sábado, 4 de novembro de 2017

Ministério público já abriu inquérito à suspeita de votos comprados em Montalegre


BARROSO da FONTE
1. Na edição do Diário de Notícias, de 7/10, mas com base na Lusa, escreve-se, em manchete, que «O ministério Público já abriu um inquérito ao caso da suspeita e fraude eleitoral em Montalegre, onde, nas últimas eleições autárquicas, centenas de emigrantes foram recebidos por um autarca no aeroporto Sá Carneiro e transportados para as autarquias onde votaram», regressando, de imediato aos países de onde vieram com transporte e refeições pagas. Segundo se lê na mesma fonte «o caso foi revelado pelo programa “Sexta às 9” da RTP que indicava que esses emigrantes tinham à sua espera, no aeroporto, o presidente da junta de freguesia de Meixedo e Padornelos, Ricardo Moura, recandidato nas listas do PS, no concelho de Montalegre. O programa mostrava que a entrada dos emigrantes nos autocarros que os aguardavam, era coordenada pelo autarca» que viajava no “lugar do crime” pelo facto de enjoar». Continua a ler-se no DN que «no domingo seguinte, dia da votação, logo à abertura das urnas, os mesmos emigrantes foram encontrados, pelo “Sexta-Feira às 9”, a votar na freguesia, onde o presidente de junta acabou por ser reeleito: a União de Freguesias de Meixedo e de Padornelos». Estes acontecimentos foram filmados, editados e tele-visionados por milhões de cidadãos, nesses dias. E ainda circulam, e vão perdurar, online, assim como vai acontecer, com o debate radiofónico pré-eleitoral, entre os três candidatos, emitido pela rádio Montalegre e coordenado por um locutor flaviense que, sendo um antigo radiologista e repórter, sediado em Vila Real, não teve tarefa fácil nessa noite infeliz para todos os intervenientes. Foi mau de mais para a região de Barroso, para quem o viu e ouviu e até para as futuras gerações que hão-de lembrá-lo, para além delas. Uma pobreza franciscana, a todos os níveis, quer na linguagem, quer nos gestos, quer na chusma de palavrões, de infâmias, de jaculatórias, mais próprias das sextas-feiras 13, do que de representantes do povo ordeiro, sensato, prudente e calmo. Foram feitas nesse fórum afirmações de quem devia dar exemplos de civismo, de tolerância, de respeito e de democracia, através de palavras e de gestos que ofenderam, mais do que reconfortaram, os destinatários. Algumas dessas afirmações foram graves, por falsas, maliciosas e descontextualizadas. E não só para os presentes, como para com os ausentes, como a seu tempo se verá.

2. Depois dessa tragicomédia mais apropriada para a bruxaria da «Sexta-Feira 13», que esteve bem mas que não apagou a memória desse debate, da excursão eleitoral e das evidências reveladas pela RTP, no dia 6 de Outubro, que já estão a ser alvo de averiguação judicial, esperava-se que no ato de posse dos eleitos locais, os excessos linguísticos, as injúrias, as mentiras e as dislexias mentais, dessem lugar a palavras apaziguadoras, toleráveis, civilizadas e coerentes, para uma convivência serena nos quatro anos seguintes. Aconteceu o pior. Um discurso escrito, lido e apresentado em tom que agradou, naturalmente, aos bem-intencionados, que batem palmas de boa fé, mas que desagradou a muitos convidados, aos neutros e até às crianças que perguntaram pelo significado dos foguetes, em semana e dia de luto nacional, pelas vítimas dos incêndios. E desagradaram, sobretudo, aos vereadores e deputados municipais que deveriam ouvir uma mensagem serena, pacificadora e propícia a preparar um ambiente de fraternidade telúrica e convivencial para os quatro anos de mandato. As tomadas de posse dos políticos deverão primar pela serenidade, pela prudência, pela sã convivência social. Não pode ser um ajuste de contas, pelo que se deveria ter dito e ficou por dizer, ora no debate a três, ora nas 48 horas de reflexão obrigatória. Foram seis páginas penosas, provocatórias e indiciárias de que o reeleito edil se robusteceu nesta segunda vitória para incentivar os adversários, para inviabilizar acordos e para unir os barrosões. Impossível e inédito!

