BARROSO da FONTE |
Só
em 19 de Junho de 2016 esbarrei com esta série de testemunhos sobre os 40 anos
de Vida literária do Primeiro Presidente da Academia de Letras de
Trás-os-Montes que foi Ernesto José Rodrigues. Conheci-o na década de setenta,
através do énie que o Carlos Pires, ele e mais alguns jovens bragançanos,
iniciaram e exercitaram para altos voos. Foi uma geração mais nova do que a
minha. Eu já havia regressado da guerra, em Angola e fixara-me em Chaves, como
coordenador do semanário Notícias de Chaves, onde criei o suplemento de artes e
letras. Aí saiu alguma poesia dessa geração de poetas. O Carlos Pires só,
agora, o revi neste documento do Leonel Brito. Ao Ernesto Rodrigues fiquei mais
ligado desde que, já no fins do século XX, seu Tio Padre Videira Pires, me convidou
a ir a Bragança, falar com ele, com vista a atribuir-me uma disciplina na
Escola Superior de que ele era responsável. Almoçámos os três. E, antes que eu
desse o meu aval ao convite para assumir qualquer docência, aleguei ser muito
difícil ir 2 vezes, por semana, de Guimarães a Bragança, cuja distância era de
204 kms para cada lado. Com eventuais portagens,a deslocação seria negativa.
Por isso me limitei a agradecer a simpatia. Mas foi um bom pretexto para rever
o académico, poeta e ensaísta que Ernesto Rodrigues já era nessa altura.
Em
2010 reiniciou-se, entre nós, uma progressiva empatia, telúrica, diretiva e
literária. Esse reencontro deu-se com o ato formal da outorga da Academia de
Letras: ambos fomos sócios fundadores e outorgantes. Ernesto Rodrigues foi
eleito na primeira Assembleia, como Presidente da Direção e o saudoso Amadeu
Ferreira, como P. da Assembleia. Ambos fizeram obra que marcou os alicerces da
Instituição que Jorge Nunes inspirou e tornou possível. Desde essa altura pude
confirmar os grandes recursos científicos de Ernesto Rodrigues, quer na
literatura, quer na docência, quer no dirigismo. E, sobretudo na solidariedade,
na hospitalidade e no respeito pela diferença. Marcou-me muito o convite que a
Câmara de Montalegre lhe fez para ser o palestrante de honra na sessão solene
que assinalou as bodas de ouro de autor, do José Dias Baptista e das minhas.
Ambos ingressámos no Seminário de Vila Real, em 1952. Um e outro fizemos das
Terras e das Gentes de Barroso, o tema privilegiado da nossa escrita poética e
prosaica. Ernesto Rodrigues foi muito sóbrio, profundo e generoso. Sobretudo
comigo. Nesse mesmo dia o convidei para escrever o prefácio do meu livro de
poemas: Poesia, amoras & presunto, fruto do Prémio Nacional de Poesia
«Fernão de Magalhães Gonçalves» que a Editora Tartaruga me atribuiu. A esse
prefácio chamou «Um grão de humanidade». Nessas seis páginas demonstra aquilo
que afirma logo nas linhas 11 e 12: «espanta, por isso, vê-lo ignorado nas
antologias da guerra colonial editadas por nomes da Esquerda». Também na 1ª
página desse prefácio escreveu ele: «Conheci Barroso da Fonte, só ao quarto
livro, do seu pós-guerra: É preciso amar as pedras (1970). Estava eu no
Mensageiro de Bragança, como estivera ele n'A voz de Trás-os-Montes, em Vila
Real, ambos em letra de forma, ele aos 13 anos, eu aos 14, e ambos no
seminário». Na 2ª página não esconde: «Quando, em 2011, organizei, com o
malogrado amigo Amadeu Ferreira, «A Terra de Duas Línguas. Antologia de Autores
Transmontanos», selecionei este poema, bem como «na praça pública»...
Nunca serei capaz de agradecer estas
gratificantes palavras que um académico assumido da Esquerda, exarou neste
prefácio e outras que proferiu, em Montalegre, dia 6 de Junho de 2015, na
sessão solene das minhas bodas de ouro de autor. Já não terei, em vida, forma
de retribuir a um dos mais lúcidos, sólidos e plenos intelectuais da sua
geração, tão declarado apoio acerca daquilo que escrevi, em prosa e verso,
nos 63 anos que levo de ligação ao jornalismo e à recensão bibliográfica. Mas
não poderia eu omitir esta confissão, a destempo, quando tropeço com esta série
de testemunhos gravados no site da Academia de Letras de Trás-os-Montes. São
génios, como Ernesto Rodrigues, que fala pouco e que produz muito e bem, que
geram o progresso, quando se pensa que já tudo foi dito e inventado. As muitas
e engenhosas tarefas académicas que nele se concentram na Universidade que o
soube aproveitar, garantem que Bragança vai ter, ao lado do Abade de Baçal, de
Hirondino Fernandes, de Adriano Moreira e de Amadeu Ferreira, mais este
Bragançano que já tem obra que baste para o busto que lhe está reservado no
centro urbano de Mirandela e de Bragança. E até do coração da sua freguesia
natal: Torre de D. Chama.
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