Cem anos de mentiras
Esta foi a tese propalada no passado dia 7, em que se assinalou o centenário da chamada Revolução de Outubro, pelo secretário-geral do PCP no Diário de Notícias. Tese repetida ipsis verbis dois dias depois no editorial do semanário Avante!, órgão central dos comunistas: «Foi a União Soviética que na Segunda Guerra Mundial, enfrentando sozinha durante três anos, os exércitos nazi-fascistas, deu um contributo determinante e decisivo para a sua derrota e para a profunda alteração da correlação de forças internacional, dando origem a uma nova ordem mundial, que inscreveu na Carta da ONU o respeito pela soberania dos povos, o desarmamento, a solução pacífica e negociada de conflitos entre estados e abrindo caminho a grandes avanços sociais e de libertação nacional.»
Assumidas como evidência histórica, estas palavras constituem uma homenagem explícita a Estaline, que comandava com mão de ferro a URSS na II Guerra Mundial e no ano da fundação da ONU, embrião de "uma nova ordem mundial" (há quem prefira chamar-lhe Guerra Fria). Tais ditirambos têm, no entanto, o inconveniente de partirem de uma premissa errada. São mentiras, enunciadas como verdades no espaço mediático.
A mentira, aliás, é uma componente essencial do projecto leninista, que o PCP assume como elemento estrutural do seu pensamento político.
A URSS e os seus filhotes ideológicos (PCP incluído) fizeram tudo, durante dois anos, para sabotar o esforço de guerra, nomeadamente nas fábricas de armamento. Não apenas na Europa, deixando o Reino Unido então liderado por Winston Churchill isolado no combate aos sanguinários esquadrões nazis, mas nos próprios EUA, em que os simpatizantes e militantes comunistas foram isolacionistas até 22 de Junho de 1941, quando Adolf Hitler accionou a Operação Barbarossa, invadindo território soviético.
Durante dois anos, portanto desde o Verão de 1939, os diversos partidos comunistas tinham funcionado como "pregoeiros da paz", entoando insistentes loas à neutralidade face ao Eixo nazi-fascista. Chegando-se ao ponto de, na França ocupada pelas divisões hitlerianas, o Partido Comunista ter pedido autorização formal à tropa ocupante para continuar a publicar o seu jornal, L' Humanité, na mais estrita legalidade.
No Portugal salazarista, oficialmente neutral, o próprio Álvaro Cunhal escreveu um célebre artigo, publicado em Março de 1940 no jornal O Diabo, intitulado "Nem Maginot nem Siegfried", advogando a equidistância entre verdugos e vítimas. «Haverá alguma diferença entre a Alemanha do sr. Hitler e a França do sr. Daladier ou mesmo a Inglaterra do sr. Chamberlain?», questionava o futuro líder do PCP nessa prosa.
É um artigo infame, redigido seis meses depois da invasão e anexação violenta da Polónia. Um artigo que devia cobrir de vergonha os comunistas portugueses.
É um artigo infame, redigido seis meses depois da invasão e anexação violenta da Polónia. Um artigo que devia cobrir de vergonha os comunistas portugueses.
Nunca a URSS estalinista esteve isolada "durante três anos" no combate a Hitler e Mussolini. Pelo contrário, o pacto germano-soviético forneceu uma espécie de livre-trânsito às hostes nazis para ocuparem mais de metade da Europa entre 1939 e 1941.
Isolado, sim, esteve o Reino Unido, até ao segundo semestre de 1941 - e sobretudo até à entrada dos EUA na guerra, logo após o bombardeamento de Pearl Harbor pelos japoneses, aliados de Hitler, e à declaração de guerra de Berlim a Washington, a 11 de Dezembro desse ano.
Diga o PCP o que disser, tentando distorcer o sucedido, "os factos são teimosos". Nisto tinha Lenine muita razão.
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