sexta-feira, 13 de julho de 2018

Em busca dos velhos do Restelo


Por: Costa Pereira Portugal, minha terra

No inicia da década de 60 desci do norte e só parei em Lisboa. Vinha com carta de apresentação do Abade Miranda para o seu sobrinho Joaquim Ribeiro Bouça, figura conceituada na construção civil e residente que foi na Estrada de Benfica (paróquia de NS do Amparo). Só anos mais tarde lhe fiz entrega da carta que depois de ler ma devolveu uma vez que não precisei da ajuda dele para arranjar trabalho. Precisei foi do DN onde coloquei um anúncio a pedir emprego. Demorou apenas um dia e lá me calhou a Rua da Junqueira ser o meu novo ninho, agora vizinho dos “velhos do Restelo”.
(Chão salgado onde Marquês
injustamente queimou os Mascarenhas)

Por aqui me fiquei e logo nessa passagem de ano, tive um convite do saudoso ator José Pedroso de Carvalho para como ilusionista atoar no Belém Clube. Nessa actuação ganhei logo mais dois amigos que já tenho na terra da verdade: O ilusionista Rollão e Luís Filipe Salreta. Tinha Santa Maria de Belém a meu lado e os seus devotos na mão. Pelo meio ficam muitas histórias por contar, como é norma de quem as vive e não as sabe contar ou não tem disponibilidade.
Em Belém vivi e me senti feliz por ser bem recebi como fui. Que diferença para os dias de hoje, para estes dias que dizem são modernos ou de modernices. Ali fui encontrar uma juventude sã e muito dinâmica que também na política se meteram, e pela igreja começaram com o Padre Felicidade por timoneiro. O Reis que foi do MRPP, e soube há pouco, já faleceu; o saudoso António Janeiro, que foi deputado do PS; e dos mais não falo porque nem tudo se deve dizer, senão no confessionário.
Sem nunca perder a fé que minha mãe me incutiu e eu ainda que vagamente arrebanhei, nunca me arredei muito desse tónico espiritual que nos segura quando em dificuldades não temos onde nos agarrar. E se bem que já nessa ocasião os maus ventos sopravam carregados de bactérias e micróbios pocinhentos, a verdade é que ainda havia muita gente sã que vinha dos tempos em que como era ensinado ninguém se deitava nem levantava sem dar as boas noites ou os bons dias ao país, nem de saudar a pessoa por quem se passava na rua. Mesmo em Belém isso vi acontecer. Que diferença para os dias de hoje, para estes dias que dizem de democracia.
Na casa onde almoçava conheci o Dr. Primo Casal Pelayo, pessoa de poucas conversas e muita leitura. Não fora um dia passar pelo meu local de trabalho a pedir para lhe deixar colocar um aviso relativo ao seu colégio jamais se aproximava dos convivas. Um dia, um militar meu conhecido, o tenente Coelho, que foi aluno do Colégio dos Pelayos, em Vila do Conde, ao ver-me tomar café no antigo Quiosque de Belem à mesa com o Dr. Pelayo, confidenciou-me: Em Vila do Conde ninguém tinha essa honra que o Costa Pereira tem. Mas mal sabia ele que por meu intermédio crescia o número de alunos no Externato Latino Coelho. Pagou bem com o fecundo trabalho que sobre a Ermida de Nossa Senhora da Graça, em Vilar de Ferreiros, publicou, e dedicou a D. António Cardoso Cunha, então bispo da diocese de Vila Real. Memórias de tempos idos.

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