É chegada a hora de enfrentar cultural e civicamente o fanatismo do
politicamente correcto.
7 de
Novembro de 2018
Antes mesmo de ele existir, já eu apoiava este Governo que tem vindo a espantar o diabo tantas vezes anunciado. Portugal, apesar das dificuldades, é hoje uma boa excepção, numa Europa e num Mundo marcados por um processo de desconsolidação da Democracia e pela emergência de várias formas de populismo. Os partidos tradicionais estão em decadência, alguns em vias de desaparecimento. E a revolta popular contra o sistema já não está do lado da esquerda, passou para a direita, estimulada e manipulada pela hegemonia do poder financeiro global.
Devíamos estar
atentos. Mas às vezes a euforia conduz à distracção. Eu, por exemplo, vivo uma
situação paradoxal. Apoio esta solução governativa, o PS está no poder e, no entanto, por vezes
sinto a minha liberdade pessoal ameaçada. Não por causa do que se passa no
Mundo. Mas porque o diabo esconde-se nos detalhes. Está no fundamentalismo do politicamente correcto, na tentação
de interferir nos gostos e comportamentos das pessoas, no protagonismo de
alguns deputados e governantes que ninguém mandatou para reordenarem ou
desordenarem a nossa civilização.
O deputado do PAN foi legitimamente
eleito. Com pouco votos, mas foi. Tem o direito de defender as suas opiniões.
Mas não pode virar o país do avesso, com a cumplicidade dos fundamentalistas de
outros partidos (com a honrosa excepção do PCP) e o calculismo dos que pensam
que, em certas circunstâncias, o voto dele pode ser útil para a maioria. Uma
espécie de um novo deputado “limiano”, salvo o devido respeito. O facto é que
um deputado, um só, traz milhares de portugueses inquietos. Isto não é normal
nem saudável numa Democracia pluralista. De modo que é chegada a hora de
enfrentar cultural e civicamente o fanatismo do politicamente correcto. É uma questão de
liberdade. Liberdade para não gostar de touradas. Mas liberdade para gostar.
Liberdade para não gostar da caça. Mas liberdade para gostar. Algo que não se
pode decidir por decreto nem por decisões impostas por maiorias tácticas e
conjunturais, Não é democrático. Para mim, que sou um velho resistente, cheira
a totalitarismo. E não aceito.
Por isso, meu caro
António Costa, peço-lhe que intervenha a favor de valores essenciais do PS: o
pluralismo, a tolerância, o respeito pela opinião do outro. Peço-lhe que
interceda pela descida de 6% do IVA para todos os espectáculos, sem discriminar
a tauromaquia, já que os prejudicados serão os mais pobres, os trabalhadores
que tornam possível este espectáculo. Peço-lhe que se oponha à proposta do PAN
para alterar a Lei 92/95, que vem comprometer várias actividades do mundo da
caça, como provas de Santo Huberto, largadas cinegéticas e cetraria –
Património Mundial da Humanidade. A alteração da referida Lei provocará danos
irreversíveis em muitas associações e clubes de caçadores, clubes de tiro
desportivo, campos de treino e caça. Estão em causa centenas de postos de
trabalho e elevadas perdas económicas para o País, sobretudo para aquelas
regiões onde a empregabilidade e a actividade económica estão quase
exclusivamente ligadas à caça. Sim, meu caro António Costa, trata-se de uma
tradição cultural e social que é parte integrante da nossa civilização. É,
também, um problema que diz respeito ao emprego e à vida de milhares de
pessoas. E é, sobretudo, uma questão de liberdade, que sempre foi a essência e a alma do
Partido Socialista.
Militante histórico do PS; escritor
Militante histórico do PS; escritor
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