BARROSO da FONTE |
Isto vai de mal a pior porque anda tudo às avessas.
Temos cada vez mais gente a mandar do que a ser mandada. E não se vislumbra
quem tenha a coragem de chamar os bois pelos nomes. Ninguém pode dar aquilo que
não tem. E como ninguém nasce ensinado, deveria prevalecer a norma que
aconselha que cada cidadão deve cumprir as regras da cidadania. Tal como só
deve circular nas estradas e autoestradas quem tiver carta de condução, assim
deveriam ser as comunidades estruturadas para que, dentro de um comboio, como
numa grande superfície ou no país inteiro, o princípio lógico da pirâmide deve
funcionar, de baixo para cima e de cima para baixo. Sem atropelos e com total
respeito pelos sinais obrigatórios. Em 4 do corrente Carlos Branco,
Major-General, na reserva, assinou mais um pedagógico artigo de opinião a que
chamou: «Forças Armadas: como chegámos a este estado? Portugueses a liberdade
que durante 48 anos lhes faltou, tenham um ministro a chefiá-las que censura e
condena um canal televisivo, neste caso a TVI, por dar voz e imagem aos seus
tele-espetadores À data em que Carlos
Branco escreveu este pedagógico artigo, talvez este clamoroso ato censório
ainda não fosse do seu conhecimento.
Mas tinha ele escrito e publicado diversos
outros artigos, igualmente demonstrativos das contradições entre o poder
político e os outros poderes. É que a sociedade portuguesa não se resume ao
poder político. Esse é um deles. Mas há o poder judicial, o poder económico, o
poder científico e, acima de todos, o poder moral. Ao poder da moralidade, da
ética e da cidadania, deve sobrepor-se o direito natural que exige dos diversos
poderes, a aplicação da justiça, da igualdade, da fraternidade, da coerência e
por aí fora.
O atual ministro da Defesa talvez não tenha conhecido o valor da
liberdade. E,embora doutorado em Ciência Política e embaixador da União
Europeia no Brasil e, antes do Brasil, ter idênticas funções na Índia, pelo que
se depreende do seu curriculum, tinha 10 anos quando raiou a liberdade em
Portugal. Fica-se com a ideia de que só conheceu Lisboa desde que aí nasceu
em1964 e aí completou o liceu. Porque se
fica a saber que toda a formação superior, ou seja, a licenciatura e o mestrado
os obteve «pela London School of Economics»
e o doutoramento lhe foi atribuído pela Universidade de Oxford.
Não especifica
esse curriculum em que anos exerceu a docência como Professor de Relações
Internacionais. Mas lê-se aí que desempenhou funções de Consultor do Instituto
de Defesa Nacional, na Fundação Calouste Gulbenkian, da Comissão Europeia e do
Banco Mundial. E que entre 2001 e 2002 presidiu ao Instituto da Cooperação
Portuguesa. Finalmente «concluiu o curso Lealdershipfor Senior Executives na
Harvard Businss School». Confesso a minha dificuldade em saber, em que medida,
esta formação no estrangeiro, mais os anos de embaixador, na índia e no Brasil,
contribuíram para garantir, como Ministro da Defesa, ter moral bastante, para
reprimir um canal televisivo, a ponto desse canal, de imediato, suspender o
novo programa, só porque devolveu a um cidadão, o direito de falar da sua
Pátria, do seu País, da sua cultura, deixando para ulteriores oportunidades, os
estrangeirismos e os oportunismos que outros tiveram. O major-general Carlos
Branco pôs o dedo na ferida, ao afirmar:«No
capítulo da defesa, os programas dos dois partidos com maior expressão
eleitoral é um rol de lugares comuns e vacuidades. Aquilo a que se designa no
jargão militar por generalidades e culatras. A falta de liderança política
resultante do desconhecimento da “coisa militar”. Os militares foram expurgados
dos cargos de direção superior de 1º grau dos serviços centrais do Ministério
das Forças Armadas (MFA), erroneamente apelidado da Defesa. A representação de
militares em cargos de direção nunca foi tão diminuta como agora. A esmagadora
maioria dos responsáveis não fez o serviço militar nem entrou numa unidade
militar antes de assumir funções, não conhece a Instituição militar e vê os
militares de uma forma preconceituosa».
É este défice de desconhecimento, de vacuidades e de
lugares comuns que vulgarizam o poder político que nos tem governado.
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