3. Orlando Alves, mesmo que tente regenerar-se dos maus fígados que mostra perante quem não vá com ele à missa, dificilmente o conseguirá. Teve alguns mestres, mesmo no seu partido, que poderia seguir, depois das campanhas eleitorais. Um qualquer presidente da Câmara, de Assembleia Municipal, de Governo, pelo facto de ter garantidos os votos da sua bancada, deve saber que não está livre de precisar do apoio da oposição para obviar projetos comuns. O Alto Tâmega é epicentro de seis outros concelhos que nas últimas duas décadas concretizaram empresas comuns que precisam, entre si, da oposição. Orlando Alves sabe disso melhor que ninguém, porque é um político profissional. Está enganado se há situações como este flagelo dos incêndios que obrigam a classe política a unir-se em nome do bem comum. Nas decisões municipais que se tomam nas reuniões mensais ou quinzenais e que são obrigatórias, tanto peso tem o voto da oposição como do grupo que gere a Câmara. Cada um dos sete vereadores teve o mesmo número de eleitores. O PS teve cinco eleitos e a coligação apenas teve dois. Já antes fora o contrário. Mas todos foram eleitos. E, a partir da instalação da Câmara, até final desse mandato, são todos vereadores, merecendo o mesmo respeito democrático. Perante palavrões de «boca suja», «aldrabão», «cale-se seu reles», «seja educado seu reles», etc, qual será a predisposição do vereador Carvalho de Moura para manter em público, como em privado, a decência e cortesia que são atributos indispensáveis à cidadania mais elementar?

4. Para quem não ouviu, nem tem acesso ao site da Câmara, onde estão gravadas, em papel timbrado da autarquia, as seis páginas do discurso de Orlando Alves, vale a pena obtê-lo e guardá-lo. Talvez esse estilo seja útil ao Ministério Público quando elaborar o relatório acerca do tom, do ambiente linguístico e da riqueza verbal e ética do grande beneficiado da eventual fraude eleitoral que mereceu caixa alta no programa da televisão pública «Sexta às 9». Pelas piores razões Montalegre correu mundo, como exemplo a não seguir, numa democracia plena. Esta mensagem que deveria ser uma espécie de água-benta para purificar, mais lembra lixívia que se usa, por engano, nos esgotos ou em roupa manchada. Mas foi o contrário, como iremos ver em crónicas posteriores. E mais do que isso: talvez o reeleito Presidente da Câmara de Montalegre venha a ser vítima do grito de vitória, quando afirma que os «ajustes diretos são instrumentos legais de que dispomos para que o dinheiro fique na nossa terra». Assim têm feito e «assim iremos continuar». Pela boca morre o peixe. Talvez esta bicada pretenda justificar «o polvo» que o jornal Notícias de Barroso levantou na edição 523. A resposta a essa decisão, que propõe para ser prática corrente, foi condenada no último «Sexta às 9» quando se soube que, através de um contrato desses, pagámos todos 1 milhão e 460 mil euros a uma empresa de aviões que nem chegaram a levantar voo por causa da chuva. Os ajustes diretos apenas são legítimos em situações excecionais e até montantes condicionados. As leis europeias existem para serem cumpridas como as nacionais. O uso dos ajustes diretos apenas está previsto para casos raros e em situações muito especiais. Incitar à sua generalização, num concelho e numa cerimónia deste cariz, é estranho que o presidente reeleito fatigue os convidados com pormenores técnicos que só visam desviar as atenções para eventuais casos de consciência política. Em dia de luto nacional deitar foguetes de artifício, para anunciar a festa da provocação, de que estas seis páginas são prova clara de insofismável revivalismo, é um ultraje e uma afronta à maioria dos Barrosões: aqueles que não votaram e àqueles que perderam. Logo no 4º paragrafo, Orlando Alves ofende essa maioria que não teve direito a defender-se. Eis o epitáfio do presunçoso Presidente: «Passada a hora dos festejos e manifestações de júbilo com que os barrosões tributaram os vencedores enquanto os vencidos afogavam a mágoa na promoção de danças eróticas de algum mau gosto e dose farta de insanidade...» Este autarca Barrosão, nem depois desta prova anti-democrática a que terá de responder perante o Ministério Público, teve a sensatez de evitar a calúnia que as palavras sublinhadas encerram, as tais «danças eróticas de algum mau gosto e dose farta de insanidade». Ao que chegámos!


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