O
Doutor Pulido Valente andava desaparecido há cerca de um ano ou mais. Para mal
do país, porque se contam pelos dedos de uma mão os comentadores rigorosos e
sérios da aldeia lusa. Vasco Pulido Valente é um deles. Andou a escrever um
belo livro, “Do fundo da gaveta”. Dois ensaios sobre o século XIX que ajudam a
perceber a época actual.
O
Doutor Pulido Valente aborda a questão política da aldeia lusa, e zurze na
classe, apontando o que há muito nos dizem os clássicos: " Num bom líder politico o carácter vem antes da inteligência e de todas as qualidades que ele precisa de ter".
Discorre sobre José Sócrates (“ Por amor de Deus, eu percebi quem era aquele senhor nos primeiros minutos …”), sobre o Bloco de Esquerda, sobre o PCP, sobre o PS (…”que teve como secretário- geral o primeiro-ministro José Sócrates, durante seis anos”. “ … nem hoje é capaz de dizer: “Este senhor fez muito mal a esta instituição”), sobre tantas outras coisas e … sobre Pedro Passos Coelho. De António Costa traz-nos esta pérola: " ... é um homem do aparelho, incaracterístico, a administrar uma situação de bloqueio. Não percebo é porque é que isso passa por habilidade".
Discorre sobre José Sócrates (“ Por amor de Deus, eu percebi quem era aquele senhor nos primeiros minutos …”), sobre o Bloco de Esquerda, sobre o PCP, sobre o PS (…”que teve como secretário- geral o primeiro-ministro José Sócrates, durante seis anos”. “ … nem hoje é capaz de dizer: “Este senhor fez muito mal a esta instituição”), sobre tantas outras coisas e … sobre Pedro Passos Coelho.
Tem
76 anos e há um que deixou de escrever as crónicas mais mordazes da imprensa.
Não deixou de pensar sobre a política, o País, mas recusa ser pessimista.
Mordaz, ainda é. E nem Marcelo Rebelo de Sousa escapou às críticas. Que pode
ler na edição Nº 738 da SÁBADO, nas bancas dia 21.
Voltou à escrita com um livro, Do Fundo
da Gaveta, em que recupera dois episódios históricos do séc. XIX. Porque é que
acha que têm paralelismo com a actualidade?
O
primeiro, não. Pode talvez mostrar as diferenças na descolonização portuguesa,
na forma como perdemos a colónia do Brasil e como perdemos o resto das
colónias. Esse primeiro ensaio é um fragmento de uma história que eu nunca
escrevi. E o outro fragmento resolvi publicar porque há paralelos muito claros
com o que se passa hoje, esse sim. É sobre as reivindicações e os movimentos da
classe média e da baixa classe média e o papel do Estado nesse conflito. E o
papel da pobreza nacional. Os movimentos políticos em Portugal dessa natureza
esbarram nos problemas do défice e da dívida do Estado.
É uma constante?
É.
Quando se reivindica, há mais défice. Se a classe política depende do Estado, e
está a reivindicar uma parte maior do rendimento nacional, vai aumentar o
défice. Os défices acumulados dão a dívida. O problema da bancarrota ameaça
sempre toda a parte produtiva e comercial da economia.
E tivemos esse concentrado nos últimos
anos: a pré-bancarrota com Sócrates, depois o discurso antidívida e agora esta
libertação. É um labirinto histórico?
As
pessoas não têm memória histórica, mas isso é o que se passou no século XIX:
tivemos várias bancarrotas. O Estado faliu rotundamente em 92 -93 e esteve
sempre em pré-falência pelo meio. Faliu em 34, em 51, em 46... Isso aconteceu
sempre.
Tendo em conta essa dimensão histórica,
Passos Coelho foi quem se aproximou mais de um certo realismo sobre a situação
do País?
Foi muito acusado de apelar ao
empobrecimento.
Passos
Coelho foi demonizado em benefício da coesão da geringonça. A geringonça
precisava de um inimigo, foi Passos Coelho. Foi uma das pessoas mais
vilificadas na política portuguesa, o que é absolutamente impensável. Tenho o
maior respeito e consideração por Pedro Passos Coelho. Fez o que era preciso.
Se não tivesse feito o que fez provavelmente teria havido uma crise social
violenta. As consequências de ele não ter feito o que fez teriam sido
gravíssimas, como as que teve a Grécia. Teria condenado as pessoas não a três
ou quatro anos de relativa pobreza, mas talvez a 10 ou 15. Ele evitou uma crise
social e deixou os fundamentos para a restauração de uma certa normalidade –
não digo bem-estar, mas uma certa normalidade – que permitiu depois
acompanharmos o crescimento da Europa.
[…].
Vê alguém no actual panorama politico
que lhe mereça admiração politica e intelectual?
Nenhum
político. Ainda há uma ou duas pessoas por quem tenho admiração intelectual,
como o embaixador José Cutileiro.
De
grande respeito. É uma extraordinária pessoa que foi um grande
primeiro-ministro e ainda se vai reconhecer isso.
Ainda há um caminho para ele na política
portuguesa?
Não
sei o que ele quer.
Mas acha que vai recuperar o seu prestígio
politico e ser candidato a Belém?
Isso
é automático, já recuperou grande parte e vai recuperar muito mais. Quando a
geringonça começar a desfazer-se ele vai aparecer como de facto, é, e como de
facto foi.
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