“O Tango”, é um
livro inédito de Jorge Luís Borges, escritor argentino, mas de ascendência transmontana (o seu bisavô era de Torre de Moncorvo) que recentemente
chegou ao grande público. Consiste num ciclo de conferências dadas pelo autor
de “Ficções” em 1965, sobre os símbolos e os mitos dessa célebre música e dança
argentina que é o tango, no 1º andar da rua General Hornos, 82.
As gravações permaneceram desconhecidas
durante muitos anos, e as conferências ficaram esquecidas, até chegarem às mãos
do escritor espanhol Bernardo Atxaga, em 2002, e serem autenticadas por María
Kodama, viúva do escritor, em 2013.
Do jornal Observador
(13/04/2018) destaca-se:
“Foi desta forma que chegou até aos
leitores de hoje uma obra ainda inédita de um escritor que nasceu há 119 anos e
morreu há 32. As conferências “luminosas e brilhantes”, reunidas em “O Tango”,
editado em Portugal pela Quetzal, revelam um Jorge Luís Borges que recitava e
cantava, ao mesmo tempo que descrevia a origem, os símbolos e os mitos da
grande música do Rio da Prata”.
Nestes textos “notáveis e coloridos”,
Borges conta a história do porto e dos bairros de Buenos Aires e do seu
violento lirismo de navalha e sangue: “O tango dá-nos a todos um passado
imaginário”.
Por isso, Borges considerava que
conhecer o tango era conhecer o lado negro da alma portenha, que entrou na
literatura com esse universo de ‘compadritos’, “mulheres de má fama”, histórias
de amor e morte, com um tom valente e feliz que depois seria também triste e
melodramático.
“E há, além disso, um nome, um nome que
os senhores, sem dúvida, estarão à espera de ouvir, e que é um nome um tanto
posterior, de Carlos Gardel. Porque Carlos Gardel, além da sua voz, além do seu
ouvido, fez algo com o tango, algo que tinha sido tentado antes, mas de um modo
parcial, e que Gardel levou, não sei se à perfeição, mas a um ponto
culminante”, diz-nos Borges.
Jorge Luis Borges nasceu em Buenos
Aires, em 1899, cresceu no bairro de Palermo, “num jardim, por detrás de uma
grade com lanças, e numa biblioteca de ilimitados livros ingleses”, como
descreveu o próprio autor. Em 1914 viajou com a família para a Europa, acabando
por se instalar em Bruxelas e, posteriormente, em Maiorca, Sevilha e Madrid.
Regressado a Buenos Aires, em 1921,
Borges começou a participar ativamente na vida cultural argentina e, dois anos
depois, publicou o seu primeiro livro, “Fervor de Buenos Aires”. O
reconhecimento internacional, contudo, só chegaria muito mais tarde, em 1961,
com o prémio Formentor, a que se seguiram muitos outros.
A par da poesia, Borges escreveu ficção
— centrada no conto e na narrativa breve –, crítica e ensaio. A sua obra cruza
todos os saberes e os grandes temas universais: o tempo, o “eu e o outro”,
Deus, o infinito, o sonho.
O escritor e ensaísta Michael Coetzee
disse de Borges que, “mais do que ninguém, renovou a linguagem de ficção e,
assim, abriu o caminho para uma geração notável de romancistas
hispano-americanos”. Jorge Luís Borges foi ainda professor de Literatura e
dirigiu a Biblioteca Nacional de Buenos Aires, de 1955 e 1973. Morreu em
Genebra, em junho de 1986. Visitou Portugal em outubro de 1984.
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