terça-feira, 4 de outubro de 2016

SANTUÁRIO RUPESTRE DE PANÓIAS

JORGE LAGE
O Santuário Rupestre de Panóias, situa-se a nascente de Vila Real em Vale de Nogueiras (Assento).
Como ir? O caminho mais directo, para quem está em Vila Real, é tomar a direcção de Constantim, pela EN 322, e continuar até Assento, onde segue pela EM578, ficando à distância de um salto, no sentido Vale de Nogueiras. Quem circula na A4 ou A24, o melhor é sair numa das saídas de Vila Real e dirigir-se para a EN 322 que passa em Constantim. Depois é um salto de um carneiro e pronto estará num dos santuários rupestres mais belos de Portugal e que a mão do homem e o acaso souberam preservar tão bem, isto é com poucas perdas relativamente ao todo.
O Santuário. O documentar-me com muito estudo e consulta para escrever o livro, «As Maias entre mitos e crenças», deu-me uma visão evolucionista das religiões da Humanidade, em geral. Por isso, quando entro em santuários cristãos alcantilados ou em elevações de terreno ou fragaredos, fico com a sensação de que, também, poderei estar a pisar um local de um templo mais antigo. O cristianismo preocupou-se muito em abafar ou apagar restos de outra religião com séculos ou milénios. Ainda bem que o Santuário Rupestre de Panóias ou «Fragas de Panóias» passaram ao lado dessa destruição e chegaram até nós.
Declarado Monumento Nacional em 1910, esteve deixado ao abandono até 1950, quando o IPPAR iniciou a sua recuperação, adquirindo duas casas rurais contíguas, onde foi criado o Centro de Acolhimento e Interpretativo deste complexo arqueológico e religioso.
O Santuário data dos finais do séc. II ou início do séc. III e é composto por três grandes fragas distintas, onde se construíram pequenos templos para oferendas aos deuses que consistiam em sacrifícios de animais e não de seres humanos.
Também, este templo foi mandado construir pelo senador romano, C. G. Calpurnius Rufinus, que numa estadia na região, ao serviço do Império, e no local em que havia um culto indígena.
As inscrições nas pedras, três em latim e uma em grego, foram sendo apagadas com o tempo e uma foi destruída. Foi o especialista em História Antiga, Geza Hlfodg (nascido em Budapeste em 1935 e falecido em Atenas em 2011) que interpretou as inscrições nas pedras de Panóias.
Na 1.ª fraga, à entrada do Santuário tem a inscrição explicativa: «Aos Deuses e Deusas deste recinto sagrado. As vítimas sacrificam-se, matam-se neste lugar. As vísceras queimam-se nas cavidades quadradas em frente. O sangue verte-se aqui ao lado para as pequenas cavidades quadradas em frente. Estabelecem Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial.»
Na 2.ª fraga, o mesmo senador dedicou o templo (recinto sagrado): «aos deuses Severos.
Na 3.ª fraga, a mais elevada na importância, também, por mando do senador, a inscrição em grego reza: «O esclarecido varão Caio Calpúrnio Rufino, filho de Caio, consagrou com um lago e os mistérios (um templo), ao mais alto deus Serápis» e «Ao Altíssimo Serápis com o Destino e os Mistérios, G. C. Calpurnius Rufinus, claríssimo.» Altíssimo Serápis era a divindade principal dos deuses do Inferno.
Ao fundo, no horizonte cimeiro a cortina granítica da serra do Marão. Por isso, numa pequena rocha que os Lapiteas (que talharam e epigrafaram) prestavam culto aos seus deuses, como a Reva Marandiguius, divindade que habitava nas alturas do Marão.
Sobre o Santuário Rupestre de Panóias, Miguel Torga, no Diário VI, Coimbra, 1953, burilou: «Panóias, 6 de Outubro de 1955. Volto a este livro de Pedras, onde o passado deixou gravadas as suas devoções. Estou nisto: coisas que falem, que respondam. Marão, estrelas ou fragas com inscrições; mesmo delidas, onde gente soletre uma instrução, um protesto, um rosto. O pasmo bovino da natureza movimentando, contrafeito, reduzido pela compreensão a palavras ou caracteres inteligíveis. Paisagem com voz, que dialogue.»
Nota: a imagem é cortesia do município e o texto foi construído com base no powerpoint do blogue:http://portojofotos.blogspot.com . Como é um monumento nacional qualquer visita está dependente dos horários dos museus.

Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com – 24AGO2016

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