Acaba de nos chegar às mãos, o
último volume publicado pela editora Cidade Berço, de autoria do Doutor Barroso
da Fonte. Intitula-se: “Crónicas do tempo da guerra – escritas por
quem a viveu”.
Só tivemos tempo de o desfolhar e
ler as primeiras. seis crónicas. E,
desde já, destacamos a segunda (52º), a da partida. A da partida para uma das
províncias da Antiga África portuguesa. E destacamo-la pelo seu conteúdo. Em
poucas linhas, o autor destaca dois pontos: o da corrupção e o do “destino”. A
dado passo escreve:” quem mais exacto for no cumprimento do seu dever, será o
que menos garantias tem na resolução do seu futuro”. E conclui que serão os
pequenos a suportar os grandes.
É um tema que sempre nos apaixona.
Por essa razão pretendemos ler o livro este fim de semana para podermos fazer
uma recensão séria.
11 (9-12-1965)
ResponderEliminarCom a mais firme devoção, continuo ajoelhado diante do Diário de M.Torga, a deliciar-me nas suas ideias, límpidas como a água que bebo nas minhas refeições. Vale a pena perder a noção de militar armado, assentar-me à mesa, a ouvir música de teclado e com uma cerveja fresca, a afagar-me a sede, ler e reler estas páginas dispersas que M.Torga escreveu, por esse Portugal de lés-a -lés. No meio de quanto se me oferece ler, cá por estas paragens africanas, ainda são as obras do autor dos Bichos que mais me inflamam as ideias. Adoro a perspicácia dos seus horizontes, o humorismo das suas afirmações, o contraste das suas ideologias. Vale bem a pena - vale sempre a pena - abrir ao acaso quaisquer dos seus livros, ler duas ou três páginas e, depois de uma curta introspecção, abrir uma sebenta, pegar numa esferográfica e escrever à laia de intérprete.
Já alguém me aconselhou a não pescar nas águas de Torga. Por uma questão de reverência, várias vezes já tentei não lançar o anzol; mas nas horas conturbadas, volto-me para a minha pequena estante e irresistivelmente , as mãos impelidas pelos olhos, agarram-se-me ao Miguel Torga. Sinto-me Torga no desejo de adorar as sublimes faculdades dum mestre. A adoração salva muitos inválidos.
Por isso deponho na invalidez o máximo da minha adoração.
In «CRÓNICAS DO TEMPO DA GUERRA escritas por quem a viveu (Angola 1965/67)»
BARROSO DA FONTE