JORGE LAGE |
Há anos, quando foi criada
a lei que regula a vegetação arbórea junto às casas e vias, um jornal do
Barroso dizia que os proprietários tinham de cortar «todas as árvores» num
perímetro de 50 metros em volta das casas e a menos de 100 metros das
povoações. Na altura apercebi-me da atoarda e saí-lhe à estacada com alguma
energia. Qual não é o meu espanto que a cena volta à ribalta, agora pela boca
do Primeiro-ministro. Então para que servem os Ministros, da Agricultura e do
Ambiente e dos secretários de estado? Não se manifestam contra ou aconselham o
homem? E para que servem os pelotões de assessores com formação ambiental e
florestal? O que fazem os deputados da Assembleia da República, da comissão do
Ambiente e Floresta?
O Primeiro-ministro com o seu lado ameaçador, veio
amedrontar tudo e a induzir em erro as pessoas que desconhecem a lei. E os
presidentes dos municípios não têm nos «gabinetes técnicos florestais» (GTF)
que os aconselhem e protestem contra a enormidade? Há na nas redes sociais
informação falsa que outros adoptam na prática. As pessoas credenciadas
tecnicamente, para darem informação segura, são os técnicos dos GTF. Já há
gente nos municípios, sem estar autorizada, que manda cortar nespereiras no
quintal ou nogueiras e outras fruteiras na horta. As folhosas não são ameaça
aos incêndios, mas uma barreira natural à progressão. Devido á incúria e
desleixo dos políticos, ao longo de décadas, o Primeiro-ministro, com o seu
autoritarismo, quer arrasar tudo, como se as árvores fossem as criminosas! Eu
não duvidaria um segundo em desobedecer porque ninguém me poderia obrigar a
cumprir uma ordem ilegítima. Os sábios anciãos de Gondiães também não vão
cortar os castanheiros, as nogueiras, os carvalhos e os plátanos (para a vinha
de enforcado) que deixaram como perímetro de segurança em volta da aldeia, o
mais é monocultura de pinheiros que geram riqueza. Preocupam-me as «árvores
classificadas de interesse público», como a grande «Castanheira de Lagarelhos»,
junto a Vinhais, que tem o novo edifício da junta de freguesia quase colado. O
gigante «Eucalipto da Gandarela» (Celorico de Basto) está próximo de uma casa.
Este é o eucalipto maior de Portugal no seu tronco e uma atracção
turístico-ambiental para a região. Se tudo estiver limpo em seu redor não é,
nem será, nenhuma ameaça. Há muita árvore centenária, junto das localidades,
que alguns abutres da madeira e lenhadores querem pilhar. É preciso salvar
essas árvores do abate. Desde que os terrenos estejam limpos e as árvores
tratadas não são ameaça de nada. As árvores ripícolas, como o amieiro, o
freixo, o cházeiro e outras são uma barreira à propagação dos incêndios. Devem
estar podadas e, sobretudo, os terrenos em que habitam limpos de vegetação
comburente. As cabras são óptimos agentes de limpeza (ver o meu texto,
«Sapadoras florestais (…)» - Notícias de Mirandela de 31AGO2017). As árvores
são seres vivos inteligentes de uma generosidade extrema, além da madeira, da
lenha, dos frutos, do fertilizante orgânico, são fábricas de produção de
oxigénio, purificando o ar que respiramos e tornam os locais mais frescos no
Verão (uma árvore frondosa junto a uma casa poupa 20% de energia no ar
condicionado). Passear na floresta ou em parques arbóreos dão-nos tranquilidade
e bem-estar e ajuda a combater o stress. Foi o souto multicentenário que rodeia
a aldeia de Castanheira - Pampilhosa da Serra, que livrou a aldeia de ser
engolida pelo incêndio devastador de 14 de Outubro.
Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com– 01FEV2018
Provérbios ou ditos:
Quando o sol aperta, o ouriço
arreganha.
Dia de S. Matias, cata Março
dali a cinco dias.
Quem vos conhece de pequeno,
não vos respeita de grande.
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