Porque o que ele aqui escreve me interessa e preocupa, traduzo excertos de um texto de Theodor Holman, um dos meus cronistas favoritos, publicado no passado dia 1 no jornal holandês Het Parool com o título De nieuwe veelzijdigheid (O novo multilateralismo).
"Em vários artigos, e na conferência que em 2012 proferiu em Nijmegen, Umberto Eco, assinala a diferença entre imigração e migração. Diz ele: 'Trata-se de imigração quando um determinado número de indivíduos (…) muda de um país para outro. (…) Tudo o que tem a ver com a imigração pode ser controlado, limitado, planeado ou estimulado ao nível político. Com as migrações o caso é diferente. Sejam elas violentas ou pacíficas, são comparáveis aos fenómenos da Natureza: nada e ninguém as pode influenciar quando ocorrem." (Cinque scritti morali, 1997).
Na sua conferência avisou ainda que a Europa se pode tornar como Nova Iorque, onde várias culturas existem lado a lado, mas sem se misturar. "O problema já não é se devemos decidir se as estudantes das universidades parisienses podem usar o chador, ou quantas mesquitas poderão ser construídas em Roma. O problema é que, na próximas décadas, a Europa será um continente inevitavelmente multirracial, ou, se acharem melhor, um continente "colorido."
Eco prossegue avisando acerca do racismo, que considera o pior dos males.
No que respeita a atitude a tomar para com a migração, não vê saída, propondo: "Deve ser possível decidir acerca do modo como poderemos aceitar o novo multilateralismo de hábitos e valores, sem sacrificar o que temos de melhor na herança cultural europeia."
E é isso, precisamente, o que interessa. O que é que temos de melhor na herança cultural europeia? Que valores queremos manter? De que valores e costumes estaremos disposto a abdicar?
Pessoalmente, nada quero abdicar das liberdades de que gozo, pois já muitas fui obrigado a perder. Mas não me surpreenderá se for na liberdade que irão cortar. Porque a liberdade, sobretudo a liberdade individual, não é um produto popular.
E não acredito quando Eco diz que poderemos decidir sobre os valores que queremos manter.
Isso será determinado pela maioria. E que maioria vai ser essa? "
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