Sul-coreana vence o Prémio Man Booker
José Eduardo Agualusa era um dos seis
finalistas e o representante da língua portuguesa que foi mais longe nesta
seleção até hoje.
Han Kang foi escolhida pelo seu romance A
Vegetariana, que está a ser traduzido para português pela editora D. Quixote,
estando até ontem previsto o seu lançamento em setembro, data que agora poderá
ser alterada. É a história de uma mulher que decide não comer mais carne, que
tem pesadelos noturnos e discussões familiares. Segundo o júri trata-se de um
romance "tão estranho como profundo".
Quando o nome da vencedora, Han Kang, foi
anunciado pelo presidente do júri do Prémio Man Booker Internacional já todos
tinham reparado na ausência de dois dos candidatos da lista final: Ohram Pamuk
e os editores italianos que representariam Elena Ferrante. Ou seja, os dois
autores estavam fora de uma corrida onde ainda permanecia o angolano José Eduardo
Agualusa, o dissidente chinês Yan Lianke, o austríaco Robert Seethaler e a
vencedora, a sul-coreana Han Kang.
O prémio do Man Booker é no valor de 50 mil
libras e é dividido igualmente entre o escritor e o tradutor. Os seis romances
que chegaram à final resultam de uma lista intermédia de 13 escolhas efetuadas
entre os 155 livros apresentados a concurso. Quanto à decisão do júri, ela foi
unânime.
Para o presidente do júri, Boyd Tonkin, o
romance de Han Kang é "compacto, belo e perturbador, que se insinuará nas
mentes e, provavelmente, nos sonhos dos seus leitores." Quanto à
tradutora, Deborah Smith, o seu trabalho foi considerado perfeito "ao
conjugar a beleza e o horror" do livro. A Vegetariana foi elaborado há dez
anos durante um curso de escrita criativa e é o seu primeiro romance a ser
editado em Inglaterra. Kang inspirou-se num conto que escrevera, A Fruta da
Minha Mulher, que relata como uma mulher se transforma literalmente numa
planta. "Quando terminei o conto, achei que precisava de trabalhar a história",
explica. Posteriormente, publicou um segundo livro, Human Acts.
Segundo José Eduardo Agualusa, que escutou uma
parte do livro narrada pela autora, o romance vencedor, A Vegetariana, é
"diferente, corajoso e uma proposta arriscada".
As últimas 24 horas de José Eduardo Agualusa
foram vividas ao minuto devido ao programa cronometrado que a cerimónia exige
dos convidados. "Quem ganhar isto vai sofrer imenso, o programa é muito
formal e na manhã seguinte tem dez horas de entrevistas já marcadas",
dizia ontem Agualusa ao DN. Aliás, a cerimónia é tão a rigor que o escritor
teve de alugar um fato à medida protocolar: "Vamos a ver se consigo vestir
esta coisa."
Apesar de não ter vencido esta edição do Man
Booker Internacional, José Eduardo Agualusa estava muito satisfeito:
"Parece que nunca se foi tão longe." Chegar à final não era assunto
que o preocupasse, confessou: "Nunca pensei muito nisso. Os livros
acontecem, os prémios surgem. A mim incomodam-me estes prémios, principalmente
os rituais. De resto, é bom porque conheço outros escritores e pessoas
interessantes." Quanto ao facto de ter estado numa lista tão pequena poder
dar mais divulgação aos seus livros, Agualusa concorda: "Isto é bom fora
das fronteiras da língua portuguesa, pois ajuda a novas traduções e a vender
mais exemplares nos países de língua inglesa." Chegar à short-list não
obrigará Agualusa a pensar na escrita para leitores internacionais: "Não,
nunca, isso não acontecerá. Não se pode começar um livro a pensar que irá
ganhar um prémio. O único fator de sucesso é acreditar numa determinada ideia e
a paixão pela escrita. Só isso funciona."
O romance de Agualusa, Teoria Geral do
Esquecimento, conta a história de uma mulher que se barrica num apartamento em
Luanda ao construir uma parede de tijolos, sendo que durante quase três décadas
alimenta-se do que planta na varanda até ao momento em que uma criança a faz
regressar à vida normal.
Fonte: Diário de Noticias
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