quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Carne da Posta de Miranda provirá de gado de Espanha da região fronteiriça? 

 
JORGE  LAGE
A minha fonte de informação é alguém que vive no concelho de Miranda do Douro e que, naturalmente, não quer dar a cara. Foi em conversa que eu soube da fraude e quando se apercebeu que eu poderia explorar o tema no jornal não quis adiantar mais informação. Pois é amigos leitores, quando visitam a região de Miranda do Douro e regressam depois de comer a posta» nos restaurantes da especialidade poderão ter comido «uma posta castelhana» e não «a posta mirandesa». O que leva os restaurantes a trocar a carne de gado bovino de raça mirandesa pelo espanhol é a avidez do lucro. O Planalto de Mogadouro–Miranda sempre foi farto na agricultura e na pecuária, mas deixando-se de consumir a carne de uma das melhores raças de bovinos nacionais, os nossos criadores fronteiriços abandonam esta fonte de rendimento. Desde criança me familiarizei com os bois de trabalho mirandeses possantes e belos como castelos. Depois, apercebi-me que havia outras raças, como a arouquesa, a maronesa ou albanesa (da serra do Alvão), a barrosã, a minhota, a jarmelista e a mertolenga. Mas gado bovino possante e garboso era o mirandês, daí o Estado português ter apostado na estação agronómica de Malhadas (Miranda do Douro). Penso que para se promover a melhor carne do nosso gado bovino e mirandês, terá que se fazer um controlo rigoroso da carne certificada, à semelhança do que se faz com a carne de gado bovino de raça barrosã, criando-se, até, talhos específicos. A qualidade tem que se pagar melhor que a carne indiferenciada, que até nem sabemos qual a sua proveniência e muita dela carregada de hormonas e de produtos nocivos à saúde. Neste momento, se tivesse vontade de comer uma boa posta ia à serra da Cabreira ou ao Barroso. Cada vez mais, os nossos restaurantes se deixam seduzir pelos preços baixos da carne que consomem sem saberem a sua proveniência ou como foram alimentados os animais. Como já se produz carne biológica de cabrito ou anho trasmontanos, é preciso dar visibilidade e garantir a qualidade à carne biológica de vitela de raça mirandesa. Não estou a falar só do planalto mirandês mas de toda a região da Terra Fria e Terra Quente e das nossas Terras de Ledra. Embora haja boa carne nos restaurantes de Mirandela e Macedo de Cavaleiros, temos que ter segurança alimentar e saber o que comemos. Tal como muitos restaurantes mostram ao cliente o peixe que lhe vão cozinhar, também temos de caminhar para vermos a carne que consumirmos nos restaurantes. A globalização combate-se com produtos locais certificados, como Mirandela já fez para a nossa boa alheira. Desconfio sempre do restaurante que à minha pergunta: - de onde é carne de vitela que me vai servir? E com ar de espertalhaços sorriem e dizem: - não sei! Os clientes pagam e têm o direito de ser informados. Podem enganar-nos uma vez ou outra mas não nos enganam sempre. A concorrência na restauração combate-se com o bem servir, qualidade e transparência.

Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com – 10NOV2016

Provérbios ou ditos:

Pelo S. Martinho, faz-se o magustinho, mata-se o porquinho e põe-se de mal com o vizinho (recolha do Lar S. João de Deus da SCM de Mogadouro).
O apanhar de castanhas é enquanto elas caem.
De pouco vale a porta que abre com várias chaves.

1 comentário:

  1. muito bem, concordo com o que disse mas não generalize por existem Restaurantes como o meu Restaurante Miradouro, que só serve carme certificada mirandesa...e se pedir ao empregado a origem do animal, simplesmente o empregado entrega o bilhete de identidade do mesmo, onde consta o produtor, a região e o numero mecanográfico. e assim sabe o que está a comer. Bruno Gomes

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