Este pensador Barrosão enveredou
pelos caminhos da filosofia e, conscientemente, deixou-se enfeitiçar pela
fenomenologia religiosa, quando elegeu para tese de mestrado O tempo e o outro
de Husserl a Levinas, passando pela publicação da Intriga Ética bem como muitos
outros escritos (Emmanuel Levinas 1906-1995 – Uma vida entre parêntesis; A
Crise do Homem - uma ética do tempo comum; Sociedade Complexa – teorias da
comunicação; A Intersubjetividade com Deus como forma histórica, intramundana –
como separata do Congresso Internacional As Confissões de Santo Agostinho 1600
anos depois: presença e actualidade; Ética Judaica I – Hermenêutica Elementar;
e co-autor de diversos Livros entre os quais Dor e Sofrimento – Uma perspetiva
Interdisciplinar com a contribuição Sofrimento e Shoah, 23 páginas em torno de
Hans Jonas; bem como outros tantos ou mais livros), sendo um dos mais recentes
o livro Nomes Próprios Vol. I (Vol. II já em vias de publicação) dessa
mundividência declarativa. Alguns dos mais incisivos mentores desta confraria
fenomenológica.
A filosofia é essencialmente uma
ciência dos começos verdadeiros, das origens, dos inícios da sociedade
pensante. Husserl disse que «a ciência do radical tem que proceder também
radicalmente, e sob todos os respeitos. Sobretudo ela não deve descansar antes
de ter chegado aos seus inícios, isto é, aos seus problemas absolutamente
claros, aos métodos delineados no próprio sentido desses problemas, e ao campo ínfimo
da elaboração das coisas de apresentação absolutamente clara».
Como mãe de todas as ciências, a
Filosofia tem de responder e corresponder a todas as dúvidas que se levantem à
alteridade. O outro tem sempre direito às explicações que suscita e que a
ciência tem o direito e o dever de dar no espaço e no tempo.
André Veríssimo é um filósofo,
escravo das questões com que se confrontou, quer como ser religioso, como
moderador de consciências, quer mesmo como pedagogo e cidadão preocupado com a
cidadania da alteridade em que nasceu e vive. No seu já longo percurso de
viandante, questionou-se e questionou os outros. Os tais que constituem «o
princípio da alteridade» com que inicia a introdução desta obra, a que chamou
os Nomes Próprios Vol. I (ver p. 12). Aí define esse princípio como «movimento
de alocentridade em Levinas como na ética judaica e pós estrutural percebemos
esse veículo de indícios sublinhados por Jacques Derrida que nos habilita à
escuta do grande moralista de feição husserliana do século XX».
A já longa experiência de André
Veríssimo, quer teórica quer prática, é um somatório afirmativo que serve de
alavanca aos 45 capítulos distribuídos por seis partes (ou estações da
via-sacra fenomenológica), a saber: ética, retórica, filosófica, teoria política,
pedagogia e crítica.
Na contracapa deste mais recente
livro afirma André Veríssimo que a «maioria dos moralistas contemporâneos
apresenta a ética moderna como a destruição de toda a moralidade, um nihilismo
mortal, o nascimento de um mundo sem ética (…). A realidade humana é confusa e
ambígua e também as decisões morais, diversamente dos princípios filosóficos
éticos abstratos, são ambivalentes». Estas tendências do menor esforço, são
causa direta do laissez-faire, muito na moda do deixa andar. Quando se pretende
minimizar o papel dos «filósofos angustiados que não conseguem conceber
moralidade sem princípios, sem fundamentações, demonstramos dia a dia, que
podemos viver, ou aprender a viver ou tentar viver num mundo desse tipo, embora
poucos de nós estejamos preparados para expressar...»
André Veríssimo ao trazer a
público o primeiro volume de Nomes Próprios, enuncia um esboço temático de mais
nove tomos, através dos quais tentará explicar-se e explicar aos seus leitores.
Faz essa promessa na Introdução, na abordagem Do humanismo à modernidade sem
ilusões. Num primeiro item convida o «outro, em que o outro não está mais aí e
que, por isso, devo assumir a sua falta – é o momento no qual a obra se mostra
mais viva e, também por isso é quando a vida pode mostrar-se obra.» Neste
âmbito, conjugando o pensamento de Jacques Derrida com Levinas, dois pensadores
mais próximos de nós, faz crer que em Totalidade e Infinito, podemos principiar
por ver a obra pensada como «fecundidade», mesmo quando invoca a Epifania da
morte que para Derrida é o momento que me falta o outro.
Um prefácio suavizador de
Milena de Barros
A meia dúzia de itens que
desfilam nas trezentas e quarenta páginas deste livro, enunciados no título e
desenvolvidos nos 45 capítulos, merecem tratamento suave, mas corajoso, nas pp
10 e 11 e à luz da visão da jurista Milena de Barros. O direito é, como todas
as ciências, filha da filosofia. E reconciliam-se, admiravelmente, neste
tratado, numa síntese de duas páginas, em postura concordante, como aí se lê:
«com o rigor e a profundidade a que habituou os seus leitores, vem o Filósofo,
Investigador, Professor, Ensaísta e Autor, guiador da perplexidade em temas
humanos e problemas sociais – André Veríssimo - presentear o seu auditório com
este livro» que se lê e relê num ápice.
À laia de síntese deixa ao cidadão um
entusiasmante convite: «O leitor traça o seu próprio trajeto, podendo fazer
visita às terras descobertas ou a descobrir, que entender e na ordem que
entender». Quem se questiona perante a realidade cósmica que nos rodeia, nos
toca e nos assusta, por cada fenómeno estranho que acontece, precisa de ler e
de compreender as teorias científicas desta panóplia de pensadores que desfilam
nesta passarelle: ensaios de ética, retórica, filosofia, teoria política,
pedagogia e crítica.
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