BARROSO da FONTE |
Na
semana em que rebentou o escândalo no Convento de Tomar que «Sexta às 9» da
RTP, difundiu e que – se não fosse a geringonça - já teria exigido a demissão
do ministro da Cultura, cá por cima, continuam as estruturas culturais a marcar
o ritmo que se faz e que os urbanos não conseguem vislumbrar.
Cá
por cima fazem-se coisas, coisas boas, bastando sacudir os teares, repor as
campainhas das vacas, no dorso dos jericos ou das cabras e carneiros, por troca
com as vacas, que já não há quem as toque. Desses guizos, dessoutros chocalhos
que os Caretos usam nas festas do carnaval e desses cornos retorcidos, que se
colocam atrás das portas da cozinha, para afastar as bruxas, faz-se melhor
festa do que essoutra que enche os ouvidos das moças atordoadas, com os
auscultadores, rua fora.
Se
as televisões mostrassem o que por cá se faz, os alfacinhas não se distraíam
com a feira do livro que é grande no espaço e tem papel a mais e livros a
menos.
«Cá
por riba», as feiras do livro, têm os livros do povo que não entram nas Fnac´s,
na Leya, no Circulo do Leitores.
Há
um fosso cada vez mais profundo, entre o norte e o sul, entre a cidade e o
campo, entre os chinelos de pé raso e o salto alto de quem nunca andou
descalço.
Desde
o Espaço Miguel Torga, em S. Martinho de Anta, à Biblioteca Adriano Moreira, em
Bragança, que alberga a Academia de Letras de Trás-os-Montes; desde a Feira do
livro, em Montalegre, ao Grémio
Literário, de Vila Real, ao Centro Cultural Aquae Flaviae, ao Fórum Galaico-
Transmontano, em Valpaços; desde o Festival Literário de Bragança, às Feiras do
livro em Mirandela, tudo mexe e remexe, gerando solidariedade, por troca com os
moinhos de centeio, de todos os rios de Trás-os-Montes que mataram tanta fome,
a contrastar com tão ignóbil esquecimento dos dia de hoje. As gerações que
formam, hoje, os quadros da vida ativa do País, morrerão sem nunca saberem o
que foram os moinhos, que importância tiveram na vida das pessoas e como é
doloroso, não se fazerem levantamentos sobre aqueles que existiram, alguns dos
quais, caem de pé, como as árvores. Foi um tipo de construção artesanal, que
demonstra a capacidade humana daqueles que nos antecederam e envergonha os
professores que não souberam, nem quiseram ensinar, os artesãos que não
reivindicaram a sua continuidade e, sobretudo, os políticos locais. Quantos
autarcas se deram ao cuidado de mandar fazer um levantamento e reconstituição
de património?
Enquanto
escrevo estas desconexadas ideias, obviamente breves, reparo na televisão que
mostra as cerimónias do Dia de Portugal. Este ano com cenário é diferente. Do
Porto veio o nome de Portugal. É simbólica esta escolha. Mas continua a ser
mal-ensinada a História nacional. É que Portugal não começou noutro sítio, que
não fosse na Batalha de S. Mamede, em Guimarães. E essa «Primeira tarde
Portuguesa» não aconteceu em 10, mas em 24 de Junho de 1128. Foi há 889 anos.
Tudo o mais que se seguiu faz parte da odisseia Portuguesa. Em 1580 faleceu
Luís de Camões. Foi há 437 anos. Mas o dia dos nossos anos, é aquele em que
nascemos. A data de 10 de Junho menoriza a Pátria que já tinha 452 anos de
idade, quando morreu Camões.
Muitos
dos que nos têm governado nestes quase nove séculos de História, mamaram nela
mais do que lhe deram. Muitos daqueles que levaram a vida a escrever história,
mercantilizaram mais do que deviam. E, alguns desses usaram-na para nela se
perpetuarem. Autofagia em plenitude.
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