BARROSO da FONTE |
Este
candidato a Teólogo acabou por desviar-se de Deus e praguejou dentro e fora do
seminário, ou, se preferirem, da universidade de Coimbra, onde trocou a
licenciatura em Teologia, pela de Direito.
Nasceu em Freixo de Espada à Cinta,
Trás-os-Montes, em 1850 e morreu em 1923. Vai completar 93 anos a sua
ausência. Foi diplomata de carreira e impôs-se pela sua rudeza, pelo seu
inconformismo, pela sua deliberada vontade de reagir à hipocrisia urbana,
contra a submissão rural. Pertenceu a uma geração de notáveis pensadores, como:
Antero de Quental, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Aquilino Ribeiro, Cesário
Verde. Rebelde e destemido em relação aos hábitos, usos e costumes sociais do
seu tempo, exprimia essa discordância, irreverência e oposição ao cânone do seu
tempo, em livros rebeldes, como: A
velhice do Padre Eterno (1885), Pátria (1886), Os simples (1892), Finis Pátria
(1891), etc.
Após
ter-se assinalado em 2015 o centenário da exaltação do filósofo português José
Pereira de Sampaio (Bruno) através de um ciclo de palestras que tiveram lugar
no Ateneu Comercial do Porto, o
Movimento internacional de Porto e a revista Nova Águia, aliam-se, uma
vez mais, àquela centenária instituição da cidade Invicta para animar um novo
conjunto de encontros dedicados à cultura nacional e ao pensamento português.
Pretendeu-se com a “Junqueiriana” homenagear a figura de Guerra Junqueiro.
Poeta, filósofo, polemista e político, esta incontornável personalidade da
cultura portuguesa será o patrono deste novo ciclo de tertúlias a realizar
mensalmente no Ateneu Comercial do Porto, entre os meses de Janeiro e Junho do
corrente ano. Organizadas por Joaquim Domingues, Pedro Sinde e José Almeida,
estes encontros contarão ainda com as participações de Henrique Manuel Pereira,
Ângelo Alves, José Valle de Figueiredo, Júlio Amorim de Carvalho, Renato
Epifânio, entre outros.
No
próximo dia 18, sábado, pelas 17 h decorre naquele Ateneu mais um debate sobre
a «Ideia e Ritmo na poesia de Junqueiro» pelo ensaísta Júlio Amorim de
Carvalho, filho e promotor da Casa Amorim de Carvalho, sediada no Porto.
Na impossibilidade de estar presente trago a
este relato uma apreciação do próprio Junqueiro, saiu na edição da Pátria em
1896. Comparando a sociedade de hoje com aquela que fotografou há 120 anos,
diremos que só mudaram as moscas.
«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e
macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando
pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar
de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de
sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde
vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque
sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo
misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa
morta. […]Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não
descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo
homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros
e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a
falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa
sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente
inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do
executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado
absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas. Dois partidos sem
ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo
utilitarismo cético e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos atos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e
fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem
todos duma vez na mesma sala de jantar.»
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