BARROSO da FONTE |
A
imprensa do dia 21 de Maio, nomeadamente o JN, noticiou em caixa alta que o
Presidente da República distinguirá apenas «feitos excecionais», dia 10 de
Junho e que pretende «marcar a diferença», condecorando «apenas três civis e
uma curta lista de militares». Acaba-se, assim, com a tradição de atribuir
dezenas de condecorações a cada Dia de Portugal. Nessa mesma fonte lê-se que
Mário Soares, em média, distribuiu 71 medalhas em cada 10 de Junho, Jorge
Sampaio 53 e Cavaco 69. No total: Soares medalhou 714, Sampaio 530 e Cavaco
697. Convenhamos que foi foguetório a
mais, para mérito a menos. Nem no Estado Novo se esbanjava tanto, em ombros
vazios de relevância pátria, ainda que em fatos polidos e gravatas de cambraia
fina. O palco foi sempre escolhido em função da base de apoio partidário. Desta
vez o «dia da Raça» será celebrado em Paris, para não deslocar a principal
heroína, Margarida de Santos Sousa, de 57 anos, porteira de Paris, a 13 de
novembro de 2015. A ela se ajuntarão em Paris mais três sortudos. Pela manhã
serão robustecidos, em Lisboa, alguns peitos militares, não por feitos
profissionais visto que já não há guerras a enfrentar, mas para abrilhantar os
desfiles de alguns voluntários que não querem perder a tradição. Nada a
comentar desta veleidade presidencial. É um direito que ele tem.
Já o mesmo não pode dizer-se do precedente que
o PR abriu, quando veio ao Porto, no programa relacionado com a sua posse. As
cerimónias tiveram Lisboa por palco, o que se compreende, visto ser a capital
do Reino. Mas, a haver um segundo ato, num palco alternativo que não Lisboa, só
poderia ter sido em Guimarães, a primeira capital histórica. Marcelo Rebelo de
Sousa não esteve bem, quando ignorou o simbolismo da Cidade Berço: «aqui nasceu
Portugal». Por muito que goste do Porto, de Braga e de Celorico de Basto, «o
Berço» tem um simbolismo que nenhum outro canto ou recanto de Portugal pode
subtrair-lhe. O PR - intelectualmente –
não recebe lições de ninguém. Nem sou eu o cidadão mais idóneo para lhe dar
qualquer conselho. Mas como jornalista, com uma tarimba de 63 anos
consecutivos, tive oportunidade de assinar, nessa semana, nalguns semanários e
blogues, uma crónica nada reverente, contra o PR em quem votei e votarei se
daqui a cinco ainda eu for vivo. Mas com a mesma franqueza com que o fiz e o
repito, o PR violou o respeito pela História de Portugal. No próximo dia 24 de
Junho completa 888 anos (Batalha de S. Mamede) e teve três capitais: Entre 1096
e 1131 foi Guimarães, a segunda foi Coimbra e, finalmente, Lisboa.
«Branco
é, galinha o põe». Pelas mesmas razões, nesta espécie de carta aberta, alerto o
Prof. Marcelo Rebelo de Sousa para que, mais uma vez, não viole o simbolismo do
«Berço da Nacionalidade», aceitando o convite que Nuno Botelho, Presidente da
Assembleia Geral da Associação Comercial do Porto, lhe formulou, para fazer do
Palácio da Bolsa, a sua casa de trabalho no Norte. O JN que venho citando
escreveu, a toda a largura da sua página 12, de 21 de Maio que «O Palácio da
Bolsa quer ser a «casa» de Marcelo». Guarde o Porto esse nobre espaço.
Talvez
o convite portuense sirva às mil maravilhas para os anseios da «Capital do
Norte», competir com a capital do País. Eu nessa também alinho, porque tal como
o Norte do país está saturado com «o posso, quero e mando» de Lisboa, também eu
e as gentes de Entre o Douro e Minho, estamos.
Diremos que, de Lisboa para norte, nem bom vento nem bom casamento. Esta
argumentação que o Porto alega contra Lisboa, também os Transmontanos e Alto Durienses, dizem o
mesmo, em relação ao Porto. Ainda se ouve o eco das palavras que o Presidente
da Câmara do Porto, proferiu numa reunião de municipal, quando subestimou o
Galo de Barcelos e o Fumeiro de Barroso. Mas essas são contas de outro rosário.
Guarde o Porto o Palácio da Bolsa para
cimeiras internacionais e para centro de congressos. Não exerçam os Portuenses
a influência que têm para subestimar o Paço dos Duques de Bragança que foi
declarada «residência oficial do Presidente da República» no norte do País.
Esse palácio nacional, pelo facto de estar à sombra do Castelo da Fundação,
primeira maravilha histórica de Portugal e da Capela de S. Miguel, onde foi
batizado El-Rei D. Afonso Henriques que aqui nasceu,
tem
muito peso e causa inveja a muitas e nobres cidades. Mas, por alguma razão, diz
o povo que quem nasce em Guimarães é Português duas vezes.
Deixem, o PR da República e as altas figuras
vivas do Porto, que os Vimaranenses gozem o privilégio que Vímara Peres quis
dar-lhes quando, por volta de 926,
transferiu a sede do Condado Portucalense do Portus (cale) para a
Guimarães. Essa benesse consumou-a Mumadona Dias pelo casamento com o conde de
Tui, Hermenegildo Gonçalves. As muralhas, o Castelo, a Colina Sagrada com a
Igreja de Santa Margarida, mais a Real Colegiada da Senhora da Oliveira,
confirmam essa transferência do litoral para o interior. Guimarães foi o palco
da Batalha de S. Mamede, onde a emancipação ocorreu, naquela primeira Tarde
Portuguesa. Não mudem os homens de hoje aquilo que os seus antepassados, de há
888, anos nos legaram. O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, na sua invejável
omnisciência ainda não se apercebeu da importância que Salazar devolveu ao
restaurado Palácio Nacional que foi sede da poderosa Casa de Bragança, a cujos
órgãos sociais pertence(u).
Não
faça essa desfeita aos Vimaranense e primitivos povos de «Entre Douro e Minho».
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