Nas
sociedades acomodadas, onde só têm voz os medíocres, é fatal um nivelamento por
baixo.
Ao observar em diferentes países a solidez do seu desenvolvimento,
indaguei como era a qualidade e exigência do seu ensino. Tornou-se-me evidente
uma relação estreita entre eles. Não bastam ilhotas de qualidade, como alguns
centros do ensino particular no país, mas deve alastrar-se e cobrir o país
todo, todas as escolas, incidindo no modo de pensar e actuar.
Porque o ensino cria hábitos de trabalho e de responsabilidade pessoal,
que mais tarde têm reflexo no desempenho profissional e nas organizações que
cada um é chamado a comandar, moldando-as para responderem ao que é a sua razão
de ser.
Nas sociedades acomodadas, onde só têm voz os medíocres, indispostos a
qualquer esforço, que falam mais do que trabalham, é fatal um nivelamento por
baixo. Tipicamente, quando se quer resolver problemas de insucesso baixando a
fasquia da exigência, para fazer passar todos, é quando se criam frustrados e
incapazes de progredir. Porque ao estudante a quem se facilita passagem, em
particular nas matérias estruturantes do pensar, vai avançando, com dificuldade
crescente, sem bases que nunca chegou a adquirir, acumulando incompetência,
vendo-se empurrado, sem nenhum domínio das bases necessárias.
Um razoável ou bom teste para passar de ano ou entrar num determinado
curso acaba por só ter vantagens. No acesso aos estudos de Medicina, por
exemplo, com a selecção baseada nos estudos, ainda que falível e incompleta, é
contudo muito melhor do que não existir nada. E os resultados notam-se: a
selecção leva os candidatos, determinados e com força de vontade, a estudar com
intensidade ao longo do ano, ganhando hábitos de trabalho que acompanham pela
vida fora. E, depois do curso, acabam sendo bons profissionais, pelo saber que
adquiriram com a aplicação, mas também com a exigência no seu trabalho, reflexo
da que tinham antes de entrarem para a medicina.
Poderia pensar-se se não seria uma selecção demasiado apertada, pois há
falta de médicos e algum excesso deles não seria nada mau. Seja como for, hoje
um doente sente-se em boas mãos..., no que respeita à preparação e ao ‘saber’
dos médicos.
Por motivos diferentes, por só haver poucas instituições de Ensino
Superior na admissão para os Indian Institute of Technology (IIT), na Índia, há
quatro anos havia 425.000 candidatos para 9.500 vagas (1 vaga por 45
candidatos). Durante um longo período os candidatos preparam-se intensamente
para conseguir entrar. E a admissão no IIT é como um passaporte para uma
carreira profissional fulgurante e bem remunerada na Índia e muito mais nos
EUA.
Vários IIT na Índia - Note-se a sua relação com a Natureza! |
Para os que não entram, não é uma situação frustrante, depois de tanto
esforço? É. E importa que a família não dê demasiada importância, nem ajude a
criar tensão, para o jovem não pensar que é um fracassado. Mas, a par deste
contra, os aspectos a favor são muito importantes: todos os que se prepararam
ficam num nível de saber e de raciocínio muito superior ao do momento inicial
da preparação. E mesmo não entrando nos IIT, ao entrar numa instituição de
segunda escolha, eles estão mesmo bem preparados.
Por falta de recursos veio a insuficiência de faculdades para os
estudantes que queriam prosseguir os estudos. Mas a boa qualidade dos que se
formam em matérias científicas, técnicas, médicas, informáticas, económicas,
etc., quando inseridos num modelo económico que valoriza a iniciativa, faz
empurrar a sociedade a grandes passos como acontece com a Índia a partir do ano
1991.
Após graves sofrimentos da população, com a total destruição operada
pela colonização britânica, veio o pós-independência, com o modelo de
socialismo indiano, que castrou a iniciativa e responsabilidade pessoal.
Contudo, houve formação de qualidade e muitos licenciados nas melhores escolas
da Índia foram produzir riqueza, saber e empregos nos EUA. Poderiam tê-lo feito
na sua terra, enriquecendo-a, como agora já está a acontecer intensamente ao
haver um espaço de liberdade e de realização para as iniciativas dos cidadãos.
Professor da AESE e Dirigente da AAPI
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