Por Jorge Lage
Aquando de um percurso pedestre, no
termo de Valtelhas, o Município de Mirandela disse que era preciso contratar os
serviços de uma universidade. Ora bem, tendo nos seus quadros técnicos um
arqueólogo poderá o seu trabalho ser mais rentabilizado, afectando-lhe mais
meios? Penso que o resultado do seu trabalho deveria ir sendo noticiado para os
munícipes. Por um lado, quando se publicita muito um achado arqueológico os
«abutres» aparecem e delapidam e estragam um património que é de todos. Embora
seja crime, os criminosos gostam do interdito e da complacência da justiça.
Mas, há património arqueológico concelhio que necessita de ser divulgado. Só se
conserva o que achamos que tem valor. Outro assunto cultural, há algum tempo
que tenho vindo a sugerir que se crie o «Museu da fotografia e da Imagem» e um
«Parque Biológico da Terra Quente» que preserve a nossa imensa biodiversidade
ameaçada. Neste momento atrevo-me, ainda, a sugerir que se crie o «Museu
Arqueológico das Terras de Ledra». Há medidas populistas que são um engodo para
o desenvolvimento cultural e turístico dos concelhos em geral. Parecem boas,
mas pouco ou nada acrescento de sólido e que alavanquem desenvolvimento. «À
frente que atrás bem gente». Por exemplo, a «Pala» da Serra de Santa Comba
demorou tanto a ser estudada e outros sítios viverão, muitas vezes, do
interesse que este ou aquele Professor universitário tem em fazer o seu estudo
completo. Aliás, a seguir ao 25 de Abril, viveu-se um período em que os
responsáveis olhavam mais para a cultura da batata e dos tractores, não se
dando tanta atenção ao património arqueológico, ao património edificado e ao
património arbóreo. Esta visão autárquica foi devastadora para que
preciosidades fossem delapidadas, como aconteceu com o «Mercado de Chaves» de
valor incalculável e hoje seria um factor de desenvolvimento e atracção
turística. O betão e a traça de gosto duvidoso a agredir o casco velho da
cidade. Voltando à Arqueologia, o município, antes de contratar os serviços
duma universidade, deverá, a meu ver, traçar um plano de recuperação ou
preservação dos sítios arqueológicos, escudando-se no arqueólogo municipal. Tal
trabalho poderia ter uma maior base cultural se o Município tivesse um
«Conselho Consultivo Cultural». Porém, a um técnico de arqueologia pode-se
exigir trabalho, planeamento e levantamento do património a preservar para
valorizar o território municipal. As universidades estudam mais os locais que
lhe interessam ou de interesse para este ou aquele professor. O complexo de
inferioridade, perante o chapéu da universidade aponta nessa direcção. Se
Mértola não tivesse um óptimo arqueólogo o concelho estaria tão valorizado? Se
Marvão não tivesse a Fundação da Ammaia, com mais que um arqueólogo, este
território não estaria tão valorizado. Valorizado, pelo menos, para o turismo
cultural. Isto não invalida que os municípios ofereçam campos de trabalho e de
estágio ao meio universitário, bem como solicitarem apoio, quando necessário.
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