ALBERTO GONÇALVES -
Diário de Noticias
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Enquanto saía à rua
a celebrar o abençoado governo que Deus (e o dr. Costa) nos deu, o pagamento
antecipado de dois mil milhões ao FMI e um crescimento de 0,8%, o povo não
reparou que o reembolso estipulado no início do ano era de quase sete mil
milhões e que a vertiginosa subida do PIB, pouco inferior aos 2 e tal ou 3 e
tal previstos pelo dr. Centeno, se deveu: a) ao turismo; b) à retoma de
trabalhos na refinaria de Sines, parada no trimestre anterior; c) à venda de
uns aviões F-16 à Roménia.
Sobre o turismo,
convém rezar para que os apetites em "regulamentá-lo", ou afogá-lo em
taxas e proibiçõezinhas, não o estrafeguem de todo. Sobre a petrolífera, julgo
que não há hipóteses de reabrir uma refinaria por trimestre a benefício das
exportações. Sobra o exemplo dos F-16, que pode substituir com vantagens a
falhada aposta no consumo interno enquanto novo paradigma económico: vender
pechisbeques usados a países ainda mais pelintras do que o nosso.
Não estou a par das
relíquias disponíveis, mas é plausível que haja por aí motorizadas dos anos
1980 para transaccionar com o Níger, frigoríficos e torradeiras em segunda mão
para enviar à Albânia, máquinas de fax para impingir à Bolívia e, claro, os
computadores Magalhães do eng. Sócrates (Deus o tenha) para quem os quiser. Em
matéria de sucata, temos para dar e, de preferência, vender.
O importante não é
só manter o crescimento "em alta" (desculpem o jargão): é manter a
ilusão de que assim o país é viável. É manter os avençados, perdão, os
politólogos a decretar o sucesso da frente de esquerda. É manter os media
entusiasmados com o tipo de "boas notícias" que serviam de paródia no
tempo de Pedro Passos Coelho. É manter a convicção de que a "teimosia"
de Pedro Passos Coelho é o único obstáculo a que o PSD adira à União Nacional
dos Afectos. É manter a fezada de que a "Europa" durará sempre. É
manter a ilusão de que sem esmolas alheias iremos a algum sítio que não o
abismo. É manter o povo a cantar e a rir no caminho. É acreditar como nunca na
fraude de sempre.
Quinta-feira, 24 de
Novembro
Da ingratidão
Isto assim é
difícil. Hicham el Hafani, marroquino de 26 anos, entrou em Portugal em Outubro
de 2013 alegando ser perseguido politicamente em Marrocos. Em vez de investigar
as alegações, como fariam certas nações metediças, as autoridades daqui
concederam-lhe num ápice o estatuto de refugiado. O gesto demonstra uma
generosidade invulgar: sei por experiência própria que, mesmo antes da posse de
Trump, os EUA não entregam o green card a quem se considera fiscalmente
perseguido por cá.
Mas a generosidade
lusitana foi mais longe. Um mês depois de chegar o sr. Hafani já beneficiava de
um subsídio estatal de 190 euros para gastos miúdos, alojamento gratuito (em
Aveiro, cidade aprazível), alimentação idem e, por motivos que me escapam e
talvez escapassem ao sujeito, "acompanhamento social". Em Julho de
2014, o sr. Hafani passou ao nível de "autonomizado", desceu para um
quarto alugado na Gafanha da Nazaré e - sem arranjar qualquer emprego - subiu
para uma subvenção de 250 euros mensais. Em data não especificada, requisitou
naturalmente o rendimento mínimo, pedido que, numa absurda excepção ao
altruísmo desta história, alguém rejeitou. Finalmente, há dias, suponho que em
Marselha, a polícia francesa deteve o sr. Hafani, afinal um profissional da
jihad, por suspeita de envolvimento na preparação de um atentado naquelas
paragens.
Apesar de a
propaganda oficial insinuar o contrário, a capacidade de atracção de Portugal
no exterior é uma rematada desgraça. Podemos convidar refugiados muçulmanos com
empenho idêntico ao da "historiadora" de extrema-esquerda que se
fotografou com um cartaz a dizer "Welcome refugees!" (embora esteja
por apurar quantos recebeu em casa). Podemos dar-lhes conforto material.
Podemos até providenciar-lhes conforto espiritual através de mesquitas pagas
pelo contribuinte. Contas feitas, acabam sempre a exercer as competências
noutros lugares e a deixar-nos entre o espanto e o enxovalho.
Entretanto, em
Lisboa, espalhou-se uma ameaça de bomba para afagar a nossa
"auto-estima". Evidentemente, a coisa era falsa: por muito que nos
esforcemos, nem os terroristas querem nada connosco. Excepto subsídios, claro.
Sábado, 26 de
Novembro
Peso morto
O prof. Marcelo,
especialista em selfies e obituários, chamou a Fidel Castro uma personalidade
"marcante", "cujo peso na história não se pode negar". De
facto, a criatura marcou sobretudo as suas incontáveis vítimas, executadas,
torturadas ou, nos dias em que acordava bem-disposto, apenas presas por delito
de opinião. E não serei eu a negar o tal "peso" de Fidel na história,
a par de figuras estimáveis como Estaline, Hitler, Mao, Pol Pot, os ditadores
argentinos e, numa escala modesta mas comparável na barba, o estrangulador Landru.
Por sorte, dele e nossa por osmose, o prof. Marcelo ainda foi a tempo de
conhecer o Carniceiro, perdão, o Comandante de Havana. Temos, em suma, um
presidente esclarecido. Já os americanos terão o sr. Trump, que considerou
Fidel um "ditador brutal". Tamanha ignorância assusta.
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