sexta-feira, 3 de março de 2017

Pão de Castanha mais Tradicional - A Falacha

JORGE LAGE
Jorge LageEm gastronomia, em Portugal, é moda aparecer um ou outro produto tradicional e quando isto acontece, geralmente as pessoas que metem a mão na massa não serão das mais hábeis.
Já se imaginaram a comer bom pão com ovos, azeite, açúcar e algumas especiarias? Isso nunca será um pão autêntico, mas um derivado, por exemplo uma boleima ou um bolo podre.

Pois bem, com as Falachas passa-se, com alguns espertos, fazerem produtos derivados ou imitações grosseiras. Ou então, o bolo do caco, é um pão mais tradicional da Ilha da Madeira.

Para mim, e pelo que tenho investigado as Falachas seguem como o bíblico pão ázimo ou outro do «Crescente Fértil» ou do Vale do Nilo, isto é um pão não lêvedo.
Sobre as tradicionais «FALACHAS», deixei um texto em www.netbila.com, para repôr a verdade cultural e panícula.
Devemos chamar aos «bois pelo nome».
As Falachas ainda se encontram em alguns concelhos da Beira Douro como: Lamego, Armamar, Peso da Régua, Resende, Cinfães e Baião. Mas elas foram uma realidade de quase todo o território castanhícola séculos atrás.
Se em Sernancelhe alguém com ar sério lhe disser: - estás aqui, estás a ficar com a cara falachada. Acautele-se!
As Falachas no início do século passado eram referidas em Valpaços.
Quando escrevi o meu livro, «A Castanha Saberes e Sabores» (com mais de dezentas receitas de castanhas), nem sabia que elas existiam.
A palavra «Falachas» encantou-me e não descansei enquanto não meti a colher na massa e surgiu o livro «Castanea uma dádiva dos deuses», de que descrevo a receita a páginas 251 e 252, em Resende.
Para ver «claramente visto» a sua confecção fiz três viagens ao mundo rural duriense e tive que farejar um dos seus poucos refúgios.
As notícias grosseiras, no campo da verdade e pureza gastronómica tradicional, mesmo de autores conceituados, levou-me a incluir a sua definição no meu livro «Memórias da Maria Castanha» a páginas 53 e 54.
Para que não restassem dúvidas sobre o que são as Falachas, no meu último (quarto) livro «Maria Castanha - Outras Memórias», dediquei-lhe um capítulo, «As Falachas (Tradicionais)», a páginas 66 a 72.
Não estou contra, até aplaudo, o fabrico de novos produtos de panificação com castanhas, mas como vão criando, vão «baptizando».
Por exemplo, em Marcelim, Cinfães, os «Bolinhos na sertão de castanhas», receita de Cecília Pinto, são próximos das Falachas, na fase inicial de preparar a massa, mas depois derivam e já entram na categoria dos doces, mais afidalgados e para dias festivos. Também, na Boavista - Vila Real, as «Larocas da sertã», receita da Fátima Mouchão, produz uns doces deliciosos.
Não se fiquem pela internet e vão aos locais próprios!
Também não façam como uma vedeta gastronómica da TV, que terá ludibriado a minha amiga Ercília, grande doceira de Évora, apanhando-lhe o caderno manual de receitas com a promessa de que iam fazer um livro pelos dois e terá saído a publicação sem qualquer referência à minha amiga.
O aspecto das Falachas tem muito a ver com a farinha de castanha, se é mais grossa (de Resende), como as que aqui vamos reproduzir e a finíssima que retratamos de Cinfães.
Pilar tradicionalmente a castanha ou, depois, moê-la, em moinho tradicional são artes que não estão ao alcance de qualquer um. Primeiro, é preciso muita paciência e amor ao que se faz e, depois, ter arte e saber.
As fotos são da minha autoria.
Os meus livros sobre castanhas podem ser consultados na Livraria Traga-Mundos (junto ao Banco de Portugal, em Vila Real), <traga.mundos1@gmail.com> ou 259103113 - 935157323.
Jorge Lage



Saudações,

Jorge Lage

2 comentários:

  1. Adoro falachas. Coisa estranha, ao paladar de muitos. A Sta Luzia, em Sande, Lamego, era sempre a minha referência, para as enconrar, blandas, nem doces nem salgadas, afalachadas, toscas, amadas ou desprezadas, sem meio termo (ouvia dizer, por graça inocente - "gostas disso...? Arrrgg, são amassadas com o cu das velhas!" 😊
    Acho que ainda se encontram, em tempo de santinhos de inverno. Que saudades me trouxe, reencontrá-las com destaque! A ver se este ano me vou a elas... 🙂

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