No inicia da década de 60
desci do norte e só parei em Lisboa. Vinha com carta de apresentação do Abade
Miranda para o seu sobrinho Joaquim Ribeiro Bouça, figura conceituada na
construção civil e residente que foi na Estrada de Benfica (paróquia de NS do
Amparo). Só anos mais tarde lhe fiz entrega da carta que depois de ler ma
devolveu uma vez que não precisei da ajuda dele para arranjar trabalho.
Precisei foi do DN onde coloquei um anúncio a pedir emprego. Demorou apenas um
dia e lá me calhou a Rua da Junqueira ser o meu novo ninho, agora vizinho dos
“velhos do Restelo”.
(Chão salgado onde Marquês injustamente queimou os Mascarenhas) |
Por aqui me fiquei e logo
nessa passagem de ano, tive um convite do saudoso ator José Pedroso de Carvalho
para como ilusionista atoar no Belém Clube. Nessa actuação ganhei logo mais
dois amigos que já tenho na terra da verdade: O ilusionista Rollão e Luís
Filipe Salreta. Tinha Santa Maria de Belém a meu lado e os seus devotos na mão.
Pelo meio ficam muitas histórias por contar, como é norma de quem as vive e não
as sabe contar ou não tem disponibilidade.
Em Belém vivi e me senti
feliz por ser bem recebi como fui. Que diferença para os dias de hoje, para
estes dias que dizem são modernos ou de modernices. Ali fui encontrar uma
juventude sã e muito dinâmica que também na política se meteram, e pela igreja
começaram com o Padre Felicidade por timoneiro. O Reis que foi do MRPP, e soube
há pouco, já faleceu; o saudoso António Janeiro, que foi deputado do PS; e dos
mais não falo porque nem tudo se deve dizer, senão no confessionário.
Sem nunca perder a fé que
minha mãe me incutiu e eu ainda que vagamente arrebanhei, nunca me arredei
muito desse tónico espiritual que nos segura quando em dificuldades não temos
onde nos agarrar. E se bem que já nessa ocasião os maus ventos sopravam
carregados de bactérias e micróbios pocinhentos, a verdade é que ainda havia
muita gente sã que vinha dos tempos em que como era ensinado ninguém se deitava
nem levantava sem dar as boas noites ou os bons dias ao país, nem de saudar a
pessoa por quem se passava na rua. Mesmo em Belém isso vi acontecer. Que
diferença para os dias de hoje, para estes dias que dizem de democracia.
Na casa onde almoçava
conheci o Dr. Primo Casal Pelayo, pessoa de poucas conversas e muita leitura.
Não fora um dia passar pelo meu local de trabalho a pedir para lhe deixar
colocar um aviso relativo ao seu colégio jamais se aproximava dos convivas. Um
dia, um militar meu conhecido, o tenente Coelho, que foi aluno do Colégio dos
Pelayos, em Vila do Conde, ao ver-me tomar café no antigo Quiosque de Belem à
mesa com o Dr. Pelayo, confidenciou-me: Em Vila do Conde ninguém tinha essa
honra que o Costa Pereira tem. Mas mal sabia ele que por meu intermédio crescia
o número de alunos no Externato Latino Coelho. Pagou bem com o fecundo trabalho
que sobre a Ermida de Nossa Senhora da Graça, em Vilar de Ferreiros, publicou,
e dedicou a D. António Cardoso Cunha, então bispo da diocese de Vila Real.
Memórias de tempos idos.
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