Barroso da Fonte |
Acabo de ler que «o Aeroporto da Portela
passará a chamar-se Aeroporto Marechal Humberto Delegado» dia 15 de Maio.
Deduzo que os políticos que temos, avessos a tudo o que cheira a passado,
entendem que os 110 anos do aeroporto de Lisboa, tal como aconteceu à Ponte
Salazar, são obras do fascismo que não os deixa ser felizes. A onda de
destruição está em marcha. E as surpresas vão continuar.
Quem está atento ao que se passa à nossa
volta recorda-se que, em 2012, foi celebrado em Guimarães o ano europeu da
Cultura. Para que tal banquete se cumprisse foram orçamentados pelo Estado e
pela União Europeia 107 milhões de euros. Foi um regabofe como tinham sido as
edições anteriores desse programa europeu.
Poderia apontar as manchas e maleitas das
edições portuguesas que até hoje foram palco
da capital «da Capital Europeia da Cultura» programas com sabor a fundos
comunitários.
Guimarães foi o terceiro mau exemplo. Como
foi aquela que menos verbas recebeu, apesar de
dispor de 107 milhões de euros que dariam para renovar, a face visível
do património urbano, em que tão rica é, lamentavelmente, quedou-se pelos
escândalos administrativos e pelas «obras de santa Engrácia». A única coisa que
correu bem, aos olhos do exterior e que aburguesou as cítaras do regime, foram
os holofotes televisivos da abertura e do encerramento. Eles bastaram para
deixar em quem não conheceu Guimarães, antes, durante e depois, desse «fiasco»,
o que foi essa fraude. Quatro anos depois, ainda não se sabe, ao certo, até onde
vai desaguar. E nunca se saberá.
Talvez por ser esta antiga vila a primeira
capital Portuguesa, de vez em quando, dá jeito invocar este feito
historiográfico para, com dinheiro fácil, dar nas vistas. Esse folclore quase
sempre resulta e, como não há juízes, nem elementos suficientes da Polícia
Judiciária para averiguar falcatruas que se comentam à boca cheia e que são
visíveis pelos sinais exteriores de riqueza, cada vez são, em maior número, os
casos de corrupção, ao mais alto nível. Aquilo que há décadas atrás se
enunciava como futurível, tornou-se no anedotário do século XXI: «o crime
compensa». Por isso não vale a pena lecionar-se nas escolas do ensino
secundário, a disciplina de religião e moral, nem sequer o manual das boas
maneiras, hoje entendido como cidadania.
No penúltimo ano de mandato presidencial
de Cavaco Silva, foi à Beira Alta, celebrar o dia de Portugal e das
Comunidades. Todos se recordam por que, talvez pela falta de ar, ou ar a mais,
até ocorreu, com ele, um episódio que todos lamentamos: um desmaio. Eu próprio
que sempre vi nele um cidadão probo e justo, fui Cavaquista incondicional. Como
à terceira é de vez, jurei não votar mais em sepulcros caiados por fora e
pútridos por dentro. Espero que o atual não seja mais um exemplo, embora já
ande a semear medalhas a mais, por quem nada fez para as receber. E falar em
excesso, ainda que sempre tenha sido um falador nato, também não indicia nada
de diferente, já que o povo deu a receita: «quem muito fala, muito
erra».Mudemos de tema para ver a sua viagem a Maputo, acaba com a chacina que
por lá continua, em detrimento da democracia.
Retomo a Capital Europeia da Cultura que teve
palco e visibilidade televisiva como tábua de salvação. E para dizer que o
então PR condecorou, nessa data nacional e nesse clima quixotesco, alguns dos
maiores corruptos que conheci e ainda conheço. Para ser coerente comigo
próprio, nas tribunas onde habitualmente colaboro, denunciei mais essa tremenda
injustiça. Possivelmente leu o PR essa denúncia. Mas o seu alto estatuto nunca
mais permitirá que um «escrevente» como eu lhe tire o sono.
Pretendo dizer que só neste último dia 25 de
Abril, Guimarães inaugurou a «Casa da Memória», que foi (pelo menos deveria ter
sido) construída com parte desses 107 milhões de euros, até fins de 2012. Até
hoje alguns materiais se estragaram com a falta de uso e com a erosão. Já
chegou a ter três diretores nomeados, sempre da fação do edil. E ainda ninguém
conheceu os verdadeiros fins para que foi criada a Casa da memória. O que se sabe
é que o autarca-mor dessa época deixou «monstros» e «mostrengos» por toda a
cidade. Alguns, como a plataforma das artes, mais parecendo uma cadeia sem
janelas, ficou às moscas, porque José de Guimarães, não pertencerá à lista dos
amigos privilegiados. E o seu nome foi-lhe dado, antes que a raiva do autarca
se tivesse manifestado. Essa obra custou 17 milhões, tanto como o orçamento
anual do 2º maior concelho rural onde nasci. O Largo do Toural que foi o palco
ideal para as televisões camuflarem o fracasso geral, custou sete milhões. A
novidade foi a grade dourada, onde os cães içam a perna para fazer as
necessidades. Mais do que isso valia o obstruído mapa de Portugal que fora
gravado no chão.
Para gáudio dos analfabetos que teimam em
hipotecar o que de melhor a cidade tinha, gastaram 17 milhões de euros para
delapidar a história: «1111 – 1185- Aqui nasceu Portugal»
Outros mostrengos: Espaço ASA com o laboratório de Curadoria,
Instituto do Design, a mansão da Rua da Rainha, o restauro do Hotel de P.
Machado, ainda ilegalizado e por isso sem uso...
Quando uma auditoria corajosa, profunda, isenta e séria se fizer aos
gastos com a «capital Europeia de Cultura, em 2012», talvez muito mais do que
destas afirmações possa inferir-se, se
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