JORGE LAGE |
A minha Mãe «ensinou-me» a comer de tudo o que
se põe na mesa. Não podia haver as palavras, «não gosto». Como benjamim da casa
sempre teve muita paciência comigo para evitar usar o lenço de cinco pontas.
Quem andasse sempre a bater nos filhos era criticado por não saber educar e
impor o respeito. Assim hoje, gosto de comer todas as comidas tradicionais e
saudáveis das nossas aldeias. Dos alimentos que mais me fascinam é o bom pão
trigo e, principalmente, o pão centeio. Parece que as boas farinhas, dos fornos
e os enormes pães quentes espalham no ar o seu aroma inconfundível e que me
aveludava a alma. Por isso, sou muito exigente com a qualidade do pão que como.
Rejeito a maioria do que se produz nas padarias vulgares e nem me falem em
«padarias de pão quente». São massas congeladas com conservantes (venenos para
o corpo), ainda que os aromas artificiais sejam voltados para o gosto do
consumidor. Depois, a textura, o aspecto e a digestão desfazem as boas
impressões iniciais. O pão que compramos, se o comermos dois ou três dias
depois de o termos em casa, conhecemo-lo melhor (às vezes delicio-me com pão de
três ou quatro dias). Fascina-me, o pão centeio da Padaria Moutinho, em Argeriz
– Valpaços; da Padaria Guerra, em S. Pedro Velho e da Padaria Zelita, no
Cruzamento da Bouça, ambas no concelho de Mirandela. A Padaria Zelita faz-me o
pão coradinho, bem cozido, e ao pegar nele apodera-se de mim a felicidade de
quem leva o que há de melhor, um deleite para a vista, para a alma e para o
palato. Era interessante Mirandela fazer a Feira do Pão, para estimular a
qualidade, com um concurso de prova cega. Concurso que defendo, também, para as
alheiras.
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