quinta-feira, 5 de maio de 2016

Brincar aos aeroportos

 
Barroso da Fonte
Acabo de ler que «o Aeroporto da Portela passará a chamar-se Aeroporto Marechal Humberto Delegado» dia 15 de Maio. Deduzo que os políticos que temos, avessos a tudo o que cheira a passado, entendem que os 110 anos do aeroporto de Lisboa, tal como aconteceu à Ponte Salazar, são obras do fascismo que não os deixa ser felizes. A onda de destruição está em marcha. E as surpresas vão continuar.
Quem está atento ao que se passa à nossa volta recorda-se que, em 2012, foi celebrado em Guimarães o ano europeu da Cultura. Para que tal banquete se cumprisse foram orçamentados pelo Estado e pela União Europeia 107 milhões de euros. Foi um regabofe como tinham sido as edições anteriores desse programa europeu.
Poderia apontar as manchas e maleitas das edições portuguesas que até hoje foram palco  da capital «da Capital Europeia da Cultura» programas com sabor a fundos comunitários.
Guimarães foi o terceiro mau exemplo. Como foi aquela que menos verbas recebeu, apesar de  dispor de 107 milhões de euros que dariam para renovar, a face visível do património urbano, em que tão rica é, lamentavelmente, quedou-se pelos escândalos administrativos e pelas «obras de santa Engrácia». A única coisa que correu bem, aos olhos do exterior e que aburguesou as cítaras do regime, foram os holofotes televisivos da abertura e do encerramento. Eles bastaram para deixar em quem não conheceu Guimarães, antes, durante e depois, desse «fiasco», o que foi essa fraude. Quatro anos depois, ainda não se sabe, ao certo, até onde vai desaguar. E nunca se saberá.
Talvez por ser esta antiga vila a primeira capital Portuguesa, de vez em quando, dá jeito invocar este feito historiográfico para, com dinheiro fácil, dar nas vistas. Esse folclore quase sempre resulta e, como não há juízes, nem elementos suficientes da Polícia Judiciária para averiguar falcatruas que se comentam à boca cheia e que são visíveis pelos sinais exteriores de riqueza, cada vez são, em maior número, os casos de corrupção, ao mais alto nível. Aquilo que há décadas atrás se enunciava como futurível, tornou-se no anedotário do século XXI: «o crime compensa». Por isso não vale a pena lecionar-se nas escolas do ensino secundário, a disciplina de religião e moral, nem sequer o manual das boas maneiras, hoje entendido como cidadania.
No penúltimo ano de mandato presidencial de Cavaco Silva, foi à Beira Alta, celebrar o dia de Portugal e das Comunidades. Todos se recordam por que, talvez pela falta de ar, ou ar a mais, até ocorreu, com ele, um episódio que todos lamentamos: um desmaio. Eu próprio que sempre vi nele um cidadão probo e justo, fui Cavaquista incondicional. Como à terceira é de vez, jurei não votar mais em sepulcros caiados por fora e pútridos por dentro. Espero que o atual não seja mais um exemplo, embora já ande a semear medalhas a mais, por quem nada fez para as receber. E falar em excesso, ainda que sempre tenha sido um falador nato, também não indicia nada de diferente, já que o povo deu a receita: «quem muito fala, muito erra».Mudemos de tema para ver a sua viagem a Maputo, acaba com a chacina que por lá continua, em detrimento da democracia.
 Retomo a Capital Europeia da Cultura que teve palco e visibilidade televisiva como tábua de salvação. E para dizer que o então PR condecorou, nessa data nacional e nesse clima quixotesco, alguns dos maiores corruptos que conheci e ainda conheço. Para ser coerente comigo próprio, nas tribunas onde habitualmente colaboro, denunciei mais essa tremenda injustiça. Possivelmente leu o PR essa denúncia. Mas o seu alto estatuto nunca mais permitirá que um «escrevente» como eu lhe tire o sono.
 Pretendo dizer que só neste último dia 25 de Abril, Guimarães inaugurou a «Casa da Memória», que foi (pelo menos deveria ter sido) construída com parte desses 107 milhões de euros, até fins de 2012. Até hoje alguns materiais se estragaram com a falta de uso e com a erosão. Já chegou a ter três diretores nomeados, sempre da fação do edil. E ainda ninguém conheceu os verdadeiros fins para que foi criada a Casa da memória. O que se sabe é que o autarca-mor dessa época deixou «monstros» e «mostrengos» por toda a cidade. Alguns, como a plataforma das artes, mais parecendo uma cadeia sem janelas, ficou às moscas, porque José de Guimarães, não pertencerá à lista dos amigos privilegiados. E o seu nome foi-lhe dado, antes que a raiva do autarca se tivesse manifestado. Essa obra custou 17 milhões, tanto como o orçamento anual do 2º maior concelho rural onde nasci. O Largo do Toural que foi o palco ideal para as televisões camuflarem o fracasso geral, custou sete milhões. A novidade foi a grade dourada, onde os cães içam a perna para fazer as necessidades. Mais do que isso valia o obstruído mapa de Portugal que fora gravado no chão.
Para gáudio dos analfabetos que teimam em hipotecar o que de melhor a cidade tinha, gastaram 17 milhões de euros para delapidar a história: «1111 – 1185- Aqui nasceu Portugal»
Outros mostrengos:  Espaço ASA com o laboratório de Curadoria, Instituto do Design, a mansão da Rua da Rainha, o restauro do Hotel de P. Machado, ainda ilegalizado e por isso sem uso...
  Quando uma auditoria corajosa, profunda, isenta e séria se fizer aos gastos com a «capital Europeia de Cultura, em 2012», talvez muito mais do que destas afirmações possa inferir-se, se

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