sexta-feira, 22 de julho de 2016

O meu testemunho sobre a obra de Ernesto Rodrigues

 
BARROSO da FONTE
Só em 19 de Junho de 2016 esbarrei com esta série de testemunhos sobre os 40 anos de Vida literária do Primeiro Presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes que foi Ernesto José Rodrigues. Conheci-o na década de setenta, através do énie que o Carlos Pires, ele e mais alguns jovens bragançanos, iniciaram e exercitaram para altos voos. Foi uma geração mais nova do que a minha. Eu já havia regressado da guerra, em Angola e fixara-me em Chaves, como coordenador do semanário Notícias de Chaves, onde criei o suplemento de artes e letras. Aí saiu alguma poesia dessa geração de poetas. O Carlos Pires só, agora, o revi neste documento do Leonel Brito. Ao Ernesto Rodrigues fiquei mais ligado desde que, já no fins do século XX, seu Tio Padre Videira Pires, me convidou a ir a Bragança, falar com ele, com vista a atribuir-me uma disciplina na Escola Superior de que ele era responsável. Almoçámos os três. E, antes que eu desse o meu aval ao convite para assumir qualquer docência, aleguei ser muito difícil ir 2 vezes, por semana, de Guimarães a Bragança, cuja distância era de 204 kms para cada lado. Com eventuais portagens,a deslocação seria negativa. Por isso me limitei a agradecer a simpatia. Mas foi um bom pretexto para rever o académico, poeta e ensaísta que Ernesto Rodrigues já era nessa altura.
Em 2010 reiniciou-se, entre nós, uma progressiva empatia, telúrica, diretiva e literária. Esse reencontro deu-se com o ato formal da outorga da Academia de Letras: ambos fomos sócios fundadores e outorgantes. Ernesto Rodrigues foi eleito na primeira Assembleia, como Presidente da Direção e o saudoso Amadeu Ferreira, como P. da Assembleia. Ambos fizeram obra que marcou os alicerces da Instituição que Jorge Nunes inspirou e tornou possível. Desde essa altura pude confirmar os grandes recursos científicos de Ernesto Rodrigues, quer na literatura, quer na docência, quer no dirigismo. E, sobretudo na solidariedade, na hospitalidade e no respeito pela diferença. Marcou-me muito o convite que a Câmara de Montalegre lhe fez para ser o palestrante de honra na sessão solene que assinalou as bodas de ouro de autor, do José Dias Baptista e das minhas. Ambos ingressámos no Seminário de Vila Real, em 1952. Um e outro fizemos das Terras e das Gentes de Barroso, o tema privilegiado da nossa escrita poética e prosaica. Ernesto Rodrigues foi muito sóbrio, profundo e generoso. Sobretudo comigo. Nesse mesmo dia o convidei para escrever o prefácio do meu livro de poemas: Poesia, amoras & presunto, fruto do Prémio Nacional de Poesia «Fernão de Magalhães Gonçalves» que a Editora Tartaruga me atribuiu. A esse prefácio chamou «Um grão de humanidade». Nessas seis páginas demonstra aquilo que afirma logo nas linhas 11 e 12: «espanta, por isso, vê-lo ignorado nas antologias da guerra colonial editadas por nomes da Esquerda». Também na 1ª página desse prefácio escreveu ele: «Conheci Barroso da Fonte, só ao quarto livro, do seu pós-guerra: É preciso amar as pedras (1970). Estava eu no Mensageiro de Bragança, como estivera ele n'A voz de Trás-os-Montes, em Vila Real, ambos em letra de forma, ele aos 13 anos, eu aos 14, e ambos no seminário». Na 2ª página não esconde: «Quando, em 2011, organizei, com o malogrado amigo Amadeu Ferreira, «A Terra de Duas Línguas. Antologia de Autores Transmontanos», selecionei este poema, bem como «na praça pública»...
     Nunca serei capaz de agradecer estas gratificantes palavras que um académico assumido da Esquerda, exarou neste prefácio e outras que proferiu, em Montalegre, dia 6 de Junho de 2015, na sessão solene das minhas bodas de ouro de autor. Já não terei, em vida, forma de retribuir a um dos mais lúcidos, sólidos e plenos intelectuais da sua geração, tão  declarado apoio  acerca daquilo que escrevi, em prosa e verso, nos 63 anos que levo de ligação ao jornalismo e à recensão bibliográfica. Mas não poderia eu omitir esta confissão, a destempo, quando tropeço com esta série de testemunhos gravados no site da Academia de Letras de Trás-os-Montes. São génios, como Ernesto Rodrigues, que fala pouco e que produz muito e bem, que geram o progresso, quando se pensa que já tudo foi dito e inventado. As muitas e engenhosas tarefas académicas que nele se concentram na Universidade que o soube aproveitar, garantem que Bragança vai ter, ao lado do Abade de Baçal, de Hirondino Fernandes, de Adriano Moreira e de Amadeu Ferreira, mais este Bragançano que já tem obra que baste para o busto que lhe está reservado no centro urbano de Mirandela e de Bragança. E até do coração da sua freguesia natal: Torre de D. Chama.

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