quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

A resposta certa ao racismo





As campanhas institucionais contra o racismo só estimulam o racismo: acicatam os ânimos e acordam demónios adormecidos.

José António Saraiva - SOL



KALIDOU Koulibaly, jogador de futebol de um clube italiano, o Nápoles, nascido em França e de origem senegalesa, foi alvo de ataques racistas durante um jogo do seu clube com o Inter de Milão. Os adeptos mais fanáticos (que em Itália se chamam tiffosi) da equipa milanesa passaram o jogo a chamar nomes a Koulibaly e a entoar cânticos depreciativos - e ele acabou por enervar-se, reagir e ser expulso do campo.
Os desacatos haviam começado muito antes.
Ainda fora do estádio, um adepto do Inter tinha sido atropelado e morto por uma carrinha cheia de apoiantes do Nápoles.
No fim de tudo, e em consequência da atitude racista dos seus adeptos, o Inter de Milão foi punido com dois jogos à porta fechada.
Assim vai o futebol em Itália.
MAS A ITÁLIA não é um caso isolado. Um pouco por todo o mundo, o futebol tem-se mostrado um terreno particularmente propício à violência e à manifestação de comportamentos primários. E isso, sendo objetivamente mau, tem um lado positivo: servir de escape às emoções reprimidas e às frustrações acumuladas nas sociedades contemporâneas.
Em todas as épocas da história da humanidade houve guerras, confrontos entre grupos, entre povos, entre nações; ora, no nosso tempo, essas expressões violentas são canalizadas para o futebol. Os jogos de futebol são o equivalente às batalhas dos tempos antigos. Com muito menos mortos e regras aceites por todos - o que é um enorme progresso.
Não se estranham, por isso, os insultos, os ataques aos jogadores adversários, mesmo as batalhas campais entre claques. Tudo isto faz parte do mesmo fenómeno de catarse coletiva. E, assim sendo, se calhar não é bom tentar anuná-la completamente - pois a violência reprimida irá manifestar-se noutras áreas, mais imprevisíveis e menos controláveis.
No futebol, pelo menos, a violência está circunscrita e os seus intérpretes identificados.
QUANTO AO PROBLEMA do racismo, tenho uma opinião radicalmente contrária à partilhada pela maioria. E julgo que a estratégia que tem vindo a ser seguida na luta contra este fenómeno está basicamente errada.
A FIFA e a UEFA têm multiplicado os apelos e as campanhas nesse sentido - ‘No to racism’, ‘Respect’, etc. - sem grandes resultados. Parece que esses apelos e campanhas ainda atiçam mais os ânimos. Aliás, toda a propaganda que se tem feito à volta deste caso de Koulibaly - com emotivas mensagens de solidariedade ao jogador, e de sentido repúdio pelos ataques da claque do Inter - só contribuiu para agravar a questão, remexendo na ferida.
A melhor resposta veio do próprio jogador: «Orgulho-me da cor da minha pele» - disse. Esta é a atitude certa. Por que razão chamar «preto» a alguém há de ser tomado como um insulto? Por que não hão de os pretos ter orgulho na cor da sua pele, nas suas raízes, nos seus antepassados, mesmo nos seus países?
O PIOR DE TUDO são os negros que têm vergonha de o ser. Michael Jackson, por exemplo, que fez tratamentos para ficar mais branco, e fez operações para adelgaçar o nariz, para reduzir a grossura dos lábios, etc. Figuras patéticas como estas é que devem envergonhar os negros - pois renegam as suas origens, ofendendo o povo a que pertencem.
Estes, sim, devem envergonhar a sua raça.
Pelo contrário, se todos os negros, e mulatos, e amarelos que jogam no futebol europeu tiverem a mesma atitude de Koulibaly, se disserem «Sou negro (ou mulato ou asiático) com muito orgulho», não haverá razão para os adversários insistirem nos insultos.
Em África também se usa com frequência a palavra ‘branco’ para designar um europeu e ninguém se ofende com isso.
TENHO PARA MIM que as campanhas institucionais contra o racismo só estimulam o racismo. Acicatam os ânimos, acordam demónios adormecidos. Chamam a atenção para gestos que não têm importância nenhuma, atribuindo-lhes intenções escondidas.
Pelo contrário, a assunção do tom de pele, a libertação dos complexos, o falar naturalmente em ‘branco’ ou ‘preto’ sem se ver nisso problema, o orgulho nas raízes, o amor pela nação de origem desestimulam o racismo e tornam-no inútil.

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