Marcelo Rebelo de Sousa,
entre o sentido de Estado que sempre teve e o grande cristão que
(principalmente) sempre foi, lembrou-se de nós, confortou-nos e devolveu ao
País um mínimo de dignidade.
24 de Outubro de 2017,
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A Geringonça
desgoverna-nos desde 2015; tem feito, no essencial, o contrário do que o País
necessitaria. O que fez António Costa ao longo destes dois anos de poder?
Mercadejar os apoios necessários à sua conservação como primeiro-ministro.
Reversão aqui, reposição ali, aumentos acolá. Os milagres sucediam-se: défice e
crescimento em linha com as imposições de Bruxelas, mas em simultâneo mais
despesa do Estado. Parecia a quadratura do círculo!
Quem ande por Lisboa ou
na estrada olha e espanta-se: o upgrade do parque automóvel português, com
topos de gama por toda a parte, evidenciando desafogo nunca visto, transpõe-nos
para um país inverosímil, irreal, que de facto não existe. Também o mercado
imobiliário configura uma daquelas “bolhas” próprias de períodos em que o
crédito concedido não rima com a riqueza real dos que o obtêm. Portugal - os
portugueses e o Estado - vive de novo a crédito, aumentando a Dívida (pública e
privada), até que um dia alguém reapareça na televisão a comunicar-nos que
estamos falidos, como em 2011.
Entre o desastre de
Pedrógão I e a bronca de Tancos, Costa foi alegremente de férias para uma ilha
espanhola. Nada estava resolvido, remediado ou explicado, mas Costa, confiante
na sua boa estrela, foi a banhos para paragens solarengas, com mar ameno e água
morna. Literalmente, virou as costas ao País e entregou-nos a dois ministros de
clamorosa incompetência: a lamentável ministra da Administração Interna e o
cómico ministro da Defesa.
O primeiro-ministro, cool
as ever, abandonou o País convencido de que este veria a sua descontraída
retirada como um sinal de que tudo acabaria em bem. A tragédia de Pedrógão I
fora um acidente aborrecido, mas que o País, com característica ausência de
sentido do trágico, depressa esqueceria. Por azar, Pedrógão II, Outubro
adentro, estragou tudo ainda mais.
A leviana ida a banhos do
primeiro-ministro aconteceu perante os nossos olhos atónitos quando já era
evidente que o País caminhava a passos largos para uma emergência nacional.
Afinal, pura e simplesmente não havia “Protecção Civil”: seria precisa
demonstração mais macabra do que Pedrógão I? E, quanto a Tancos, seria precisa
prova mais comprovada de que as Forças Armadas estavam (e continuam) entregues
a uma nulidade?
No Verão de 2017,
acabou-se o nosso conto de crianças: as vacas deixaram de voar. Falhas de
músculo, dobraram-se-lhes as pernas e tombaram sobre si mesmas, expondo a
radical debilidade do Estado e o gigantesco embuste da milagreira Geringonça. A
Geringonça, um artifício político aberrante ao qual só a credulidade lusitana
concede crédito, pôs a descoberto a inépcia, a incompetência e a
irresponsabilidade até agora obnubiladas pelo alarde de êxitos macroeconómicos
enganosos.
A morte escusada de mais
de cem pessoas e a destruição dos haveres de não sabemos quantas, obrigaram a
um brutal confronto do País com o seu desgoverno, a sua fragilidade e a sua
miséria. A Geringonça não cumpre a mais básica obrigação governativa: proteger
os cidadãos e o território nacional. A razão é simples: a Segurança não se
resolve com acrobacias orçamentais. As célebres “cativações” – e outras
habilidades - deixaram o Estado e o País roído até ao osso.
Desde 2015 que Costa tem
vivido de duas coisas: comprar o Bloco e o PCP e oferecer aos portugueses um
banquete. As “almofadas” financeiras que Centeno vai insuflando e Costa apregoa
como troféus gloriosos, são um engodo muito caro. A “Protecção Civil” também
custa caro e o pouco dinheiro disponível é esbanjado pelo primeiro-ministro na
sua própria conservação: ao Bloco é preciso dar sobretudo lugares para os boys;
ao PCP é preciso dar sobretudo dinheiro que sustente a sua influência sindical.
Dotar um Estado das
infra-estruturas técnicas e humanas indispensáveis à segurança civil e militar
é, na ordem de prioridades de António Costa, secundário. Prioritário é o
“sempre em festa” com que restituiu aos portugueses a alegria e o optimismo que
nada justifica, mas que eles inalam como um doente carente de oxigénio ou
morfina. Pedrógão I e II e Tancos de permeio abateram-se sobre os portugueses
como um dies irae.
E Marcelo? Foi conivente
com a macabra encenação de um país rico feito de pobres? Nunca perdi a
confiança em Marcelo. O PR, nunca duvidei, fez questão – e muito bem – de não
dar à Geringonça o mais leve pretexto para lhe imputar a responsabilidade por
um fracasso; deu-lhe rédea solta. Mas nunca duvidei de que, numa hora de
perigo, podíamos contar com Marcelo, o Chefe de Estado. Não para consolar a
orfandade da Direita, que deveria atravessar o deserto sem ser levada pela mão
paternal do Presidente, mas para interpor um “basta o que basta” quando
chegasse o momento crítico, em que o País perigasse visível e palpavelmente
devido à irresponsabilidade e imoralidade de um Poder que só verdadeiramente
cuida de si mesmo.
Chegou esse momento.
Marcelo Rebelo de Sousa, entre o sentido de Estado que sempre teve e o grande
cristão que (principalmente) sempre foi, lembrou-se de nós, confortou-nos e
devolveu ao País um mínimo de dignidade. Marcelo foi o nosso luar em tempos de
amargura e perplexidade.
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