segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A verdade segundo Fernando Medina



Vítor Rainho – jornal Sol

A entrevista que o antigo vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa deu ao SOL, e cuja segunda parte é publicada nesta edição, é um belo retrato de como a capital é tratada pelos seus responsáveis. Diga-se em abono da verdade que a Câmara nega responder praticamente a todos os esclarecimentos que lhe são pedidos, preferindo ter os seus órgãos de eleição, a quem dá as notícias que muito bem entende. Nada contra, desde que responda às questões, incómodas ou não, que lhe são colocadas quer pelo SOL quer pelo jornal i, e todos os outros que não fazem parte do Diário Oficial da CML.
É que Fernando Medina e o vereador todo poderoso Manuel Salgado esquecem-se que devem explicações à população e que quando não respondem às questões colocadas pelos media estão a negar informação aos seus munícipes. Seria normal que uma Câmara transparente explicasse por que razão quer fazer o prolongamento do metro do Rato até ao Cais do Sodré, numa obra que tem custos previstos de 270 milhões de euros, optando por abandonar parte da obra que já estava feita e que levava os comboios do Rato para a Estrela, terminando em Alcântara. Em vez disso, a Câmara quer voltar com a linha para trás, seguindo por Santos, para terminar no Cais do Sodré. Esta obra, além dos custos astronómicos, implicará uma engenharia complicadíssima, havendo uma estação, na Estrela, que ficará a 50 metros de profundidade.
Segundo Nunes da Silva, a intenção de fazer esta linha circular tem como objetivo servir futuros empreendimentos de luxo que se adivinham para esses locais. Medina prefere ir à televisão dizer que está tudo bem e que os detratores de tais empreitadas não merecem respeito. Se Medina não gosta de Fernando Nunes da Silva é um problema seu. Mas então por que não respondeu, por exemplo, às dúvidas levantadas pelo também engenheiro S. Pompeu Santos, que colocou a nu todas as aberrações da tal linha circular, que pretende ser um carrossel, mas que nem terá esse efeito?
Segundo escreveu S. Pompeu Santos no Público, «o custo por quilómetro de linha será de 180 milhões de euros, muitíssimo superior aos 50 a 60 milhões de euros habituais, provavelmente a linha de metro mais cara do mundo». Era sobre estas questões que Medina devia falar no seu tempo de antena. Além disso, em vez de desmentir a notícia da Torre de Picoas, deveria explicar tintim por tintim qual a razão para o desfecho do negócio. Isto é: dizer por que razão o Ministério Público está a investigar o caso. Mas, não. Medina prefere ser o bispo de Manuel Salgado e atacar quem o questiona. É lá com ele.
O que me faz alguma confusão nesta história é ver pessoas credíveis como Helena Roseta adotarem um silêncio ensurdecedor. Será que Roseta concorda com esta política do ‘quero, posso e mando’?
Finalmente Ricardo Robles. É indiscutível que o antigo vereador do BE na Câmara de Lisboa estava a desempenhar bem o seu papel na autarquia, denunciando as várias trapaças supostamente cometidas sob a ‘presidência’ de Salgado. Robles, antes de ser eleito vereador, era muito mais cáustico, mas mesmo depois de assumir o cargo não se coibia de dizer de sua justiça. Pena foi que tenha ficado refém após a história do seu imóvel. E que, com esse episódio, se tenha perdido um vereador que se preocupava com alguma justiça na habitação. Infelizmente, a história tem muitas ironias...

P. S. Amanhã faz 12 anos que o SOL chegou às bancas. A todos aqueles que fizeram e fazem parte do projeto a minha vénia.


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