domingo, 26 de junho de 2016

Juízo final


Alberto Gonçalves - Revista Sábado -Junho 21, 2016


A matança numa discoteca de Orlando lançou a esquerda ocidental na habitual busca de "explicações". Como o assassino nascera na América, o problema é a sociedade em questão. Como o assassino era homem e heterossexual, o problema é o "heteropatriarcado" (juro). Como o assassino era inadaptado, o problema é a exclusão social causada pelo capitalismo. Como o assassino comprara armas, o problema é a facilidade de acesso às ditas.
Como o assassino batia na esposa, o problema é a violência doméstica. Como o assassino sofria de distúrbios mentais, o problema é a falta de um sistema universal de saúde. Como o assassino era religioso, o problema é o fanatismo de todas as religiões. Como as vítimas eram gays, o problema é a homofobia. Como o assassino detestava mulheres e pretos, o problema é a misoginia e o racismo. Como assassinos similares rebentaram com cartoonistas, transeuntes, espectadores de concertos, frequentadores de aeroportos, clientes de restaurantes e banhistas, o problema passa por fobias diversas que urge estudar. Qualquer desculpa serve desde que caiba na cartilha em vigor, idêntica à do programa da SIC E Se Fosse Consigo?
Claro que o objectivo do exercício consiste em desprezar a circunstância de Omar Matteen, o psicopata desta história, não ser ateu, cristão, budista, judeu ou jeová, mas – segurem-se bem – muçulmano. Numa época em que se reclama a abolição dos tabus, ergue-se um tabu gigantesco: admitir a peculiar relação entre o terrorismo contemporâneo e o islão. Por acaso, é possível que tanta cautela em não ofender provoque um efeito contrário ao desejado.
Deve ser muito irritante para os zelotas do profeta verem as suas reivindicações repetidamente desvalorizadas. O sr. Omar ocupava o tempo em fóruns radicais online ? O que importa é o peso da National Rifle Association. O sr. Omar dizia-se jihadista ? Isso é tudo muito lindo, porém o perigo é a nossa cultura machista. O Estado Islâmico assumiu o massacre? Conversa fiada: convém é repudiar o imperialismo dos EUA. Enquanto as autoridades analisam o crime e ponderam deter o "heteropatriarcado" para interrogatório, o criminoso confessa-se aos berros à porta da esquadra – e ninguém lhe liga. Não custa imaginar as cúpulas do Daesh próximas de uma úlcera nervosa.
Infelizmente, também não custa imaginá-las a conspirar (ou a "inspirar") os atentados que se seguem, os quais contarão, deste lado, com a alucinada subserviência do costume. A cada chacina, as "causas" do dia a dia mostram o seu carácter oportunista: por mais que se finja defender os homossexuais perseguidos ou as mulheres agredidas, o que realmente interessa é acarinhar a crença que persegue aqueles e agride aquelas. Quem "luta" pelos direitos humanos e aplaude sem reservas a construção de uma mesquita não engana.
Quem "sofre" pela discriminação e marcha contra Israel não disfarça. Descontados os ingénuos terminais, é lícito reconhecer que, hoje, a esquerda não se limita a tolerar excessivamente os excessos do islão: a esquerda (e alguma "direita" trafulha ou confusa) é a sua embaixadora – às vezes oficial, conforme prova o financiamento iraniano ao Podemos espanhol. Dado o ódio de ambos à liberdade, não admira. Admirável é ainda não ser evidente que o sangue suja as mãos de uns e outros.

O BOM
O maior espectáculo da Terra
O "euro"? Tenho gostado imenso. Não vi nenhum jogo, mas acompanho com prazer as sessões de pancadaria que os precedem. Apreciei especialmente as exibições de ingleses, russos e ucranianos. Além da força, destaco a táctica (um 4-3-3 flexível) com que os alemães enfrentam cada carga policial, ou a técnica de quase todos no cabeceamento de cervejas e no arremesso de cadeiras. Portugal é que desilude: distraídos por repórteres tontos, os nossos compatriotas limitam-se a berrar para as câmaras.

O MAU
Via legal
É ridículo formarmos a nossa opinião a partir das opiniões de "estrelas" de Hollywood. Também há que ouvir os respectivos familiares. Veja-se, por exemplo, a mulher de George Clooney, que se prepara para processar o Estado Islâmico pelos crimes de escravidão sexual, estupro e genocídio no Iraque. Após tantos debates sobre a atitude a tomar perante o jihadismo, alguém mostra coragem. Só hesito no rigor da solução. Talvez fosse melhor começar por multar o EI. Ou, no máximo, lançar-lhes uma providência cautelar.

O VILÃO
Os que não emigram
Não me incomoda nada que o PR e o PM vão a Paris entreter emigrantes, conviver com a selecção da bola, comentar a coxa de Ronaldo, tirar selfies, proferir disparates "patrióticos", fazer dos cidadãos estúpidos e, no caso do dr. Costa, convidar os professores daqui a emigrar sem ofender as boas almas ou as seitas sindicais. Acho óptimo, repito, que essa iluminada parelha de estadistas vá divertir-se em França, na Patagónia ou onde quiser. O que deprime é a certeza de que regressam.

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