BARROSO da FONTE |
Como não tenho
dinheiro para comprar a biografia de Jorge Sampaio, elaborada por José Pedro
Castanheira, limito-me a ajuizar sobre o interesse da obra, pelas recensões que
vou lendo nos mass media.
Nas 1062 páginas
deste mais recente volume que tem a chancela da Porto Editora e da Edições
Nelson de Matos, Sampaio «fala da crise política por si gerida no verão de
2004, quando Durão Barroso abandonou a chefia do Governo e Pedro Santana Lopes
se posicionou na linha de sucessão, contrariando a posição do PS e dos partidos
da esquerda, que pretendiam eleições antecipadas».
Sampaio reconhece
que voltaria a dar posse a Santana Lopes, apesar de não ter o poder legitimado
por uma vitória nas urnas, mas o seu, então, chefe da Casa Civil, João Serra,
nota que foi exigida "continuidade nas políticas", designadamente nas
Finanças e nos Negócios Estrangeiros, e vetado o nome de Paulo Portas para esta
última pasta».
Lê-se na mesma fonte que se «conhecia a
ambição de Paulo Portas em ser ministro daquela pasta, mas devido ao seu
passado eurocético, o Presidente alertou para as dificuldades em o
nomear", refere João Serra. Portas terá ficado "magoado" por não
ter chegado aos Negócios Estrangeiros, o que viria a acontecer, anos mais
tarde, durante o executivo liderado por Pedro Passos Coelho.
João Serra afirma
também que foi Jorge Sampaio quem sugeriu o nome do embaixador António
Monteiro, para chefiar a diplomacia e que Santana Lopes concordou de imediato».
O tom destes «episódios rocambolescos do
consulado de Santana Lopes» continuam a ler-se nesta biografia, bem estruturada e redigida pelo
biógrafo que se especializou neste género de obras referentes aos mais
mediáticos personagens que ocuparam o alto cargo da Presidência da República.
Neste contexto se diz que Jorge Sampaio
justifica a utilização da chamada «bomba atómica» com a alteração da situação
política, no que é corroborado pelo seu conselheiro.
Ao ler, agora, o tom com que Sampaio fala de
Santana Lopes faz-me recuar a 1990, quando ele era secretário geral do PS e eu
tinha tomado posse de diretor do Paço dos Duques de Bragança. Guardo comigo a
pasta dos 20 mil contos de prejuízo real que este Palácio e Museu Nacionais
davam por ano ao Estado Português. O PS local fez saber ao Secretário Geral que
eu pretendia corrigir essa situação ruinosa, depois de um estudo que gizei e
que pus em marcha. Sabia eu que era possível abrir aquela unidade museológica,
em todos os dias da semana e em todas as horas úteis do dia. Pedi autorização e
fui autorizado, apesar de um quadro de pessoal reduzido a 50% do previsto no
quadro. Recorri ao Centro de Emprego para destacar candidatos ao primeiro
emprego, ou subsidiados com o perfil desejado. Com essa medida não gerei
encargos, mas redobrei os lucros. Não havia um posto de vendas e destaquei dois
guardas do museu que haviam sido carpinteiros a retirarem madeira da zona
habitacional destinada a residência do diretor, transformando-a em balcão de
vendas. Não existia qualquer roteiro, quer do Palácio, quer da cidade. E eu
próprio os escrevi, com edição e tradução quadrilingue: português-francês-
inglês e alemão. A Elo tinha essa autorização a nível de todos os palácios e
museus. Ainda hoje esses roteiros são fornecidos, com 30% para receita do
Museu.
Entretanto a Pousada de Santa Marinha da Costa
fez-me uma proposta para explorar a zona presidencial, que desde 1959 até hoje,
apenas em 39 ocasiões foi utilizada por alguns Presidentes, o último dos quais
o Dr. Mário Soares. O PS local estava
irritado com toda essa mudança. A minha proposta fora aprovada superiormente. A
Enatur pagaria 100 mil escudos/noite, por cada uma das duas suites e 50 mil
pelos 5 quartos intermédios. O Paço passaria a ter de lucro líquido mensal:
13.500 contos que nessa altura era muito dinheiro. Jorge Sampaio fez chegar um
panfleto à cidade em que me censurava por estar a transformar a «Corte real» em
cortes de bois, numa alusão metafórica
aos meus tempos de pastor de vacas e da «vezeira».
Tão sórdida campanha levou-me ao desânimo.
Apesar de chegar tarde, o despacho autorizou-me a por em prática esse projeto,
em parceria com a delegação do Norte da Cultura. De qualquer modo quase
dupliquei o número de visitas pagas, controladas por bilheteira. Os preços eram
metade daqueles que se praticam hoje. O montante da dívida passou a montante do
lucro, aquele espaço nobre passou a ser uma espécie da Casa de cultura. Entre a
hora de encerramento e a hora matinal da abertura ao publico, o átrio e as
antigas cozinhas, passaram a espaços alugados para convívios, cerimónias de casamentos, empresas e outras
cerimónias.
Jorge Sampaio,
cujo pai era natural do concelho de Guimarães, foi o primeiro a não utilizar a
Residência Presidencial, no Paço e também o primeiro a não aceitar que o 24 de
Junho fosse reivindicado como feriado nacional. Aqui mesmo disse que não
mexeria nos símbolos nacionais. Mas o PS Vimaranense teve, mesmo assim, a
coragem de colocar-lhe uma placa, junto
à Estátua do I Rei. A democracia tem
caras para todos os gostos.
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