Neste poema João de Deus Rodrigues faz
com arte e engenho de poeta um retrato social do país real em que nascemos e
vivemos. Pela sua oportunidade, e recordamos
por sugestão de pessoa amiga o poema que transcrevo:
“A chegada de "ET" modernos
Chegaram em
silêncio à capital do reino.
Não eram
personagens de contos de fadas,
Nem de contar
histórias para adormecer criancinhas.
Não. Eram
criaturas imponentes, com treino,
Para lidar com
situações embaraçadas,
Que só eles
estavam aptos a ver.
E cuja solução,
os sábios iluminados do reino
Não tinham
capacidades para resolver...
Trajavam fatos,
gravata, e chapéus,
Dos melhores
costureiros alemães e parisienses.
Transportavam
na mão malas inteligentes,
Programadas
para darem sábios conselhos,
Aos anfitriões,
novos e velhos,
Que os
receberam como enviados dos céus ...
A sua postura
era impecável perante os convidados,
Que os
aguardavam, reverentemente curvados,
E depois os
acompanharam aos aposentos, reservados,
Onde, sem
demora, analisara gráficos cerebrais,
Guardados a
sete chaves, dos ignorantes do mundo,
E lhes
apontaram os caminhos a seguir, como aos demais,
Para
urgentemente tratarem do "doente moribundo" ...
Imperturbáveis,
senhores do seu saber e poder,
Deram início à
reunião, começando por dizer:
Vexas, cortam
aqui e ali, encerram ali e além...
Tiram
funcionários daqui, e para o seu lugar
Não vai
ninguém.
Mudam regras,
acordos, decretos-lei, leis e projectos...
Despedem operários,
engenheiros e arquitetos.
Fecham
hospitais, maternidades e desperdícios que tais...
Médicos e
enfermeiros mandam-nos emigrar,
Que são demais
...
Aos estudantes,
licenciados, cientistas e doutores,
Recomendam-lhe
a China, para aprenderem a ser senhores...
E quanto aos
outros trabalhadores, honestos profissionais,
Obrigam-nos a
laborar mais horas. sem receber mais ...
Aos
funcionários públicos exigem que sejam asseados,
Obedientes,
aplicados e dedicados,
E só lhes
tiram, agora, uma parte dos ordenados ...
Aos outros
Agentes do Estado tiram-lhes subsídios, regalias,
O chá, o café,
todo o tipo de papel e outras mordomias...
Aos
pensionistas e reformados exigem juízo!
E dizem-lhe
para não serem caducos.
Porque, até
ver, não vão ficar malucos...
E, desde já,
seja imposta esta regra de oiro
A toda a
população em geral:
Nunca dizerem
em situação alguma, não.
Porque esse
maldito palavrão não faz parte
Da nossa receita,
ética.
Para salvar o
bem-estar de uma Nação ...
E quanto ao
mais, aqui omisso, digam que fomos nós
Que mandámos
fazer isto, para bem de todos vós,
E que somos
"ET" e não falamos a desconhecidos.
E se nos
chatearem, vamo-nos embora
E ficam todos
perdidos
E na
ignorância, permanente,
Neste limbo
em que estão metidos...
Porque não têm habilitação,
sequer, para lavrar a terra,
Nem semear as
hortas. E, por isso,
Podem ficar,
até, sem os tomates,
Os nabos, as
cebolas, os repolhos e o pão, como na guerra ...
Portanto tenham
cuidado, porque nós, os "ET",
Vamos estar em
todo lado e ninguém nos vê...
E vamos
vigiá-los noite e dia, permanentemente,
Para vermos, a
partir de agora,
Quem mais
mentiu ou mente ...
E findos estes sábios
conselhos , a bem da Nação,
Todos os
presentes ali reunidos,
Rejubilaram de
alegria e brio.
E na Praça da
Canção,
Camões deixou
cair os Lusíadas ao chão,
E no palácio,
abriram-se as portas
Para entrar a corrente,
fria, do rio.
In MEMÓRIAS E
DIVAGAÇÕES”.
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