Todos os indicadores, em especial os
estudos internacionais, mostram um grande avanço na educação mas é agora,
quando os sucessos são evidentes, que os “especialistas” dizem que tudo precisa
de mudar.
A frase ‘contra factos não há
argumentos’ é bem conhecida. Mas há quem funcione ao contrário. Para alguns, os
factos não contam. Só interessam os argumentos. Ou, como dizem, misturando pós-modernismo
com desfaçatez, o que interessa é a ‘narrativa’.
Assim estão alguns atores políticos e
alguns agentes educativos.
Lembram-se do que alguns políticos e
ditos especialistas em educação diziam no princípio deste século, quando
muitos, entre os quais o autor destas linhas, falavam em crise na educação?
Diziam que era “catastrofismo”, que “tantos zeros e tantas negativas” não eram
sinal de crise no ensino da matemática, lamentavam que os indicadores
“alimentem mediaticamente a opinião pública” e diziam que não éramos “nem
piores nem melhores” que os outros.
Quem tiver dúvidas e quiser ler uma
surpreendente coleção de declarações de responsáveis políticos e educativos da
época pode ler as citações que coligi nas páginas 21 a 27 do meu livro “Eduquês”.
Relembremos alguns factos. Qual era a
situação relativa do nosso país? No TIMSS, em matemática do 4.º ano, de entre
os países participantes, estávamos no antepenúltimo lugarcom 475 pontos. Atrás de
nós, havia apenas a Islândia e o Irão.
No PISA, em 2000, de entre os países
participantes que pertenciam então à OCDE, Portugal ocupava a antepenúltima
posição em ciências e a leitura. Em matemática, só
tinha três países atrás.
A taxa de abandono escolar precoce era
43,6% em 2000. Quer isto dizer que apenas 56,4% dos jovens entre os 18 e os 24
estavam a estudar ou tinham completado o Secundário. Na União Europeia apenas Malta tinha um resultado pior.
Em 2000, as taxas de reprovação eram
escandalosamente altas. Atingiam cerca de 10% no 4.º ano, 16% no 9.º e 50% no
12.º.
Neste quadro triste, desde a Presidência
da República ao Conselho Nacional de Educação, criticava-se o “catastrofismo”e
dizia-se que não, que a educação não estava em crise! Eram os críticos que
estavam enganados.
Entretanto, tudo ou quase tudo melhorou.
Fruto de um esforço persistente das escolas, dos professores, dos pais e de
vários governos, chegámos a 2015 com um panorama totalmente diferente.
No TIMSS, em matemática do 4.º ano,
passámos do antepenúltimo lugar para um lugar cimeiro, acima da
média, com 36 países atrás de nós. Passámos de 475 para 541 pontos. Passámos à
frente da mítica Finlândia!
No PISA, das últimas posições ocupadas
em 2000, passámos em 2015 para cima da média da OCDE.
Em leitura, subimos de 470 para 498 pontos. Em matemática, progredimos de 454
para 492 pontos. E em ciências, passámos de 459 para 501 pontos.
A taxa de abandono escolar precoce
melhorou, descendo dos 43,6% em 2000 para os 28,3% em 2010 e 13,7% em 2015.
Passámos à frente da Espanha e da Itália.
As taxas de reprovação também
melhoraram. Em 2015, no 4.º, 9.º e 12.º anos, desceram para 2%, 10% e 30%. Ou
seja, no 4.º ano, e com a Prova Final da altura, reduziu-se a retenção para
quase um quarto do que era; no 9.º e no 12.º, reduziu-se para dois terços do
que era.
Se em vez de examinarmos esses anos
terminais de ciclo olharmos para as reprovações por ciclo, os resultados são
igualmente impressionantes. A conclusão é simples: com mais exigência e mais
organização conseguiu-se que os alunos tivessem mais sucesso.
Em 2015, com as avaliações
internacionais, tornou-se claro que as melhorias foram generalizadas. Ao
contrário de muitos países e situações em que, quando as médias melhoram, os
alunos mais fracos pioram e são deixados para trás, ou daqueles países e
situações em que os alunos mais fracos melhoram, mas a insistência em reduzir
as desigualdades piora o desempenho dos melhores alunos, ao contrário de todos
estes casos, em 2015, a melhoria dos estudantes portugueses foi generalizada.
Nem se “nivelou por baixo” nem se prejudicaram os melhores.
Portugal recebe um destaque particular
do PISA também por essa razão. O relatório da OCDE de 2015 afirma na página 266: “Macau
(China) e Portugal foram capazes de ‘elevar todos’ no desempenho em ciências,
matemática e leitura relativamente à última década, aumentando o número de
alunos no topo e, ao mesmo tempo, reduzindo o número de estudantes nos níveis
mais baixos. As suas experiências mostram que os sistemas educacionais podem nutrir
os melhores e simultaneamente ajudar os estudantes com dificuldades.”
Esta melhoria em praticamente todos os
indicadores educativos foi progressiva entre 2000 e 2015. Muitos fatores
contribuíram para o progresso, mas o fator central foi o maior rigor e a maior
atenção aos resultados.
Ou seja, foi o trabalho a montante e a
jusante. A montante, foram programas sucessivamente mais bem estruturados e
rigorosos, foram metas curriculares, foi a melhoria dos manuais escolares,
obtida com um processo de avaliação e certificação, foi a atenção especial à
matemática e ao português, que se consideraram justamente como matérias
estruturantes, foram medidas de apoio especial aos alunos com mais
dificuldades, foi o desenvolvimento de vias profissionalizantes. A jusante, foi
a introdução sucessiva de uma avaliação mais rigorosa e frequente, com provas
de aferição ou provas finais e exames em todos os fins de ciclo, foi a
divulgação destes resultados, que permitiu corrigir o que não funcionava e
ajudou todos, pais, escolas, professores, alunos, a empenharem-se para melhorar
a educação. De uma maneira ou de outra, com problemas e desentendimentos, foi
esta a orientação geral seguida de 2000 a 2015, qualquer que fosse o partido no
governo.
O resultado foi um progresso que se
manifesta em todos os indicadores educativos. Em educação, Portugal é um país
diferente em 2015 do que era em 2000. Havia então um percurso muito longo a
fazer, apesar de muitos terem tentado negá-lo. Ainda hoje há muito a melhorar,
mas já não nos envergonhamos no panorama internacional.
Pois que nos dizem agora os mesmos que
criticavam os “catastrofistas” de 2000? Dizem que não, dizem que tudo piorou.
E que solução oferecem? Continuar a
progredir na linha do que se fez entre 2000 e 2015? Não. O que sugerem é que se
eliminem os progressos e se retorne ao século passado, que se elimine o rigor
dos programas e se abandonem as metas curriculares, que se flexibilize o
currículo e se desvalorizem progressivamente os exames, que se esqueça a
revisão e certificação dos manuais escolares, que se abandone a exigência e
rigor dos conteúdos e se valorizem competências vagas.
Para quem os factos não contam, só
interessam as narrativas. Não interessa o país?!
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