A entrevista que o antigo vereador da Mobilidade da
Câmara Municipal de Lisboa deu ao SOL, e cuja segunda parte é publicada nesta
edição, é um belo retrato de como a capital é tratada pelos seus responsáveis.
Diga-se em abono da verdade que a Câmara nega responder praticamente a todos os
esclarecimentos que lhe são pedidos, preferindo ter os seus órgãos de eleição,
a quem dá as notícias que muito bem entende. Nada contra, desde que responda às
questões, incómodas ou não, que lhe são colocadas quer pelo SOL quer pelo
jornal i, e todos os outros que não fazem parte do Diário Oficial da CML.
É que Fernando Medina e o vereador todo poderoso
Manuel Salgado esquecem-se que devem explicações à população e que quando não
respondem às questões colocadas pelos media estão a negar informação aos seus
munícipes. Seria normal que uma Câmara transparente explicasse por que razão
quer fazer o prolongamento do metro do Rato até ao Cais do Sodré, numa obra que
tem custos previstos de 270 milhões de euros, optando por abandonar parte da
obra que já estava feita e que levava os comboios do Rato para a Estrela,
terminando em Alcântara. Em vez disso, a Câmara quer voltar com a linha para
trás, seguindo por Santos, para terminar no Cais do Sodré. Esta obra, além dos
custos astronómicos, implicará uma engenharia complicadíssima, havendo uma
estação, na Estrela, que ficará a 50 metros de profundidade.
Segundo Nunes da Silva, a intenção de fazer esta linha
circular tem como objetivo servir futuros empreendimentos de luxo que se
adivinham para esses locais. Medina prefere ir à televisão dizer que está tudo
bem e que os detratores de tais empreitadas não merecem respeito. Se Medina não
gosta de Fernando Nunes da Silva é um problema seu. Mas então por que não
respondeu, por exemplo, às dúvidas levantadas pelo também engenheiro S. Pompeu
Santos, que colocou a nu todas as aberrações da tal linha circular, que
pretende ser um carrossel, mas que nem terá esse efeito?
Segundo escreveu S. Pompeu Santos no Público, «o custo
por quilómetro de linha será de 180 milhões de euros, muitíssimo superior aos
50 a 60 milhões de euros habituais, provavelmente a linha de metro mais cara do
mundo». Era sobre estas questões que Medina devia falar no seu tempo de antena.
Além disso, em vez de desmentir a notícia da Torre de Picoas, deveria explicar
tintim por tintim qual a razão para o desfecho do negócio. Isto é: dizer por
que razão o Ministério Público está a investigar o caso. Mas, não. Medina prefere
ser o bispo de Manuel Salgado e atacar quem o questiona. É lá com ele.
O que me faz alguma confusão nesta história é ver
pessoas credíveis como Helena Roseta adotarem um silêncio ensurdecedor. Será
que Roseta concorda com esta política do ‘quero, posso e mando’?
Finalmente Ricardo Robles. É indiscutível que o antigo
vereador do BE na Câmara de Lisboa estava a desempenhar bem o seu papel na
autarquia, denunciando as várias trapaças supostamente cometidas sob a
‘presidência’ de Salgado. Robles, antes de ser eleito vereador, era muito mais
cáustico, mas mesmo depois de assumir o cargo não se coibia de dizer de sua
justiça. Pena foi que tenha ficado refém após a história do seu imóvel. E que,
com esse episódio, se tenha perdido um vereador que se preocupava com alguma
justiça na habitação. Infelizmente, a história tem muitas ironias...
P. S. Amanhã faz 12 anos que o SOL chegou às bancas. A
todos aqueles que fizeram e fazem parte do projeto a minha vénia.
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