quinta-feira, 22 de março de 2018

A alteridade e fenomenologia em Nomes Próprios de André Veríssim


Este pensador Barrosão enveredou pelos caminhos da filosofia e, conscientemente, deixou-se enfeitiçar pela fenomenologia religiosa, quando elegeu para tese de mestrado O tempo e o outro de Husserl a Levinas, passando pela publicação da Intriga Ética bem como muitos outros escritos (Emmanuel Levinas 1906-1995 – Uma vida entre parêntesis; A Crise do Homem - uma ética do tempo comum; Sociedade Complexa – teorias da comunicação; A Intersubjetividade com Deus como forma histórica, intramundana – como separata do Congresso Internacional As Confissões de Santo Agostinho 1600 anos depois: presença e actualidade; Ética Judaica I – Hermenêutica Elementar; e co-autor de diversos Livros entre os quais Dor e Sofrimento – Uma perspetiva Interdisciplinar com a contribuição Sofrimento e Shoah, 23 páginas em torno de Hans Jonas; bem como outros tantos ou mais livros), sendo um dos mais recentes o livro Nomes Próprios Vol. I (Vol. II já em vias de publicação) dessa mundividência declarativa. Alguns dos mais incisivos mentores desta confraria fenomenológica.
A filosofia é essencialmente uma ciência dos começos verdadeiros, das origens, dos inícios da sociedade pensante. Husserl disse que «a ciência do radical tem que proceder também radicalmente, e sob todos os respeitos. Sobretudo ela não deve descansar antes de ter chegado aos seus inícios, isto é, aos seus problemas absolutamente claros, aos métodos delineados no próprio sentido desses problemas, e ao campo ínfimo da elaboração das coisas de apresentação absolutamente clara».
Como mãe de todas as ciências, a Filosofia tem de responder e corresponder a todas as dúvidas que se levantem à alteridade. O outro tem sempre direito às explicações que suscita e que a ciência tem o direito e o dever de dar no espaço e no tempo.
André Veríssimo é um filósofo, escravo das questões com que se confrontou, quer como ser religioso, como moderador de consciências, quer mesmo como pedagogo e cidadão preocupado com a cidadania da alteridade em que nasceu e vive. No seu já longo percurso de viandante, questionou-se e questionou os outros. Os tais que constituem «o princípio da alteridade» com que inicia a introdução desta obra, a que chamou os Nomes Próprios Vol. I (ver p. 12). Aí define esse princípio como «movimento de alocentridade em Levinas como na ética judaica e pós estrutural percebemos esse veículo de indícios sublinhados por Jacques Derrida que nos habilita à escuta do grande moralista de feição husserliana do século XX».
A já longa experiência de André Veríssimo, quer teórica quer prática, é um somatório afirmativo que serve de alavanca aos 45 capítulos distribuídos por seis partes (ou estações da via-sacra fenomenológica), a saber: ética, retórica, filosófica, teoria política, pedagogia e crítica.
Na contracapa deste mais recente livro afirma André Veríssimo que a «maioria dos moralistas contemporâneos apresenta a ética moderna como a destruição de toda a moralidade, um nihilismo mortal, o nascimento de um mundo sem ética (…). A realidade humana é confusa e ambígua e também as decisões morais, diversamente dos princípios filosóficos éticos abstratos, são ambivalentes». Estas tendências do menor esforço, são causa direta do laissez-faire, muito na moda do deixa andar. Quando se pretende minimizar o papel dos «filósofos angustiados que não conseguem conceber moralidade sem princípios, sem fundamentações, demonstramos dia a dia, que podemos viver, ou aprender a viver ou tentar viver num mundo desse tipo, embora poucos de nós estejamos preparados para expressar...»
André Veríssimo ao trazer a público o primeiro volume de Nomes Próprios, enuncia um esboço temático de mais nove tomos, através dos quais tentará explicar-se e explicar aos seus leitores. Faz essa promessa na Introdução, na abordagem Do humanismo à modernidade sem ilusões. Num primeiro item convida o «outro, em que o outro não está mais aí e que, por isso, devo assumir a sua falta – é o momento no qual a obra se mostra mais viva e, também por isso é quando a vida pode mostrar-se obra.» Neste âmbito, conjugando o pensamento de Jacques Derrida com Levinas, dois pensadores mais próximos de nós, faz crer que em Totalidade e Infinito, podemos principiar por ver a obra pensada como «fecundidade», mesmo quando invoca a Epifania da morte que para Derrida é o momento que me falta o outro.

Um prefácio suavizador de Milena de Barros

A meia dúzia de itens que desfilam nas trezentas e quarenta páginas deste livro, enunciados no título e desenvolvidos nos 45 capítulos, merecem tratamento suave, mas corajoso, nas pp 10 e 11 e à luz da visão da jurista Milena de Barros. O direito é, como todas as ciências, filha da filosofia. E reconciliam-se, admiravelmente, neste tratado, numa síntese de duas páginas, em postura concordante, como aí se lê: «com o rigor e a profundidade a que habituou os seus leitores, vem o Filósofo, Investigador, Professor, Ensaísta e Autor, guiador da perplexidade em temas humanos e problemas sociais – André Veríssimo - presentear o seu auditório com este livro» que se lê e relê num ápice.
 À laia de síntese deixa ao cidadão um entusiasmante convite: «O leitor traça o seu próprio trajeto, podendo fazer visita às terras descobertas ou a descobrir, que entender e na ordem que entender». Quem se questiona perante a realidade cósmica que nos rodeia, nos toca e nos assusta, por cada fenómeno estranho que acontece, precisa de ler e de compreender as teorias científicas desta panóplia de pensadores que desfilam nesta passarelle: ensaios de ética, retórica, filosofia, teoria política, pedagogia e crítica.

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