JORGE LAGE |
«Quem me dera cá o Verão,
O tempo das carmiadas!
Queria dar ao meu amor
Quatro castanhas piladas.»
Destaco a palavra «carmiadas»
que tem diversos significados exarados no Grande Dicionário da Língua
Portuguesa (de José Pedro Machado): poderá ser um estado da Natureza que tem
muitos frutos vermelhos (este tempo seria no Verão ou princípio do Outono). O
douto Frei Henrique Pinto Rema, da Academia de História, baseado no mesmo
léxico, avançou-me com: «<carmeada>, efeito de carmear, de desfazer de
nós (...), <carmear>, desenrolar, abrir» e para hipótese de descascar as
castanhas e cozê-las (tempo de Outono e de magustos). Eu, Inicialmente,
associei carmeadas a desfolhadas, por ligação aos «farripos» ou tiras do
folhato ao descaroçar-se o milho e as castanhas assadas que se comiam no final,
como reza noutra quadra popular. Só que o meu engano desfez-se ao aperceber-me
que «castanhas piladas» têm um tempo diferente dos magustos e do assar as
castanhas. Assim, tentei descobrir outro significado e contexto de «tempo das
carmiadas». A quadra foi recolhida, em Genísio (lá, uma senhora faz o melhor
licor de cerejas que conheço) - Miranda do Douro, para o Cancioneiro Popular
Trasmontano e Alto-duriense, de Guilherme Felgueiras, levando-me a trocar
pontos de vista com o douto, António Bárbolo, de Picote, especialista em
línguas minoritárias, dizendo-me não haver lá as tradicionais desfolhadas do
milho, como soi no Minho e Douro Litoral. Então, «o tempo das carmiadas»
leva-me a inclinar mais para o tratamento da lã (tosquia, lavagem, desenriço e
farripagem), situando-se por Maio/Junho, após o tempo da tosquia que ocorria de
finais de Março a princípio de Maio. Depois, iniciava-se o carmear, desenriçar
ou desnovelar a lã, para a fiação e tecelagem. Nas fainas entravam sempre as
castanhas piladas (cruas ou cozidas). As castanhas piladas eram no Portugal
rural medievo e moderno, o que hoje é a gradura na alimentação. Por isso,
causa-me algum incómodo ver, no site da Câmara Municipal de Mirandela, alguns
vocábulos ou expressões serem tratados com ligeireza. Já referi noutros
momentos que, por exemplo, os naturais do Regodeiro (Múrias), são «gateiros» (de rego de água) e não
gaiteiros, como escreve o ilustre Abade de Baçal na sua obra monumental. Um
erro ou uma gralha não passam disso, sejam cometidas por quem quer seja. Aliás,
«só não erra quem não anda com as mãos na massa». Outro erro que pode levar à
chacota é colocarem-se no brasão da freguesia de Caravelas quatro caravelas.
Até o termo, «andas de lado como os de Caravelas», como me informou o amigo,
Silvino Potência, nada tem a ver com o dar umas arrochadas ao asno. Vou ter que
corrigir esse dito e dar-lhe o sentido certo. O verso «de monte em monte» para
«de monte a monte», da canção «Adeus
ó Vale de Gouvinhas» deve ser corrigido pela Junta de Freguesia. O site do
município, a meu ver, precisa de uma revisão cuidada.
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