JORGE LAGE |
O Santuário Rupestre de Panóias, situa-se
a nascente de Vila Real em Vale de Nogueiras (Assento).
Como ir? O caminho mais directo, para quem
está em Vila Real, é tomar a direcção de Constantim, pela EN 322, e continuar
até Assento, onde segue pela EM578, ficando à distância de um salto, no sentido
Vale de Nogueiras. Quem circula na A4 ou A24, o melhor é sair numa das saídas
de Vila Real e dirigir-se para a EN 322 que passa em Constantim. Depois é um
salto de um carneiro e pronto estará num dos santuários rupestres mais belos de
Portugal e que a mão do homem e o acaso souberam preservar tão bem, isto é com
poucas perdas relativamente ao todo.
O Santuário. O documentar-me com muito
estudo e consulta para escrever o livro, «As Maias entre mitos e crenças»,
deu-me uma visão evolucionista das religiões da Humanidade, em geral. Por isso,
quando entro em santuários cristãos alcantilados ou em elevações de terreno ou
fragaredos, fico com a sensação de que, também, poderei estar a pisar um local
de um templo mais antigo. O cristianismo preocupou-se muito em abafar ou apagar
restos de outra religião com séculos ou milénios. Ainda bem que o Santuário
Rupestre de Panóias ou «Fragas de Panóias» passaram ao lado dessa destruição e
chegaram até nós.
Declarado Monumento Nacional em 1910,
esteve deixado ao abandono até 1950, quando o IPPAR iniciou a sua recuperação,
adquirindo duas casas rurais contíguas, onde foi criado o Centro de Acolhimento
e Interpretativo deste complexo arqueológico e religioso.
O Santuário data dos finais do séc. II ou
início do séc. III e é composto por três grandes fragas distintas, onde se
construíram pequenos templos para oferendas aos deuses que consistiam em sacrifícios
de animais e não de seres humanos.
Também, este templo foi mandado construir
pelo senador romano, C. G. Calpurnius Rufinus, que numa estadia na região, ao
serviço do Império, e no local em que havia um culto indígena.
As inscrições nas pedras, três em latim e
uma em grego, foram sendo apagadas com o tempo e uma foi destruída. Foi o
especialista em História Antiga, Geza Hlfodg (nascido em Budapeste em 1935 e
falecido em Atenas em 2011) que interpretou as inscrições nas pedras de
Panóias.
Na 1.ª fraga, à entrada do Santuário tem a
inscrição explicativa: «Aos Deuses e Deusas deste recinto sagrado. As vítimas
sacrificam-se, matam-se neste lugar. As vísceras queimam-se nas cavidades
quadradas em frente. O sangue verte-se aqui ao lado para as pequenas cavidades
quadradas em frente. Estabelecem Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem
senatorial.»
Na 2.ª fraga, o mesmo senador dedicou o
templo (recinto sagrado): «aos deuses Severos.
Na 3.ª fraga, a mais elevada na
importância, também, por mando do senador, a inscrição em grego reza: «O
esclarecido varão Caio Calpúrnio Rufino, filho de Caio, consagrou com um lago e
os mistérios (um templo), ao mais alto deus Serápis» e «Ao Altíssimo Serápis
com o Destino e os Mistérios, G. C. Calpurnius Rufinus, claríssimo.» Altíssimo
Serápis era a divindade principal dos deuses do Inferno.
Ao fundo, no horizonte cimeiro a cortina
granítica da serra do Marão. Por isso, numa pequena rocha que os Lapiteas (que
talharam e epigrafaram) prestavam culto aos seus deuses, como a Reva
Marandiguius, divindade que habitava nas alturas do Marão.
Sobre o Santuário Rupestre de Panóias,
Miguel Torga, no Diário VI, Coimbra, 1953, burilou: «Panóias, 6 de Outubro de
1955. Volto a este livro de Pedras, onde o passado deixou gravadas as suas
devoções. Estou nisto: coisas que falem, que respondam. Marão, estrelas ou
fragas com inscrições; mesmo delidas, onde gente soletre uma instrução, um
protesto, um rosto. O pasmo bovino da natureza movimentando, contrafeito,
reduzido pela compreensão a palavras ou caracteres inteligíveis. Paisagem com
voz, que dialogue.»
Nota: a imagem é cortesia do município e o
texto foi construído com base no powerpoint do blogue:http://portojofotos.blogspot.com . Como é um
monumento nacional qualquer visita está dependente dos horários dos museus.
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