segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O símbolo mariano na bandeira da Europa


Em 1950 o Conselho da Europa, com o objectivo de defender os direitos do Homem no seio da Europa, promovendo a cultura europeia, e os valores espirituais e morais, património comum dos povos que a compunham, promoveu uma comissão para esse efeito.
Foi proposto um concurso, que se destinava a angariar um símbolo comum. E foram fixados os critérios:” simplicidade, legibilidade, harmonia, estética, equilíbrio e valor simbólico”.
Foram apresentados projectos vários. Foi proposto um “E” verde com fundo branco, e logo de seguida, uma bandeira Pan-europeia – um disco de ouro e cruz vermelha sobre fundo azul. Rejeitada pela Turquia, que não poderia aceitar, se um dia à Europa pertencesse, um símbolo da Cristandade, também usado pelos cruzados ocidentais que tantas vezes atravessaram a Turquia para conquistar territórios, entre outros os do Islão. Um japonês terá proposto uma grande estrela em fundo azul.
É, porém, o projecto de Arsène Heitz, que irá vingar. Foram apresentados 101 projectos ao Conselho Europeu, segundo desvendou Arsène. Socialistas, judeus, protestantes e maçons trabalharam juntos, mas sem sucesso.
As origens do seu simbolismo ficarão no segredo dos deuses até 1995, contado pelo antigo capelão do Hospital de Cluny.
Arsène Heitz, nesse encontro casual e, mais tarde em sua casa, contou que para o seu projecto da bandeira se tinha inspirado na medalha milagrosa de Catarina Labouré. Em 1830, a Virgem Maria terá aparecido a essa camponesa de 23 anos e ter-lhe-á mandado gravar uma medalha com a sua imagem com a sua cabeça coroada com 12 estrelas.
Esta exigência por parte da Virgem claro que se referia à Visão da Mulher e do Dragão, no Apocalipse de João (12,1): “Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas (…)” – citado da Bíblia de Jerusalém.
Arsène era um crente e tocado pela graça da Virgem Maria. Foi à capela onde a Virgem tinha aparecido a Catarina e começou a rezar-lhe. Teve a ideia de lhe pedir para o guiar e aconselhar sobre a bandeira europeia. Quando decidiu deixar a capela, sentiu necessidade de se virar para assistir a Virgem e lhe fazer um último adeus. E as estrelas iluminaram naturalmente o seu rosto. De repente teve a ideia de colocar essas doze estrelas sobre um fundo azul, surgindo a ideia da bandeira europeia.
O senhor Levy que era o director de Arsène, soube, desde o inicio, das origens da bandeira e aceitou o projecto de Arsène, mas mantiveram segredo sobre essas origens, durante tanto tempo, porque na Europa existem judeus e protestantes.
É óbvio que a imagem da Medalha Milagrosa representa a Imaculada Conceição. Um dogma cuja elaboração foi lenta e trabalhosa. Tanto assim é que os Padres da Igreja nunca ousaram atribuir a Maria a isenção do pecado original, apenas reservado a Cristo, concebido pelo Espírito Santo, como era aliás sustentado pela doutrina da Igreja primitiva que colocava Maria ao mesmo nível de todas as criaturas humanas.
Contudo, apesar das opiniões de reputados doutores como Agostinho, Bernardo de Claraval, São Tomás de Aquino e São Boaventura, a crença na Imaculada Concepção da Virgem não se extinguiu. Pelo contrário, ganhou terreno a partir do século IX com a introdução no calendário irlandês da festa da conceptio B.M. virginis.
Os franciscanos, seguidos dos carmelitas, com Escoto Erigina (o doutor subtil) à cabeça, contrapuseram argumentos válidos aos de São Tomás e São Boaventura. Mas havia de ser com a Universidade parisiense representada pelos seus conselheiros Pierre d’Ailly e Jean Gerson que esta crença seria sustentada teologicamente. Aprovada pelo papa franciscano Sisto IV em 1477, foi aceite pela Sorbonne em 1496, formulando-a nos seguintes termos: Mater Dei e peccato originali semper fuit preservata.
Já nos finais da Idade Média esta crença havia ganho grande popularidade. No século XVI, depois dos franciscanos, os jesuítas agarraram a crença com fulgor, sendo consagrada em triunfo pelo concilio de Trento.
Difundida em todas as dioceses francesas, em 1644 a festa da Imaculada foi introduzida em Espanha, sendo o tema difundido pela arte espanhola do século XVII até à exaustão. Em Portugal, onde o número de devotos era considerável, o seu culto foi oficializado por Dom João IV no ano da sua coroação: 1640. Seis anos mais tarde (1646), com a aprovação das cortes de Lisboa, o primeiro rei da dinastia de Bragança, dedicou o reino à Virgem Imaculada, tornando-se, deste modo, a sua festa oficial e obrigatória em todo o reino e colónias.
O Símbolo de Arsène Heitz foi adoptado pela a Assembleia Parlamentar a 25 de Outubro de 1955. O Conselho de Ministros adoptou-o a oito de Dezembro de 1955. Ora oito de Dezembro é o dia da Imaculada Conceição.
A este tema imaculista pode ainda associar-se o tema dos célebres, mas raros mapas quinhentistas, que mostram a Europa em forma de Rainha ou Virgem coroada ( e deitada). E neles, a Lusitânia representa a coroa e a sua cruz aponta em direcção aos Açores.
Um conjunto de cartógrafos humanistas alemães como Sebastian Münster, Heinrich Bünting e  G. Postelli criaram estas estranhas xilogravuras. Porquê?
Arsène não lhes faz referência, e nós fica-mo-nos por aqui.
Ainda hoje grande parte da população desconhece as origens da bandeira da Europa e os manuais escolares, por razões obscuras, insistem em transmitir erradamente o seu significado e as suas origens.   Armando Palavras

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