais. Até cerca ao ano de 1998 nunca tínhamos ouvido falar de Maria Eugénia Neto. Estive em Angola a cumprir o serviço militar, tal como o António Chaves. Nunca, cá ou lá, ouvimos falar desta Barrosã. Sempre por Angola imensa houve Transmontanos de Barroso, como emigrantes. Mas nunca alguém tinha dado sinal desta presença tão marcante. Já nem eu próprio sei como e onde fui buscar a ficha que sobre ela inseri no I volume dos três do Dicionário dos mais ilustres Transmontanos. Esse primeiro registo fica aqui para que conste. Eis porque não mais descansei enquanto não cheguei à fala com a escritora Eugénia Neto. Foi por isso com grande júbilo que o António Chaves se associou ao meu propósito para conseguirmos realizar este desejo dela, que de Montalegre só se lembrava da D. Cândida Pereira. Há uns anos atrás, convidei a Drª Maria José Afonso, jornalista da Rádio Montalegre, para entrevistar esta também ilustre Barrosã. Este reencontro será histórico para a nossa Comunidade. A Família estava pronta a levar a Mãe a Lisboa, quando a D. Eugénia ali voltasse, porque tem ali família a viver. Entretanto a Câmara assumiu esse papel em parceria com a Academia de Letras de Trás-os-Montes.
Primeiro registo público de Eugénia Neto: «Nasceu em Trás os Montes, em 1934. Mas cedo se fez africana, pois casou com o Dr. Agostinho Neto que conheceu em 1948 e que foi o grande líder da guerrilha Angolana que levou à auto determinação, pelo Acordo do Alvor. Agostinho Neto nasceu em Catete, em 1922 e faleceu em 1979, quando era presidente do MPLA. Foi o 1.° Presidente da República Popular de Angola. Licenciou-se em Medicina, em Portugal, mas foi sempre um inconformado com o regime que o educou e preparou para a vida. Escreveu em várias publicações e deixou: Quatro Poemas de Agostinho Neto (1957), Poemas (1961) e Sagrada Esperança (1974). Descobrimos que Maria Eugénia Neto, mulher desse líder africano, nasceu em Trás os Montes (não indica freguesia nem concelho) em Pequeno Dicionário de Autores de Língua Portuguesa, de Fernanda Frazão e Maria Filomena Boavida, Amigos do Livro, 1983. Aí se lê que se tem dedicado à literatura para crianças, tendo já sido traduzida para várias línguas. Já alcançou o prémio de honra da Comissão da RDA para a UNESCO; na Exposição “Os mais belos livros do mundo”, realizada em Leipzig em 1978, com o seu 1.° livro. Tal como o marido foi uma combatente, pela pena, em várias publicações, pela libertação de Angola. Foi diretora do Boletim da Organização da Mulher Angolana. É autora de vários livros, entre os quais: Foi Esperança e Foi Certeza. (Literatura infantil): Nas Florestas dos Bichos falaram (1977); As nossas mãos constroem a Liberdade (1979); A formação de uma estrela e outras histórias na terra (1979).»

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