quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

A tenda quer-se com quem a entenda.


BARROSO da FONTE

Isto vai de mal a pior porque anda tudo às avessas. Temos cada vez mais gente a mandar do que a ser mandada. E não se vislumbra quem tenha a coragem de chamar os bois pelos nomes. Ninguém pode dar aquilo que não tem. E como ninguém nasce ensinado, deveria prevalecer a norma que aconselha que cada cidadão deve cumprir as regras da cidadania. Tal como só deve circular nas estradas e autoestradas quem tiver carta de condução, assim deveriam ser as comunidades estruturadas para que, dentro de um comboio, como numa grande superfície ou no país inteiro, o princípio lógico da pirâmide deve funcionar, de baixo para cima e de cima para baixo. Sem atropelos e com total respeito pelos sinais obrigatórios. Em 4 do corrente Carlos Branco, Major-General, na reserva, assinou mais um pedagógico artigo de opinião a que chamou: «Forças Armadas: como chegámos a este estado? Portugueses a liberdade que durante 48 anos lhes faltou, tenham um ministro a chefiá-las que censura e condena um canal televisivo, neste caso a TVI, por dar voz e imagem aos seus tele-espetadores  À data em que Carlos Branco escreveu este pedagógico artigo, talvez este clamoroso ato censório ainda não fosse do seu conhecimento. 
Mas tinha ele escrito e publicado diversos outros artigos, igualmente demonstrativos das contradições entre o poder político e os outros poderes. É que a sociedade portuguesa não se resume ao poder político. Esse é um deles. Mas há o poder judicial, o poder económico, o poder científico e, acima de todos, o poder moral. Ao poder da moralidade, da ética e da cidadania, deve sobrepor-se o direito natural que exige dos diversos poderes, a aplicação da justiça, da igualdade, da fraternidade, da coerência e por aí fora. 
O atual ministro da Defesa talvez não tenha conhecido o valor da liberdade. E,embora doutorado em Ciência Política e embaixador da União Europeia no Brasil e, antes do Brasil, ter idênticas funções na Índia, pelo que se depreende do seu curriculum, tinha 10 anos quando raiou a liberdade em Portugal. Fica-se com a ideia de que só conheceu Lisboa desde que aí nasceu em1964  e aí completou o liceu. Porque se fica a saber que toda a formação superior, ou seja, a licenciatura e o mestrado os obteve «pela London School of  Economics» e o doutoramento lhe foi atribuído pela Universidade de Oxford. 
Não especifica esse curriculum em que anos exerceu a docência como Professor de Relações Internacionais. Mas lê-se aí que desempenhou funções de Consultor do Instituto de Defesa Nacional, na Fundação Calouste Gulbenkian, da Comissão Europeia e do Banco Mundial. E que entre 2001 e 2002 presidiu ao Instituto da Cooperação Portuguesa. Finalmente «concluiu o curso Lealdershipfor Senior Executives na Harvard Businss School». Confesso a minha dificuldade em saber, em que medida, esta formação no estrangeiro, mais os anos de embaixador, na índia e no Brasil, contribuíram para garantir, como Ministro da Defesa, ter moral bastante, para reprimir um canal televisivo, a ponto desse canal, de imediato, suspender o novo programa, só porque devolveu a um cidadão, o direito de falar da sua Pátria, do seu País, da sua cultura, deixando para ulteriores oportunidades, os estrangeirismos e os oportunismos que outros tiveram. O major-general Carlos Branco pôs o dedo na ferida, ao afirmar:«No capítulo da defesa, os programas dos dois partidos com maior expressão eleitoral é um rol de lugares comuns e vacuidades. Aquilo a que se designa no jargão militar por generalidades e culatras. A falta de liderança política resultante do desconhecimento da “coisa militar”. Os militares foram expurgados dos cargos de direção superior de 1º grau dos serviços centrais do Ministério das Forças Armadas (MFA), erroneamente apelidado da Defesa. A representação de militares em cargos de direção nunca foi tão diminuta como agora. A esmagadora maioria dos responsáveis não fez o serviço militar nem entrou numa unidade militar antes de assumir funções, não conhece a Instituição militar e vê os militares de uma forma preconceituosa».  
                                                                                                       É este défice de desconhecimento, de vacuidades e de lugares comuns que vulgarizam o poder político que nos tem governado. 

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