segunda-feira, 18 de junho de 2018

O mirandelense, Coronel Jorge Golias, é o «Pai da Revolução» de 25 de Abril


JORGE LAGE
A revista trimestral «O Referencial», órgão de informação da Associação 25 de Abril, no seu n.º 128 (Janeiro a Março de 2018) traz uma interessante peça sobre o colaborador do Notícias de Mirandela, Cor./Eng., Jorge Golias, com o título «O Pai da Revolução». Como diz o povo, «a verdade é como o bom azeite, vem ao de cima». Já aqui tinha referido que Jorge Golias esteve na génese do «Movimento dos Capitães» e o texto d’«O Referencial» vem confirmá-lo como verdade histórica. O texto da «Referencial» deve-se a Jorge Golias ter sido o «orador convidado» da 13.ª edição dos «Almoços com histórias», na sede da Associação 25 de Abril, em 10 de Janeiro último. Aí «o Coronel Jorge Sales Golias desfiou memórias, recordou narrativas, reviveu momentos da guerra na Guiné-Bissau e da revolução em Portugal, aceitou o confronto de outros (…).» José Manuel Barroso disse «ter sido um autêntico “trator de muitas movimentações na Guiné (…) o pivô essencial da movimentação política quer antes, quer depois do Movimento dos Capitães”, ponto de vista logo corroborado pelo Coronel Faria Correia: “considero que o Golias foi o pai da revolução”.» Como Capitão de Abril, Jorge Golias fez uma comunicação dividida em três partes: «i) Formação na Academia Militar e no Instituto Superior Técnico; ii) descolonização na Guiné-Bissau; iii) o Movimento dos Capitães e episódios do PREC». E salientou: «“Uma revolução tem isso tudo que sabemos hoje, asneiras, traições, saneamentos injustos, etc., que não nos deve envergonhar, (…) é mesmo assim e foi a dinâmica que se gerou que produziu um extraordinário saldo positivo de conquistas, aprendizagens democráticas, dessacralização do poder, sabença na reivindicação de direitos, soma positiva (…) é património do 25 de Abril. E neste caminho da compreensão dos momentos mais dramáticos da revolução, que hoje percebemos melhor, que vamos fazendo a sua catarse e nos vamos pacificando”.» E concluiu: «“chegado o momento da verdade, em que o País se podia estar a encaminhar para uma guerra civil, a solução saída do 25 de Novembro, em que os camaradas mais sensatos evitaram maiores retaliações, hoje vejo este episódio histórico como um golpe contrarrevolucionário que teve o alto mérito de evitar uma guerra civil. (…)”. Jorge Golias descreveu (…) sua formação na Academia Militar e no Instituto Superior Técnico, situando o tempo histórico do ano horribilis de Salazar, de 1961: assalto ao Santa Maria, início da guerra colonial, perda do Estado da India e assalto ao quartel de Beja. (…) levava lidos livros como “O Capital” de Karl Marx, “Manifesto do Partido Comunista” de Marx e Engels, “Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” de Engels e, em 1964, tomando conta da secção cultural da Academia Militar, colocavam na Biblioteca esses e outras obras do género. (…) assumia a dimensão de líder cultural e político numa Universidade já altamente politizada, (…) era nas unidades militares onde, (…) se vivia mais liberdade até que na sociedade civil, (…).» A PIDE aconselhou o comandante do RTM/Porto a anular a subscrição do Le Monde, em 1971, que trazia na capa «o General Spínola, (…) como o Ultimo Centurião europeu. Ora, foi (…), em 1 de julho de 1972, Jorge Golias embarcou para a Guiné, na companhia de Matos Gomes e José Manuel Barroso, tendo logo combinado que iriam fazer oposição ao regime.» Estava consciente que «a guerra de guerrilha não se podia vencer e recordou a sua intervenção, em Agosto de 1973, na Guiné, quando apelou a luta pelo fim do conflito, que passaria pela deposição do regime em Portugal, através de uma revolução armada. E, a propósito, lembrou Pezarat Correia por ter cunhado esta declaração como a primeira feita no processo da Revolução de Abril. Jorge Golias recordou a Carta Fundadora do Movimento dos Capitães de 28 de Agosto, de Bissau, (…). Discorreu sobre a formação do MOCAP na Guine e o processo de descolonização, com o MFA a integrar o gabinete de governo de Fabião. “A nossa preocupação na Guine” disse, “era não sermos ultrapassados pelos acontecimentos”. E contrariando decisões da Junta de Salvação Nacional, apresentou as primeiras medidas: a libertação dos presos da Ilha das Galinhas, a recolha dos PIDES no Campo de Instrução Militar do Cumeré e a institucionalização do MFA, (…) “Na Guiné decidimos, e bem, de acordo com as razões da situação local, nunca nos deixando ultrapassar pelos acontecimentos (…). Este foi um dos segredos do nosso sucesso.» Afinal, a Guiné, que já era independente, sendo nós tropas de ocupação, condenadas pela ONU.” (…) Jorge Golias ocupar-se-ia também do PAIGC.» No PAIGC havia, pelo menos, três facções: «o dos lideres cabo-verdianos, com a presença simbólica de Amílcar Cabral, (…); o dos guerrilheiros guinéus que nos odiavam e que queriam os ‘tugas’ fora da terra deles; e os de outros guerrilheiros que nos respeitavam, admiravam e queriam que ficássemos lá por mais uns anos, ajudando a criar condições para o novo país (…). Ou seja, estes PAIGC’s nunca se entenderam, (…).» Jorge Golias «recordou a circunstância de Carlos Fabião, enquanto CEME, o ter chamado para seu adjunto político-militar: “Fabião queria que eu replicasse em Portugal a solução da Guiné que era a institucionalização do MFA para evitar o descalabro das Forcas Armadas. Mas já era tarde como se viu!” (…) a concluir, disse: “vemos um processo que protagonizamos, que foi feito sem grandes dramas históricos, sobretudo sem sangue, com a maior ponte aérea da História de Portugal, com a feliz integração de cerca de um milhão de deslocados(…)”.» A notícia-reportagem na revista «O Referencial», que apelida Jorge Golias de «Pai da Revolução», mereceu ao conceituado académico, Telmo Verdelho, de Vale de Gouvinhas, o comentário: «um pai de elevada e responsável consciência. São páginas de fidelidade histórica testemunhada, e de boa memória, para os teus netos e para a galeria mirandelense. O 25 de abril é uma glória militar e uma festa da alegria.» Ainda, Barroso da Fonte, um trasmontano de «antes quebrar que torcer», referiu-se a Jorge Golias em elevados termos elogiosos. Como mirandelense prevejo que seja inevitável que o grande e humilde Capitão de Abril, Jorge Golias, terá o seu nome inscrito na toponímia mirandelense. É de dimensão maior entre os vivos e muito maior do que a vulgaridade de muitos topónimos.

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