quarta-feira, 21 de março de 2018

Floresta de ignorância e demagogia populista



JORGE LAGE
Há anos, quando foi criada a lei que regula a vegetação arbórea junto às casas e vias, um jornal do Barroso dizia que os proprietários tinham de cortar «todas as árvores» num perímetro de 50 metros em volta das casas e a menos de 100 metros das povoações. Na altura apercebi-me da atoarda e saí-lhe à estacada com alguma energia. Qual não é o meu espanto que a cena volta à ribalta, agora pela boca do Primeiro-ministro. Então para que servem os Ministros, da Agricultura e do Ambiente e dos secretários de estado? Não se manifestam contra ou aconselham o homem? E para que servem os pelotões de assessores com formação ambiental e florestal? O que fazem os deputados da Assembleia da República, da comissão do Ambiente e Floresta?
O Primeiro-ministro com o seu lado ameaçador, veio amedrontar tudo e a induzir em erro as pessoas que desconhecem a lei. E os presidentes dos municípios não têm nos «gabinetes técnicos florestais» (GTF) que os aconselhem e protestem contra a enormidade? Há na nas redes sociais informação falsa que outros adoptam na prática. As pessoas credenciadas tecnicamente, para darem informação segura, são os técnicos dos GTF. Já há gente nos municípios, sem estar autorizada, que manda cortar nespereiras no quintal ou nogueiras e outras fruteiras na horta. As folhosas não são ameaça aos incêndios, mas uma barreira natural à progressão. Devido á incúria e desleixo dos políticos, ao longo de décadas, o Primeiro-ministro, com o seu autoritarismo, quer arrasar tudo, como se as árvores fossem as criminosas! Eu não duvidaria um segundo em desobedecer porque ninguém me poderia obrigar a cumprir uma ordem ilegítima. Os sábios anciãos de Gondiães também não vão cortar os castanheiros, as nogueiras, os carvalhos e os plátanos (para a vinha de enforcado) que deixaram como perímetro de segurança em volta da aldeia, o mais é monocultura de pinheiros que geram riqueza. Preocupam-me as «árvores classificadas de interesse público», como a grande «Castanheira de Lagarelhos», junto a Vinhais, que tem o novo edifício da junta de freguesia quase colado. O gigante «Eucalipto da Gandarela» (Celorico de Basto) está próximo de uma casa. Este é o eucalipto maior de Portugal no seu tronco e uma atracção turístico-ambiental para a região. Se tudo estiver limpo em seu redor não é, nem será, nenhuma ameaça. Há muita árvore centenária, junto das localidades, que alguns abutres da madeira e lenhadores querem pilhar. É preciso salvar essas árvores do abate. Desde que os terrenos estejam limpos e as árvores tratadas não são ameaça de nada. As árvores ripícolas, como o amieiro, o freixo, o cházeiro e outras são uma barreira à propagação dos incêndios. Devem estar podadas e, sobretudo, os terrenos em que habitam limpos de vegetação comburente. As cabras são óptimos agentes de limpeza (ver o meu texto, «Sapadoras florestais (…)» - Notícias de Mirandela de 31AGO2017). As árvores são seres vivos inteligentes de uma generosidade extrema, além da madeira, da lenha, dos frutos, do fertilizante orgânico, são fábricas de produção de oxigénio, purificando o ar que respiramos e tornam os locais mais frescos no Verão (uma árvore frondosa junto a uma casa poupa 20% de energia no ar condicionado). Passear na floresta ou em parques arbóreos dão-nos tranquilidade e bem-estar e ajuda a combater o stress. Foi o souto multicentenário que rodeia a aldeia de Castanheira - Pampilhosa da Serra, que livrou a aldeia de ser engolida pelo incêndio devastador de 14 de Outubro.
Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com– 01FEV2018

Provérbios ou ditos:

      Quando o sol aperta, o ouriço arreganha.
      Dia de S. Matias, cata Março dali a cinco dias.
      Quem vos conhece de pequeno, não vos respeita de grande.

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